𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐗𝐗𝐕𝐈𝐈

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E não há remédio para as lembranças

Seu rosto é como uma melodia

Que não sai da minha cabeça

Sua alma está me assombrando e me dizendo

Que está tudo bem

Mas eu queria estar morta (morta, como você)

Toda vez que fecho os meus olhos

É como um paraíso sombrio

Ninguém se compara a você

Tenho medo de você

Não estar me esperando do outro lado.

~Lana Del Rey


𝐒𝐄𝐈𝐒 𝐌𝐄𝐒𝐄𝐒 𝐃𝐄𝐏𝐎𝐈𝐒.

Estou caminhando por um corredor escuro. O som dos meus passos ecoa, mas são abafados pelo peso da escuridão ao meu redor. Sei que estou sozinha, mas sinto sua presença em algum lugar próximo. É como se ele estivesse me observando, esperando o momento certo para enfim se revelar. Meu coração acelera, e, de repente, o corredor se abre para um campo aberto, com o céu pintado em tons de cinza e azul, como se a noite estivesse prestes a se despedir. Ali, no meio do campo, está ele de pé, esperando por mim. O braço onde disparei uma bala, jorrava sangue, seus olhos avelã eram silenciosos, dolorosos. Seu corpo parecia fragilizado, totalmente indefeso. Tento falar, mas as palavras não saem, sinto meus olhos lacrimejarem. Tudo o que posso fazer é caminhar em sua direção. E, por um momento, parece que finalmente vou alcançá-lo, que posso tocar nele, sentir sua presença de verdade.

Mas há algo entre nós, algo invisível e intransponível, que me impede de alcançá-lo. Ele estende a mão para mim, como se eu fosse a sua cura, e eu, sinto uma urgência desesperada de segurá-la, de não deixá-lo escapar de novo. Mas quando estou a um passo de tocá-lo, o sonho se desfaz como areia entre os dedos.

Por que não consigo me libertar de você?

Passo as mãos pelo cabelo, tentando me recompor de minha respiração pesada. Observo em volta, a escuridão do quarto me sufoca, me levanto e vou até a varanda. Deslizo as portas de madeira, revelando-me a noite ainda dominante, mas o horizonte já começando a se aparecer com os primeiros sinais do amanhecer. Aquela vista é capaz de acalmar meus nervos, minha mente. Ponho as mãos na grade de madeira, fechando meus olhos e respirando fundo, sentindo a brisa pouco fria levar meus cabelos para trás.

É sempre assim. Toda vez que me aproximo, ele desaparece. E eu fico ali, sozinha, com o vazio crescente dentro de mim.

Esses sonhos tem se tornado uma rotina recorrente, passei a fazer sessões de meditação para ter algum tipo de melhora, mas nada se resolve. É como uma maldita doença, uma praga que atormenta-me desde o dia que pus meus pés na China. Estou farta disto, de me encontrar pensando nele todo dia ao amanhecer.

Uma onde de raiva ultrapassa meus nervos antes relaxados, bato fortemente minha mão na grade onde me apoiara. A madeira maciça tinha uma farpa solta, onde minha mão colidiu e acabou por cortar minha pele ali.

_Maledizione... -murmuro ao ver a fina corrente do líquido escarlate descer sob meu pulso.

Observo o contraste entre a palidez de minha pele com o vermelho vivo de meu sangue. Esta imagem acaba por lembrar-me que, ainda sou humana.

𝕾𝐂𝐎𝐑𝐏𝐈𝐎𝐍𝐄 𝐃'𝐎𝐑𝐎 • 𝐕.𝐇Onde histórias criam vida. Descubra agora