𝕾𝐂𝐎𝐑𝐏𝐈𝐎𝐍𝐄 𝐃'𝐎𝐑𝐎 • 𝐕.𝐇

𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐗𝐗𝐗𝐕

As palavras que não te falei

estão em meus olhos.

~Daarte

O templo era monumental. O peso da história estava em cada pedra, em cada símbolo ancestral entalhado nas paredes. Estava ali, acima das montanhas de Guilin, como um monumento eterno à tradição da Máfia Chinesa. As sombras dos grandes salões me lembravam de que, mesmo no comando, eu era um estrangeiro. Eu estava ocupando um lugar que não era meu por direito, mas sim por conquista. E todos, entre os ecossistemas das gerações passadas, eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, precisaria me provar.

Eu caminhava pelos corredores, ouvindo apenas o tocar de alguns sinos e dos soldados lá fora. A herança de Zhiyuan estava em cada detalhe daquele lugar, e eu sabia que o Clã ainda carregava feridas pela morte do antigo Líder. Eles poderiam me seguir agora, mas eu ainda preciso entender o fundo do que isso fez — especialmente as alianças e as lealdades que eu herdara.

Quando entrei na sala principal, encontrei Ren Li, um dos conselheiros mais antigos de Zhiyuan. Ele estava em pé, imóvel, com a calma de alguém que já viu muitos Líderes virem e irem. Os olhos de Ren Li eram refinados, como se já soubesse o que eu estava pensando antes mesmo de dizer qualquer coisa.

-Senhor Vincent. -disse ele, inclinando levemente a cabeça- O novo Líder. Espero que esteja se acostumando ao poder que o Clã carrega.

Eu o encarei, avaliando suas palavras. Havia algo de ambíguo naquela frase, mas decidi não morder a isca.

_Estou me acostumando. -respondi, a voz controlada, quase distante, enquanto cruzava os braços sobre o peito.- Mas creio que preciso entender tudo o que isso realmente significa. O Clã, as tradições, as alianças... Há coisas que ainda estão obscuras para mim.

Ren Li esboçou um sorriso sutil, como se soubesse que essa pergunta era um passo necessário. Ele se moveu em direção a uma mesa coberta de pergaminhos, seus dedos deslizavam pelas páginas como se estivessem revivendo memórias antigas. As suas mãos eram ágeis, e a forma como manipulava os documentos demonstrava uma conexão com a história do Clã.

-O Clã Chinês é um organismo complexo -começou ele, sua voz carregada de reverência. Ele não estava apenas falando; cada palavra parecia ter um peso adicional, como se estivesse transmitindo uma herança. - Temos um legado que se estende por gerações. As tradições que seguimos moldam não apenas nossa identidade, mas também a maneira como nos relacionamos com outros grupos, incluindo alianças e rivalidades.

Enquanto Ren Li falava, eu observava cada movimento seu. Ele gesticulava suavemente, com as mãos se movendo em um ritmo que parecia ditar a cadência de suas palavras. Franzi a testa, meu olhar fixo no chão de pedra. os envolvidos em jogos políticos me intrigava, mas também provocava um leve desconforto.

_Quer dizer que isto é uma questão de sobrevivência? — questionei, inclinando ligeiramente a cabeça. Ren Li não se abalou, mantendo-se firme.- O que mais está em jogo aqui?

-Precisamos de mais do que só a força bruta. - respondeu, sua voz ecoando nas paredes, como se cada palavra fosse um eco de conselhos ancestrais.- Precisamos de inteligência, astúcia. O Clã possui operativos em vários setores: política, comércio, segurança. Influenciamos decisões que podem mudar o curso de regiões inteiras.

Absorvi suas palavras em silêncio, a gravidade da situação me pesando. Mantive os músculos relaxados, mas a tensão no meu abdômen crescia. Quando levantei os olhos, vi que Ren Li estava me observando, aguardando minha reação. A intensidade do olhar dele me desafiava a me abrir.