Ok, Carol mal havia chegado em casa e já sentia um nó na garganta. Sua impulsividade tinha falado mais alto, e agora ela se via em uma encruzilhada. Como explicar para Juliana que, de última hora, havia decidido cancelar a viagem que haviam planejado?
Ela se jogou no sofá, observando a tela do celular por alguns minutos, hesitando em fazer a ligação. Seus pensamentos estavam confusos. Embora gostasse de Juliana e apreciasse o relacionamento estável que tinham, algo estava faltando. A intensidade, a chama... Carol precisava de algo mais, algo que fizesse seu coração disparar. E, nos últimos dias, algo ou alguém no time estava mexendo com ela de um jeito que não conseguia ignorar.
Respirando fundo, finalmente decidiu ligar. Juliana atendeu quase imediatamente, com o tom de voz sempre calmo, porém ligeiramente animado.
— Oi, amor! Está tudo bem? Já está ansiosa para nosso fim de semana?
Carol sentiu uma pontada de culpa ao ouvir a voz da namorada. Ela havia prometido que aquele final de semana seria só das duas, longe do vôlei, longe de tudo.
— Então, Ju... — Carol começou, tentando soar casual. — Sabe aquele plano de viagem que tínhamos para o fim de semana?
— Sei. — Juliana respondeu devagar, uma leve nota de desconfiança surgindo em sua voz. — O que aconteceu?
Carol sabia que qualquer desculpa que desse seria fraca, mas tentou mesmo assim.
— Acontece que... Fabi está organizando uma festa para o time. Sabe como é, algo para entrosar todo mundo, especialmente a novata. — Carol sentiu o nervosismo crescer ao falar. — E acho que seria importante eu estar lá, para ajudar com o time, sabe? O entrosamento é importante porque reflete dentro de quadra.
Houve uma pausa. Carol podia sentir a tensão do outro lado da linha. Juliana não era boba, e conhecia bem Carol para saber quando algo não estava certo.
— Carol, isso não estava nos planos. Nós já havíamos combinado essa viagem. E agora, de repente, você quer cancelar por causa de uma festa do time? — A voz de Juliana era calma, mas havia uma clara insinuação de irritação.
— Eu sei, Ju, eu sei... — Carol se apressou em responder. — Mas é só dessa vez, prometo. Vou compensar depois, a gente pode planejar outra coisa. Eu só... não posso faltar, entende? Faz parte do meu trabalho, do entrosamento do time. Além disso, está muito calor, e eu acho que... preciso relaxar também.
Juliana suspirou, claramente não convencida.
— Relaxar, Carol? A gente ia viajar exatamente para você relaxar. — A irritação na voz dela agora era mais evidente. — E agora você me vem com essa desculpa esfarrapada? O que realmente está acontecendo? Por que de repente essa festa é tão importante?
Carol hesitou. Não podia admitir que algo nela estava inquieto, que havia uma curiosidade crescente e que ela própria não estava conseguindo controlar sua impulsividade, sobre como a presença de alguém estava afetando seus pensamentos. Mesmo que fosse só isso – curiosidade – sabia que Juliana não entenderia.
— Não é só a festa, Ju... É que eu preciso estar lá, fazer parte, sabe? Eu sou uma peça importante nesse time, e essa festa é uma chance de unir todo mundo, de garantir que a gente funcione bem nas quadras. — Tentou soar convincente, mas sabia que não estava funcionando.
Juliana ficou em silêncio por um momento, e quando falou, sua voz estava fria.
— Eu não sei o que está acontecendo, Carol. Se você acha que essa festa é mais importante do que nós, então vá. Mas não espere que eu esteja feliz com isso.
Carol sentiu o peito apertar. Ela odiava decepcionar Juliana, mas ao mesmo tempo, não podia ignorar o que sentia. Havia algo que precisava descobrir, uma chama que precisava reacender em si mesma.
— Me desculpa, Ju. Eu prometo que vou compensar, de verdade. Não quero que isso afete a gente.
— Só espero que você saiba o que está fazendo. — Juliana respondeu com um tom de resignação, antes de encerrar a ligação.
Carol ficou olhando para o telefone por um longo tempo, tentando lidar com a culpa que agora pesava em seu peito. Sabia que havia pisado na bola, mas não podia voltar atrás. Precisava entender o que estava acontecendo dentro de si.
Enquanto isso, a alguns quilômetros dali, Anne terminava seu treino e se dirigia para o vestiário, onde poderia finalmente respirar um pouco. Seus primeiros dias no Brasil estavam sendo uma montanha-russa de emoções. A adaptação ao novo time, ao novo país e à nova cultura estava sendo mais desafiadora do que imaginava. O calor intenso, a barreira do idioma e as diferenças culturais a faziam sentir-se, por vezes, perdida.
Anne sabia que a integração levaria tempo, mas às vezes a solidão era palpável. Ela se esforçava para se enturmar com as meninas, e até gostava delas, mas a barreira cultural ainda estava ali, presente em cada conversa que ela precisava se esforçar para acompanhar.
Sentada no banco do vestiário, pegou o celular e viu uma mensagem não lida de Hannah, a alemã com quem mantinha um relacionamento casual e aberto, elas foram colegas de time quando Anne ainda estava na Europa. A relação entre elas sempre foi prática, e Anne sabia que esse era um dos fatores que a impedia de se conectar de fato com Hannah. Para a alemã, o relacionamento era ótimo assim; ela não parecia se incomodar com a falta de profundidade, e até preferia que as coisas permanecessem desse jeito assim ela podia sair com outras pessoas sem peso na consciência. Já para Anne, isso fazia com que tudo parecesse ainda mais superficial e no fundo, com isso, não se sentia valorizada.
Hannah: Oi, Anne. Como estão as coisas por aí?
Anne hesitou por um momento antes de responder. Embora a relação com Hannah fosse prática, saber que ela estava lá, mesmo distante, a fazia sentir-se um pouco menos sozinha no Brasil.
Anne: Oi, Hannah. Está tudo bem. Os primeiros dias foram intensos, mas acho que estou começando a me acostumar. E você, como está na Alemanha?
A resposta veio rapidamente, como se Hannah estivesse esperando por sua mensagem.
Hannah: Tudo bem por aqui. Mas sinto sua falta.
Anne franziu a testa, sentindo o peso daquelas palavras. Sabia que a distância era um fator, mas também sabia que a conexão real entre elas nunca havia se estabelecido de verdade. Apesar disso, era bom saber que alguém se importava com ela, mesmo que fosse de longe.
Anne: Também sinto sua falta. Tenho tentando focar no trabalho e na adaptação aqui. É tudo tão diferente...
Hannah: Entendo. Sei que é difícil, mas estou aqui se precisar de mim. E o que temos... a gente pode continuar como está, certo?
Anne suspirou. Hannah sempre esteve confortável com a casualidade do relacionamento e realmente acreditava nesse tipo de namoro ou seja lá como a alemã chamava, enquanto ela ainda se sentia um pouco deslocada. Mesmo assim, não queria complicar as coisas agora.
Anne: Vamos ver como as coisas vão seguir, Hannah. Preciso ir pra casa agora, a gente conversa mais depois, ok?
Hannah: Claro. Cuide-se, bonita.
Encerrou a conversa e desligou o celular sem dar oportunidade para que Hannah começasse a perguntar se Anne já havia se atraído por alguém ou que ela mesmo começasse a contar de possíveis flertes, a holandesa realmente nunca havia gostado de viver um relacionamento aberto e não entendia como havia ido parar em algo assim. A relação com Hannah era algo que precisava resolver, mas não agora. Havia muita coisa acontecendo ao seu redor, e sua prioridade no momento era se ajustar ao time, ao país e às novas amizades.
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Um capítulo um pouco mais curtinho pra aproveitar que sextou!!!
A impulsividade sempre dominando a Carol quando o assunto é a Anne... (aiai... eu já tô pronta pra passar meu paninho rosa).
Quero ver vocês interagindo com comentários e clicando na estrelinha, dependendo volto com o próximo capítulo mais rápido do que vocês imaginam 😏🙂↕️
🤍
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Sorte A Nossa | Buijrol
Любовные романыQuando Anne Buijs, uma estrela do vôlei internacional, chega ao Brasil para integrar o time SESC Flamengo, sua vida vira de cabeça para baixo. Tímida e reservada, ela não esperava encontrar Carolana, uma jogadora intensa e destemida, com quem imedia...