Capítulo 26

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Sabe quando algo acontece e você fica repassando esse momento sem parar na sua cabeça? Eu estava fazendo isso a mais ou menos meia hora ao invés de dormir. Para ajudar, eu tinha que lidar com o Minho deitado ao meu lado e ainda por cima não conseguia desviar meu olhar dele. Por sorte, ele estava dormindo, não seria nada interessante se ele me pegasse o observando desse jeito.

O fato de ter quase rolado um beijo entre nós estava me apavorando. Ainda teve todo aquela história do buquê e, como se não pudesse piorar, eu não sabia como agir perto dele agora. Minho, ao contrário de mim, agia como se nada tivesse acontecido, ou melhor, quase acontecido.

Não sei o que faço agora. Estava acostumado a falar com o Minho quando tinha um problema
e não posso falar com ele sobre isso. Seria bem embaraçoso.

Seung!

Já é um pouco tarde mas preciso falar com alguém agora. Desço as escadas tentando fazer o mínimo de barulho possível, o que era difícil já que eu consigo esbarrar em todas os moveis no meu caminho. Felizmente, chego na varanda sem acordar ninguém. Me sento nos degraus e pego meu celular, digitando o número da Seung.

- Eu espero que seja algo realmente importante
para você estar me ligando uma hora dessas. - Ele atende o celular no terceiro toque e eu consigo notar a irritação em sua voz.

- Eu sei que está tarde mas precisava falar com
alguém sobre o que está acontecendo. - Eu digo.

- Tudo bem. Você já me acordou mesmo, pode começar a falar. - Ele diz e eu suspiro antes de
organizar os fatos mentalmente para poder explicar a situação.

- Não sei o que está acontecendo comigo, Seung. Hoje, no casamento, eu e Minho quase...nos beijamos. - Digo e ele permanece em silêncio, provavelmente absorvendo a informação para depois surtar.

- Eu sabia. Sabia que essa ideia de relacionamento de mentira acabaria nisso. - Ele diz animado.

- Você não me ouviu? Quase nos beijamos. Quase. Não chegou a acontecer nada de verdade.

- A questão é: você queria que tivesse acontecido algo, Han? Você gosta do Minho? - Sou surpreendido por suas perguntas. Eu não tinha pensado nisso, na verdade. Fiquei focado no possível beijo mas não pensei na possibilidade de ter sentimentos por Minho. Isso é ainda pior.

- Eu não sei Seung. - Eu suspiro e encaro as ondas no mar. O vento gelado bate no meu rosto e eu me encolho pelo frio. - Ele tem se mostrado diferente do que eu pensava, me ajudou durante esses dias e foi quase como um namorado de verdade.

- Ele pode ser seu namorado de verdade, Seung.
Como você mesmo disse, quase se beijaram, então ele deve estar interessado também.

- Aqui tem toda essa história de namoro. O que
vai acontecer quando voltarmos para a realidade? Quando ele não precisar mais fingir que estamos juntos? Talvez ele só tenha tentado me beijar para manter as aparências. - Concluo um pouco decepcionado.

- Não não não. - Ele responde rapidamente. - Eu sei o que você está fazendo Han Jisung. - Ele me repreende e eu consigo visualizar um olhar julgador em seu rosto. Eu sempre era alvo desses olhares.

- O que eu estou fazendo? - Pergunto.

- Fingindo que não tem nada acontecendo para não ter que lidar com problemas.

- E se realmente não tiver nada acontecendo e eu só estou sendo paranóico?

- Tem sempre essa possibilidade. Mas você não vai descobrir se ignorar toda a situação.

- Tudo bem. - Suspiro derrotado. - E o que você
sugere que eu faça? - Pergunto e ela leva um tempo para responder.

- Só tente organizar seus pensamentos. Você
precisa de um tempo para entender o que está
sentindo. E quanto o Minho, talvez você devesse conversar com ele.

- E dizer o que? E aí, Minho? Sabe, estou
surtando porque posso estar nutrindo sentimentos por você. - Eu debocho.

- Talvez uma abordagem menos direta seria melhor. - Ele ri. - É sério, Han. Fale com ele quando se sentir a vontade.

- Ok. Obrigado pela consulta de graça às - olho o horário no celular - duas da manhã.

- Não pense que isso não vai te custar nada,
querida. - Ele diz e eu rio.

- Tchau, Seung. Te vejo amanhã. - Me despeço.

- Até amanhã.

Termino a ligação e continuo olhando para o
nada, refletindo o que vou fazer da minha "vida
amorosa". A verdade é que eu não sei como
descobrir o que estou sentindo. E se, mesmo
depois de ter certeza que eu gosto do Minhi, ele não sentir o mesmo? Não quero me iludir muito
e depois acabar me magoando.

Distraído com os meus pensamentos, não percebo a presença de outra pessoa ali.

- Pai? - Pergunto vendo a sombra do seu corpo
parada próxima a porta.

- Oi, filho. Vim tomar um ar, não sabia que também estaria aqui. - Ele diz e se aproxima, sentando-se do meu lado.

- Perdi o sono. - Respondo dando ombros.

- Sabe, Ji. Me sinto muito mal com essa situação, eu realmente queria que fosse diferente. - Devido a proximidade, sinto o cheiro de álcool. Eu o vi bebendo mais cedo no casamento.

- Do que você está falando? - Perguntando mesmo sabendo ao que ele se referia.

- Eu sei que estou longe de ser um pai presente. Sinto que não sou mais parte da sua vida e do seu irmão.

É porque não é, pai. Eu penso. Não vale a pena
dizer isso. Ele só está falando essas coisas e
sendo sentimental porque está alterado pelo
álcool. Amanhã não se lembrará de nada disso. Por isso, permaneço em silêncio, esperando que ele se canse e vá dormir.

- Eu queria ser um pai melhor. - Ele continua e eu suspiro, frustrado. - Parece que eu não te conheço mais, filho. - Diz choroso e eu o encaro incrédulo. Se alguém deveria estar se lamentando aqui, esse alguém sou eu, não ele.

- Você nem tenta, pai. Você nem tenta. - Digo e me levando, seguindo para o quarto enquanto sinto lágrimas caírem pelo meu rosto.

Me deito na cama e fecho os olhos. Eu não sabia se estava chorando por raiva ou tristeza. Talvez os dois. Eu sentia a mágoa me corroendo por dentro.

- Han? - Minho me encara com um misto de curiosidade e preocupação e só então percebo que ele estava acordado. - Por que está chorando?

- Eu tive um conversa com o meu pai. - Digo. Não preciso explicar muito pois vejo que ele entendeu o que eu quis dizer. Gosto disso nele. As vezes, eu não preciso dizer muito para que ele saiba o que estou pensando.

Ele não diz nada. Apenas se aproxima e me
envolve em um abraço enquanto passa as mãos, carinhosamente, pelo meu cabelo.

- Obrigado. - Eu digo antes de pegar no sono.

The Proposal | MinsungOnde histórias criam vida. Descubra agora