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Annabeth's Pov

13 anos atrás

— Bom dia, querida. Você dormiu bem? — minha mãe me pergunta entrando no meu quarto.

Esfrego meus olhos enquanto abro minha boca para um grande bocejo. Na verdade, eu dormi muito mal com os barulhos altos que escutei ontem a noite. Mas não sei se devo dizer à mamãe que eu sabia o que estava acontecendo.

— Mais ou menos... — hesito e ela percebe, vindo se sentar na minha cama.

— O que houve, Beth? — ela me olha com aqueles olhos cinzas tão escuros. Os olhos da minha mãe costumavam ter um brilho especial, agora estão apagados.

— Você e papai vão se separar? — ela me olha surpresa, como se não esperasse essa pergunta.

— Por que está perguntando isso? É claro que não.

— Eu escutei vocês discutindo ontem…Como sempre. — murmuro.

Minha mãe suspira e segura uma das minhas mãos.

Já estou acostumada com essas brigas, acontecia raramente há um ano, mas agora é quase todos os dias. E sempre de noite, provavelmente porque não querem que eu ou Íris presencie eles discutindo. Como se não fossemos escutar os gritos e objetos quebrando, quando eles jogavam algo no chão.

— Eu não quero outro pai. Por favor, mamãe. — sou sincera.

— Nós não vamos nos separar, amor. Eu prometo. Nada vai mudar nessa casa. — tento acreditar na palavra dela, mas quando pedi que parassem de brigar há uns meses ela também prometeu que pararia. Isso não aconteceu.

— Por que vocês brigam tanto?

— A vida adulta é complicada, Beth. E a de casados também, nem sempre as coisas acontecem como gostaríamos. Mas no fim, só importa que nos amamos. Eu e seu pai nos amamos, e nós amamos você e sua irmã. Isso não vai mudar. Nunca — ela acaricia meu rosto e abro um sorriso pequeno — Vamos ser uma família pra sempre, você não vai ter outro pai e nós não vamos nos separar.

Aceno e abro meus braços pedindo um abraço em silêncio. Minha mãe logo me levanta com dificuldade e me coloca em seu colo, afagando meu cabelo longo e me apertando em seus braços.

— Tudo bem por aqui? — escuto a voz do meu pai e olho para a porta.

— Sim, só estava dizendo que nos amamos e que nós amamos ela. Isso não vai mudar. — minha mãe explica e não consigo entender o olhar que ela dirige ao meu pai, mas ele fica uns segundos em silêncio antes de acenar e se aproximar.

Papai senta do lado da minha mãe e acaricia minhas costas.

— Eu amo você, pequena. Faço tudo por você, ok? Por você e sua irmã, nunca esqueça disso. — ele se aproxima e beija meu cabelo.

Aproveito que ele está próximo e enrolo meus braços no seu pescoço, indo para seu colo. Amo a minha mãe, de verdade. Mas sempre me senti mais próxima do meu pai.

— Eu amo você. — sussurro. Meu pai não responde, mas sei que está sorrindo. Apesar de eu sentir o clima estranho no ar.

— Tudo vai ficar bem, Beth. — minha mãe diz baixo.

Fecho os olhos com força e peço para quem quer que seja para isso ser verdade.

Atualmente

Me obrigo a abrir os olhos, para parar de pensar nessa lembrança. Mal consegui dormir hoje e não sei porque lembrei desse dia, mas desde a conversa com Tyson não consigo tirar Atena da cabeça.

Quase solto uma risada com suas palavras.

Eu prometo.

Tudo vai ficar bem.

Meus Deuses. Como ela é mentirosa.

Nada ficou realmente bem. Meses depois desse dia, meu pai sentou comigo e minha irmã e anunciou que estava saindo de casa porque estava se separando de Atena. Não era um tempo ou um simples término. Eles iam se divorciar.

Não sei se fiquei triste por meu pai estar indo embora ou aliviada por não precisar mais escutar as brigas noturnas dos dois.  Realmente não sei como me senti na época. A única coisa que eu sabia é que eu queria ir com o meu pai.

Mas isso não aconteceu. Atena ficou com a minha guarda e a da minha irmã. E ainda depois de anos, isso pesa na minha consciência com frequência. Uma simples decisão diferente poderia ter evitado tantos acontecimentos. Obviamente nunca disse isso em voz alta, meu pai se culparia ainda mais por ter cedido a guarda das filhas pra ex esposa achando que estava fazendo o melhor por nós duas.

Mas no fim, o que isso importa agora?

Não posso ficar aqui deitada nessa cama, olhando para o teto me martirizando pelo meu passado. Já aconteceu. Não tem volta, não posso mudar. Os culpados dessa história não faço ideia de onde estão e nem faço questão de saber.

Eu estou bem.

Com esse pensamento, me levanto da cama decidida a me dedicar ao dobro no meu trabalho. Ser melhor hoje do que fui ontem. E ser melhor amanhã do que vou ser hoje.

Além disso, é claro, também marcar a minha consulta com a minha terapeuta.

Mutual • Percabeth Onde histórias criam vida. Descubra agora