O dia da ultrassonografia

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Leocádia estava mais irritada do que o normal naquela manhã. O desconforto da gravidez parecia ter atingido um novo pico, e ela mal podia esperar para que a consulta de ultrassonografia terminasse. Theobaldo, sempre atento, caminhava ao lado dela no corredor do hospital, tentando acalmá-la, mas sem muito sucesso.

— Eles deviam ter feito isso mais rápido — resmungou Leocádia, acariciando a barriga enquanto sentia mais um chute. — Estou farta de esperar por médicos ordinários!

Theobaldo, tentando ser o mais gentil possível, colocou a mão no ombro dela.

— Calma, minha prometida. Logo saberemos mais sobre o bebê, e quem sabe isso alivie um pouco essa ansiedade.

— Ansiedade? Estou com os nervos à flor da pele, Theobaldo. Se esse bebê chutar mais uma vez... — resmungou ela, franzindo o cenho. — Eu juro que faço uma poção para deixar ele quieto!

Logo chegaram à sala de ultrassonografia. O médico entrou com um sorriso calmo, o que irritou Leocádia ainda mais.

— Bom dia, casal! Prontos para ver o bebê? — disse ele, ignorando a expressão azeda de Leocádia.

Ela apenas assentiu de maneira impaciente, e Theobaldo sorriu, tentando manter o clima leve.

O médico aplicou o gel frio na barriga de Leocádia, o que fez com que ela se mexesse desconfortavelmente na maca. Logo, o aparelho começou a mostrar imagens do interior de sua barriga na tela.

O silêncio durou apenas alguns segundos antes de o médico franzir as sobrancelhas, parecendo um pouco confuso. Ele ajustou o aparelho e, em seguida, sorriu.

— Bem... parece que temos uma surpresa aqui.

Leocádia, que já estava impaciente, levantou a cabeça de imediato.

— O que quer dizer com "surpresa"? — perguntou ela, com um tom que indicava claramente que não estava disposta a brincadeiras.

Theobaldo, por outro lado, parecia um pouco mais curioso, inclinando-se para a tela.

— Parabéns! — disse o médico, olhando para os dois com um sorriso entusiasmado. — São gêmeos!

Leocádia piscou algumas vezes, como se as palavras não fizessem sentido imediato. Gêmeos? Ela já estava lutando para lidar com uma gravidez acelerada, e agora isso? Ela colocou a mão na cabeça, enquanto Theobaldo olhava para a tela, com um misto de surpresa e felicidade.

— Gêmeos! — repetiu ele, rindo um pouco nervoso. — Vamos ter dois, Leocádinha!

Leocádia não respondeu imediatamente. Seu rosto passou de surpresa para uma mistura de irritação e exaustão.

— Dois? Dois bebês? Você só pode estar brincando — murmurou ela, se sentando na maca.

— Não é uma brincadeira, senhora. Aqui, veja — apontou o médico, mostrando claramente os dois pequenos corpos na tela. — São dois. Perfeitamente saudáveis.

Leocádia suspirou profundamente, sentindo a realidade bater de uma vez só.

— É claro que seria algo assim — murmurou ela, ironicamente. — Como se um bebê já não fosse suficiente pra me dar trabalho...

Theobaldo, no entanto, não cabia em si de tanta alegria.

— Dois! Isso é maravilhoso, Leocádia! Nosso amor deu fruto em dobro! — Ele segurou a mão dela, animado.

Leocádia lançou um olhar a Theobaldo, ainda sem conseguir absorver tudo.

— Theobaldo, eu mal estou dando conta de um chute na minha barriga a cada cinco minutos. Imagine dois... — disse ela, massageando as têmporas.

— Você é forte, minha esposa. Vai conseguir! — respondeu ele, ainda sorrindo, tentando animá-la.

Leocádia suspirou novamente, resignada. Ela sabia que Theobaldo estava certo. Não havia muito o que fazer agora, a não ser aceitar.

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Na casa de Leocádia, Vó Berta  no quadro, estava mais animada do que nunca, sabendo que era o dia da ultrassonografia.

— E então, o que descobriram? — perguntou Vó Berta, com os olhos brilhando de curiosidade assim que Leocádia e Theobaldo entraram pela porta.

Theobaldo, com um grande sorriso no rosto, olhou para Leocádia, esperando que ela respondesse.

Leocádia, porém, estava exausta e apenas balançou a cabeça, se jogando no sofá.

— São... gêmeos — disse ela, com a voz um pouco cansada, mas não conseguindo esconder o toque de incredulidade.

Os olhos de Vó Berta se arregalaram.

— Gêmeos? Não acredito! Isso é incrível! — exclamou ela, rindo animadamente. — Dois pequenos bruxinhos? Ah, Leocádia, que alegria mal posso esperar para contar essa notícia por telefone a todos

Leocádia soltou um riso sarcástico, enquanto acariciava a barriga.

— Eu diria que isso é uma provação. Dois bebês... como vou dar conta? — murmurou ela.

Vó Berta, no entanto, estava radiante.

Theobaldo, que ainda estava em êxtase, sentou-se ao lado de Leocádia e segurou sua mão.

— Nós vamos conseguir, Leocádinha. Vamos criar uma linda família juntos. Eu prometo.

Leocádia olhou para Theobaldo e, por um breve momento, deixou-se relaxar, sentindo o conforto que a presença dele trazia.

— Espero que você esteja certo, Theobaldo... porque agora não tem mais volta — disse ela, meio rindo, meio resignada.

Com um suspiro profundo, ela recostou a cabeça no sofá.

Theocadia- Tentando Quebrar o Feitiço do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora