Capítulo 35: Sal Grosso

289 49 278
                                    



A segunda feira se iniciava de forma tranquila, e Anne, como de costume, havia chegado cedo para o treino. O ginásio ainda estava vazio, o silêncio quase reconfortante. Ela gostava dessa calma antes da correria, quando podia se aquecer sozinha e trazer seu foco para o treino, era assim desde de criança quando seus pais já exigiam que ela tivesse a disciplina de um adulto quando o assunto era o esporte. Nem sempre era fácil ser filha de um casal de atletas, talvez viesse daí sua auto crítica tão dura que muitas vezes se transformava em uma incontrolável ansiedade. Apesar de ser segunda feira, o dia universal do mau humor, ela se aquecia com um sorriso no rosto, sua mente possuía uma única questão: Carolina.

Enquanto se alongava no canto da quadra, ouviu passos ecoando no ginásio. Ao levantar o olhar, viu Fernanda se aproximando com um sorriso largo e confiante.

— Anne! Bom dia — A voz de Fernanda possuía um entusiasmo leve. — Chegou cedo de novo. Achei que eu ia ser a primeira hoje.

Anne sorriu de volta, amigável como sempre. — Bom dia, Fer. É, gosto de chegar antes, sabe? Pra focar bem.

Fernanda riu, sentando-se ao lado da holandesa. — Isso é bem você, né? Sempre disciplinada. — Ela ajeitou o cabelo de forma distraída antes de continuar. — Eu mandei umas mensagens pra você no fim de semana, depois do que aconteceu no sábado, mas você não respondeu. Estava preocupada. Tá tudo bem?

Anne olhou para Fernanda com uma expressão de leve surpresa e um toque de culpa. Havia passado grande parte do domingo sem tocar no celular, envolvida em seus pensamentos e no momento que viveu com Carol. Ela havia se esquecido completamente de todas as mensagens pendentes.

— Ai Fer, desculpa mesmo — disse Anne, soltando um suspiro sincero. — Eu não sou tão ligada assim a celular e realmente quase não mexi nele desde sábado... Mas estou ótima. Só precisava de um tempo pra mim, sabe? Colocar a cabeça no lugar.

Fernanda inclinou-se levemente, demonstrando uma preocupação que parecia genuína, mas havia algo mais nas entrelinhas de suas palavras.

— Claro, eu entendo — disse ela, com um tom suave, os olhos fixos em Anne. — Às vezes, a gente precisa desse tempo, né? Fiquei pensando em você... Sabe, se precisar conversar ou desabafar, estou aqui. A gente já se dá tão bem.

Anne sorriu, tocada pelo gesto de amizade. Fernanda sempre parecia estar por perto nos momentos certos, e ela apreciava isso. A holandesa era esse tipo de amiga e apreciava isso em suas amizades.

— Obrigada, Fer. Saiba que também to aqui. — Anne respondeu, com a voz tranquila e sincera.

— Sempre que precisar — Fernanda acrescentou, deixando a frase no ar com uma leveza calculada, enquanto seus olhos percorriam a expressão serena de Anne. — Às vezes, acho que a gente tem mais em comum do que parece. Você sabe como é, estar longe de casa, com um time novo... Sinto que a gente se entende.

— Sim, é verdade — A holandesa disse, com um sorriso largo e genuíno. — Você tem sido uma das pessoas que mais me ajudou desde que cheguei aqui. — O sorriso esboçado nos lábios de Fernanda apesar de sutil trazia uma certa arrogância e vitória.

— Mas e o que deu com a Carol lá aquele dia? O clima parecia meio estranho — perguntou ela, voltando sutilmente no assunto, enquanto inclinava-se ligeiramente na direção de Anne, um gesto quase natural, mas que estabelecia uma intimidade velada.— Depois até fiquei pensando que talvez ela poderia tá daquele jeito por causa da namorada dela, fiquei sabendo que a Ju tá viajando a trabalho, as vezes ela tava com aquela cara por causa da saudade né? Você precisa ver como elas são fofas juntas, Anne.

Fernanda sabia muito bem o que estava fazendo, porém não podia ter certeza da maneira que essas palavras cairiam para Anne que endureceu o semblante. Era óbvio que ouvir isso era quase como abrir uma ferida no peito da holandesa, principalmente depois de estar se permitindo "viver"ao lado da central. Mas Anne havia tomado sua decisão e sabia que não poderia trazer para sí a existencia de Juliana ou a culpa cairia de maneira pesada também sobre seus ombros.

Sorte A Nossa | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora