Capítulo 18: Respira, Carol

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Enquanto o aroma forte do café invadia a cozinha, ela cruzava os braços e olhava para o celular, que parecia agora mais pesado do que nunca. A mensagem estava ali, pulsando na tela, um lembrete constante de que sua vida amorosa estava prestes a desmoronar ou a ganhar uma nova direção.

A tensão era insuportável, e, em algum momento, ela teria que encarar aquilo de frente. Mas agora... agora ela só queria um café e alguns minutos de paz antes de abrir a porta para o turbilhão de emoções que aquela mensagem, sem dúvida, traria consigo.

Carol deu um longo gole no café quente, sentindo a bebida forte e amarga aquecer sua garganta. Fechou os olhos, tentando forçar sua mente a se acalmar, mas cada vez que o silêncio tomava conta do apartamento, a imagem daquela mensagem retornava com força total, quase como se o celular estivesse gritando da mesa.

Ela se apoiou na bancada da cozinha, os dedos tamborilando no mármore frio enquanto olhava para a janela. Lá fora, o sol já brilhava alto, o Rio de Janeiro fervilhando de vida lá embaixo. As pessoas seguindo suas rotinas diárias, sem ideia das angústias que ela carregava.

— Droga... — murmurou para si mesma, frustrada. Ela sabia que, cedo ou tarde, teria que encarar aquilo. Não poderia simplesmente ignorar, apagar ou fingir que nada havia acontecido. Não com a tensão crescente entre ela e Anne, e muito menos com Juliana na jogada.

Mas... o que exatamente ela queria? A pergunta ecoava pela cabeça da central como um enigma que ela vinha evitando há semanas. Sentia-se dividida entre o conforto familiar de Juliana e a intensidade que Anne trazia consigo. A fotógrafa era alguém com quem Carolana sabia o que esperar — havia uma rotina, uma estabilidade e um medo grande de magoá-la. Mas Anne... Anne era a faísca que ela não conseguia controlar, o mistério que a atraía para algo novo e desconhecido.

Não tinha jeito, precisa enfrentar o que quer que fosse o conteúdo daquela mensagem, não podia se torturar ainda mais na esperança de que o fato de não abrir a mensagem fizesse com que ela desaparecesse. Pegou o celular e abriu a mensagem enviada, deixando cada palavra escrita por ela na noite anterior preencher seus olhos:

"Oi... tava pensando em você... Quero te levar para um jantar incrível. Acho que te devo isso, né? Não consigo parar de pensar nisso... e em como você é linda. Carol."

Carol suspirou pesadamente. Queria esquecer tudo aquilo, mesmo que só por alguns minutos. Mas não importava o quanto tentasse afastar o pensamento, a dúvida a corroía por dentro.

Ela levou a xícara aos lábios e tomou um gole, sentindo o líquido quente descer pela garganta, aquecendo-a por dentro. "Respira, Carol", sussurrou para si mesma. Não havia como escapar da realidade por muito mais tempo. Sabia que, cedo ou tarde, teria que lidar com o que havia feito. O problema era que ela não fazia ideia de como encarar isso.

De repente, o celular vibrou, quebrando o breve momento de paz. Carolana arregalou os olhos, sentindo o coração disparar novamente. Uma resposta? A xícara tremeu em sua mão enquanto ela a pousava sobre a bancada com cuidado. Seu olhar estava fixo no aparelho, como se fosse uma bomba prestes a explodir.

Ela deu um passo à frente e, hesitante, pegou o celular. A notificação agora pulsava como uma batida no fundo de sua mente. Era uma nova mensagem... de "X".

"Quem diabos era "X"?"

Com os dedos trêmulos, ela desbloqueou o telefone e abriu a mensagem.

Antes que pudesse ler a mensagem, seus olhos foram direto para o nome que assinava o final da mensagem e la estava ele, escrito com todas as letras. A n n e.

O nome "Anne" piscava na tela como um farol em meio à neblina de incertezas. Carolana sentiu o estômago afundar e, ao mesmo tempo, uma pontada de expectativa crescia dentro dela. Era ela. A mensagem embriagada havia, de fato, sido enviada para Anne, e agora a resposta estava bem ali, ao alcance de suas vistas.

Com a mão ainda trêmula, começou a ler.

"Oi, Carol... não sei se você lembra da mensagem que me enviou ontem, mas..."

Carol fechou os olhos por um segundo, sentindo o calor subir pelo seu rosto. Então ela lembrou. A noite anterior voltou à tona em flashes rápidos: Anne a levando para casa, os olhares que elas trocaram durante a festa, a voz de Anne ecoando em sua mente enquanto ela, sem pensar duas vezes, digitava aquela mensagem.

"Eu confesso que fiquei surpresa... antes de qualquer coisa, quero ter certeza de que você se lembra do que me enviou ou quem sabe estava bebada demais para saber o que digitou? Anne."

O coração de Carol bateu forte contra o peito. Anne não era boba e não queria armadilhas feitas por bebidas e amnésias. O que era compreensível, considerando o contexto. Carolana fechou o celular e se sentou na cadeira mais próxima, tentando respirar com mais calma.

"O que eu faço agora?", pensava, sua mente ainda a mil. Parte dela queria responder imediatamente, esclarecer a situação e talvez, apenas talvez, levar isso adiante, dar um passo na direção que tanto a atraía. Mas outra parte hesitava. E se tivesse sido cedo demais? Impulsiva demais? E se Anne não estivesse afim ou não correspondesse da mesma atração? E se pior, suas vontades a tivessem cegando e se Anne nem ao menos gostasse de mulher?

Ela se levantou, agora incapaz de ficar parada. Caminhou pela cozinha, sentindo o chão frio sob os pés enquanto tentava organizar os pensamentos. "Eu tenho que responder", murmurou, mas a dúvida ainda a paralisava.

Enquanto isso, outra notificação apareceu na tela. Era a mensagem de Juliana, a que ela havia ignorado na noite anterior. Um peso diferente caiu sobre Carol ao vê-la. Ela já sabia que as coisas com Juliana estavam complicadas. Mas a realidade de que agora havia algo mais, algo com Anne, uma possibilidade talvez, tornava tudo mais difícil. Carolana passou a mão pelo rosto, sentindo a tensão tomar conta de seus músculos.

Ela voltou a olhar para a mensagem de Anne. A porta estava aberta, e tudo que Carol precisava fazer era escolher atravessá-la.

Respirando fundo, ela começou a digitar com dedos ainda incertos:

"Oi, Anne. Eu me lembro, sim... Bom, a verdade é que eu estava meio bêbada quando escrevi, mas o que eu disse foi sincero. Não sei o que você pensa sobre isso, mas..."

Ela parou, refletindo sobre as palavras. Sentia o coração martelando dentro do peito, e a adrenalina correndo em suas veias a cada nova palavra que digitava. Essa era a chance de arriscar.

"Se você quiser conversar sobre isso, talvez pessoalmente, eu adoraria te levar para jantar."

Ela olhou para a mensagem por um segundo, hesitou, mas então apertou o botão de enviar. Não havia mais volta. Juliana também ocupava seus pensamentos, mas estava decidida, já estava na hora de ter uma conversa séria com Juliana, ainda que o teor da conversa fosse complicado e possuisse chances altas de que houvesse mágoa ao fim dessa conversa, ela precisava fazer isso.

Agora, restava esperar.


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E aiiiiiiii???
Não fiquem bravas, a Carol tá vivendo um conflito gente e ela é impulsiva.... (Tô passando um paninho de leve, mas é verdade imagina o conflito interno hihih)

Gente estou amando os comentários de vocês e confesso que estou pegando várias inspirações hihih

Por favor, se estiverem gostando da história cliquem na estrelinha isso me ajuda muito e motiva!

Beijinhos 🤍

Sorte A Nossa | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora