𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐗𝐗𝐕𝐈𝐈𝐈

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Tantas manhãs eu acordei confusa

Nos meus sonhos eu faço tudo que quero com você

Minhas emoções estão nuas, elas estão me deixando louca por você

Neste momento

Eu não tenho vergonha

Gritando a plenos pulmões por você

Não tenho medo de enfrentar isso

Eu preciso de você mais do que queria

Preciso de você mais do queria

Me mostre que você não tem vergonha

Escreva no meu pescoço

Por que não?

E eu não vou apagar

Eu preciso de você mais do que queria

Preciso de você mais do que queria.

~Camila Cabello


Passo os dedos em meus cabelos, observando minha figura no espelho, a cada dia que se passava, assumo eu que acabo por me parecer mais e mais com mammina. O closet era espaçoso, com móveis amadeirados e paredes brancas, um lustre de luz amarela era presente no meio do forro. Ainda há coisas fora de seu determinado lugar, mesmo depois de seis meses aqui, sequer tive tempo de organizar meus espaços pessoais.

Algumas caixas de saltos e bolsas de grife eram empilhados ali, passo o olhar por minha bagunça, enrugando o nariz, agoniada com aquela desorganização. Raios solares atravessaram a janela aberta do local, iluminando uma caixa específica que prendeu minha atenção.

A caixa de mammia.

Abri essa caixa há muito tempo atrás, foi a única coisa que o corpo de bombeiros conseguiu resgatar do fogo, naquele fatídico dia. 

Me aproximo daquele objeto que por anos eu não chegava perto, me agacho, agora podendo ver nitidamente os detalhes. A caixa é de madeira escura, desgastada pelo tempo, com marcas de uso e talvez algumas rachaduras, mas ainda robusta. Ela tem um fecho simples, mas firme, com a letra "R" desenhada perto do fecho, passo meus dedos ali, por algum motivo sentindo calafrios. Pego a caixa, com as mãos já suando de ansiedade, a ponho em cima da cama, ainda presa em seus detalhes. 

Eu abri esta caixa uma única vez, depois que minha mãe se foi. Apenas por medo, medo do sentimento de perda, medo do sentimento de falta.

Respirei fundo antes de abrir o fecho, como se estivesse me preparando para desenterrar fantasmas do passado. Quando a tampa se abriu, o cheiro de papel antigo misturado com um leve toque do perfume que minha mãe usava invadiu meus sentidos. Eu fechei os olhos por um instante, permitindo que aquelas lembranças me envolvessem. Abro os olhos, voltando para a realidade, podendo observar agora uma pilha de envelopes, todos amarelados pelo tempo, com a caligrafia inconfundível de minha mammina. Meus dedos tremiam enquanto pegavam o primeiro envelope, virando-o nas mãos antes de abrir. A carta dentro estava escrita em italiano, a língua que ela sempre usava para as coisas mais importantes, nossa língua nativa.

"𝒞𝒶𝓇𝒶 𝓂𝒾𝒶, 𝒾𝓁 𝓉𝑒𝓂𝓅𝑜 𝑒 𝒷𝓇𝑒𝓋𝑒..."

As palavras flutuavam na minha mente, familiares, mas carregadas de um peso que eu não conseguia compreender completamente. Minha mãe estava falando de algo urgente, de um perigo que se aproximava. Havia uma pressa em suas palavras, como se ela estivesse tentando alertar algo. 

𝕾𝐂𝐎𝐑𝐏𝐈𝐎𝐍𝐄 𝐃'𝐎𝐑𝐎 • 𝐕.𝐇Onde histórias criam vida. Descubra agora