Falta pouco tempo

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Naquela noite, Theodora estava na casa de Leocádia, sentada confortavelmente na poltrona favorita da futura cunhada, como se fosse dona do lugar. Vó Berta, sempre animada e atenta a tudo, estava  conversando com Theodora enquanto Leocádia e Theobaldo observavam a interação.

— Já estava mais do que na hora deles se casarem. — Berta comentou com um sorriso. — Nem acredito que finalmente esse dia chegou! E, pelo visto, você já ficou sabendo que Leocádia está esperando...

— Vovó! — Leocádia interrompeu rapidamente, seus olhos faiscando em direção a Berta.

Berta, fingindo não perceber o incômodo de Leocádia, continuou:

— Como eu dizia, espero que Leocádia mude um pouco depois de se casar com Theobaldo. Ela precisa aprender a ser mais flexível.

Leocádia já começava a sentir a irritação crescendo dentro de si. Mas antes que pudesse responder, Theodora, que estava claramente à vontade demais, aproveitou a deixa para dar sua própria opinião:

— Espero que ela aprenda a não ser tão teimosa e saiba reconhecer quando está errada. — Theodora disse com um sorriso levemente sarcástico. — Aliás, há tantas coisinhas em que Leocádia poderia melhorar, não é? Um pouco mais de paciência, menos rabugice, e quem sabe aprender a ser um pouco mais... tolerante?

Leocádia sentiu o sangue ferver. Theodora, sempre metida e abusada, tinha o dom de a tirar do sério. E o fato de estar esparramada em sua poltrona só tornava tudo ainda pior.

Ao lado de Theobaldo, Leocádia se inclinou discretamente e sussurrou em seu ouvido:

— Não sei se vou aguentar ela por muito mais tempo...

Theobaldo, percebendo o tom ácido de Leocádia, tentou acalmá-la, mas ele próprio estava começando a perder a paciência com sua irmã.

— Até eu estou ficando sem paciência, Leocádinha — ele sussurrou de volta, o tom um pouco mais sério do que de costume. — Talvez seja o nervosismo do casamento, mas depois de amanhã ela já vai.

Enquanto isso, Theodora e Berta continuavam conversando animadamente, alheias ao que se passava entre o casal. Leocádia precisava manter a calma, pelo menos por mais um dia. Amanhã seria o grande dia, e não deixaria que ninguém estragasse isso, nem mesmo Theodora.

Leocádia tentou se controlar, mas logo sentiu um enjoo repentino e teve que se levantar com urgência. Correu para o banheiro, deixando Theobaldo preocupado e Theodora  com uma expressão confusa.

No banheiro, Leocádia se ajoelhou diante do vaso sanitário, o enjoo da gravidez tornando-se insuportável. Sentia-se fraca e enjoada, lutando para manter o controle. Quando finalmente conseguiu se acalmar um pouco, deu uma breve olhada no espelho, tentando esconder o desconforto.

Enquanto isso, Theobaldo bateu à porta do banheiro, com um tom preocupado:

— Leocádia, você está bem?

Leocádia, ainda com dificuldade e visivelmente irritada, respondeu:

— Só um enjoo... Não se preocupe.

Ele entrou no banheiro, ajudando-a a se levantar e a se apoiar. Leocádia estava claramente incomodada, e sua paciência estava se esgotando.

— Eu não vou deixar você passar por isso sozinha. Vamos dar um jeito nisso. — Theobaldo disse, com a voz cheia de preocupação e carinho.

Leocádia sorriu fraco, mas sua irritação estava visível.

— Obrigada, Theobaldo. Mas não precisava... — Ela começou a dizer, antes de ser interrompida por uma batida na porta do banheiro.

Theodora entrou, com uma expressão de curiosidade e preocupação.

— O que aconteceu com você, Leocádia? Está tudo bem?

Leocádia lançou um olhar impaciente para Theodora, sem muita vontade de explicar.

— É só um enjoo... — Leocádia respondeu, tentando manter a calma, mas sua voz estava carregada de frustração.

Theobaldo, tentando suavizar a situação, interveio:

— Deve ser algo que ela comeu. Não se preocupe, Theodora. Vai passar logo.

Leocádia, com um suspiro, se levantou e começou a sair do banheiro, tentando recuperar a compostura.

— Vou me sentar um pouco. — Ela disse, passando por Theodora com uma expressão cansada.

Theobaldo a acompanhou de volta para a sala,  Leocádia se sentou com um leve desconforto, enquanto Theobaldo permaneceu ao seu lado, oferecendo apoio silencioso.

Theodora observou, com uma expressão que misturava preocupação e um toque de curiosidade.
Theodora, ainda com um olhar investigativo, notou o anel de Leocádia e fez uma pergunta:

— Leocádia, você está usando o anel da a
vovó ?

Theobaldo confirmou, com um sorriso:

— Sim, o anel pertence à nossa avó. Dei a ela como presente.

Berta, ouvindo a conversa, comentou com um sorriso:

— Que lindo gesto, Theobaldo. É um presente muito especial.

Theodora, com um tom de aprovação, acrescentou:

— Meu irmão é um verdadeiro cavalheiro.

Leocádia, já sem paciência, sussurrou para Theobaldo, com um tom que misturava irritação e cansaço:

— Vou descansar no  quarto, antes que eu acabe batendo em alguém.

Theobaldo a olhou com compreensão e, ao vê-la se afastar, a acompanhou para garantir que ela estivesse confortável. Quando voltaram para a sala, Berta e Theodora continuavam conversando, sem notar a tensão recente.

Mais tarde, enquanto se preparava para a noite, Theobaldo pensou consigo mesmo sobre o comportamento irritado de Leocádia. Ele se perguntava se a irritação dela estava relacionada à gravidez e se havia algo mais que ele pudesse fazer para ajudar. Com um suspiro, ele decidiu que faria o possível para tornar o próximo dia, o dia do casamento, o mais tranquilo e especial possível para ela.

Theocadia- Tentando Quebrar o Feitiço do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora