Capítulo 1

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Os dias quentes me deixavam com um péssimo humor. O ônibus estava lotado de manhã e eu vim espremido no meio daquele monte de gente suada. Nunca desejei tanto ter um carro, assim não precisaria passar por isso todos os dias.


E pensando nisso, encaro os milhares de papéis espalhados pela mesa da cafeteria onde eu geralmente venho antes das aulas. Tirei todos os meus cadernos e apostilas da bolsa para procurar o tema de um trabalho que foi passado na aula, o qual eu não lembro onde anotei. Talvez esteja na hora de tomar vergonha na cara e comprar uma agenda.

Bebo meu café e encaro a mesa bagunçada, desistindo de procurar. Olho pela janela da cafeteria e me distraio enquanto observo o movimento do lado de fora.

Hoje eu cheguei relativamente cedo justamente para me organizar melhor, preciso anotar tudo que tenho que fazer antes do fim do semestre. Estou surtando. É tanta coisa que eu começo a me desesperar e pensar em trancar a faculdade e voltar a morar com a minha mãe.

Tudo bem, não é para tanto, mas eu realmente estou desesperado.
Enquanto observo o movimento na cafeteria, um garoto que entra no local chama a minha atenção.

Eu nunca tinha o visto antes e, se vi, não me lembrava, o que não é uma surpresa já que a faculdade era enorme. As únicas pessoas que eu tenho contato são as do meu próprio curso.

O tal garoto parece com pressa ou ansioso, checa o celular várias vezes e suspira, irritado. Passa os olhos pelo local e seu olhar encontra o meu e eu, envergonhado por ter sido pego, volto a atenção para o meu café.
Constragedor.

Quando olho pra frente o garoto está indo embora. Suspiro.
Desde que eu entrei na faculdade nunca me envolvi com ninguém. Eu não costumo ir as festas porque sempre tenho que estudar e acabo não especializando muito. No começo eu fiquei afim de um cara da minha classe, Chan, ele é muito bonito. Mas com o passar do tempo ficamos amigos e agora que eu conheço ele de verdade, é estranho pensar na possibilidade de sermos mais que isso. Fora que o fato de ele ser do mesmo curso que eu não daria certo.

Sempre achei que pessoas muito parecidas não funcionariam juntas, pelo menos não no meu caso. E o Bang Chan é muito parecido comigo.

E é nisso que se resume a minha vida amorosa nesses últimos anos: sem festas, sem encontros e sem namoros. Na verdade, minha adolescência também não foi diferente disso, o que significa que eu nunca cheguei a ter uma vida amorosa realmente.

Com isso, vejo o horário no celular e percebo que já está quase na hora da aula. Recolho todos os papéis da mesa e os guardo na minha mochila, fazendo uma nota mental de passar na papelaria e comprar uma agenda, indo direto para o caixa.

Enquanto pego o dinheiro na carteira noto que alguém esqueceu o celular no balcão. Ligo a tela mas não tem uma foto do dono, apenas uma paisagem aleatória. Penso se devo deixar com o atendente da cafeteira ou se eu mesmo devolvo já que pode ser do garoto que acabou de sair. Escolho a segunda opção e guardo o celular na bolsa para procurar o dono depois.

O almoço na faculdade era um verdadeiro caos. É muita  gente circulando, os preços são absurdos e é muito barulhento. Claro que não é como o ensino médio, mas não passa longe. As vezes tenho vontade de pegar meu lanche e me trancar no banheiro, como em Meninas Malvadas. Mas - felizmente - eu sempre tenho companhia no almoço e ela se chama Seungmin, que inclusive tinha acabado de sentar na minha frente.

De vez em quando eu também almoçava com o Chan, Seung achava ele meio esquisito sem nenhuma razão aparente.

- Oi Hannie! Desculpa a demora, a fila do almoço estava grande hoje.

Seungmin além de ocupar o posto de meu melhor amigo também divide o apartamento comigo. Nos conhecemos no fundamental mas nos tornamos melhores amigos mesmo no ensino médio e, desde então, tem sido assim.

Por coincidência, entramos na mesma faculdade, então decidimos morar juntos, já que bancar as despesas sozinho é muito difícil e nenhum de nós estava disposto a viver em uma república.

- Tudo bem, por sorte, hoje eu trouxe comida de casa, assim não preciso ficar nessa fila imensa para comer algo que vai me matar daqui alguns anos - digo.

- Ei! Não fale mal do meu almoço. Você só está com invenja do meu hambúrguer delicioso - ele diz dando uma mordida no hambúrguer que realmente parecia muito bom.

Eu não sou maluco por dieta nem nada. Comer coisas saudáveis não significa que eu nunca como hambúrgueres deliciosos e gordurosos, apenas não como todo dia. Não quero bancar o estudante chato de medicina mas acho que devemos cuidar da saúde, principalmente
se você quiser passar dos trinta.

- Não vai atender o celular?
Olho confuso para meu amigo, meu celular estava bem em cima da mesa e não estava tocando.
Mas é óbvio!

Deve ser o celular que eu encontrei hoje de manhã.
Procuro na bolsa e atendo, rapidamente, ouvindo uma voz masculina do outro lado da linha.

The Proposal | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora