Carolana estava deitada em sua cama, fitando o teto do quarto. As risadas de Gabi ainda ecoavam pelo apartamento, mas sua mente estava longe dali. O silêncio que preenchia o quarto agora era acolhedor, mas ao mesmo tempo, opressor. Era o tipo de silêncio que dava espaço para que seus pensamentos correm livres, sem barreiras, e esses pensamentos, ultimamente, tinham um único nome: Anne.
Ela respirou fundo, lembrando das mensagens trocadas minutos antes. Tão simples, quase inocentes, mas carregadas de um peso que ela ainda estava tentando entender. Mal sabia Anne que a laranja e a Holanda foram apenas pretextos que ela usou para poder enviar aquela mensagem para falar com a loira... Como pequenos detalhes cotidianos podiam fazê-la pensar tanto em uma pessoa? Era desconcertante, mas estava acontecendo.
— O que eu estou fazendo? — murmurou para si mesma, virando de lado na cama e apertando o travesseiro contra o corpo.
Não era que ela estivesse arrependida de ter convidado Anne para jantar. Longe disso. O problema era a urgência com que tudo parecia estar se desenrolando em sua cabeça. Carolana sempre foi decidida, intensa em suas emoções e atitudes, mas essa situação parecia diferente. Com Juliana, as coisas estavam tão confusas, e mesmo assim, aqui estava ela, querendo se aproximar de Anne antes mesmo de resolver seu relacionamento atual. Era imprudente, mas algo em Anne a fazia querer mais. Mais tempo, mais conversas, mais troca de olhares, fora o risco da insegurança que sentiu vendo todas as vezes que Fernanda estava a rodear a ponteira. Havia algo no jeito tímido, quase contido da holandesa que a atraía profundamente.
E então, havia o jantar. Aquela seria a primeira vez que as duas passariam tempo juntas, sozinhas, fora da quadra ou do ambiente do time. Uma chance real de descobrir o que aquela conexão entre elas significava de verdade. A central sabia que, independentemente do que acontecesse, esse encontro mudaria tudo. Um frio na barriga tomou conta de seu corpo só de pensar no momento em que estaria cara a cara com Anne, sentindo a tensão que já era palpável nos treinos, só que dessa vez sem a distração das jogadas ou dos colegas de equipe.
Mas... e Juliana? Carolana mordeu o lábio inferior, irritada consigo mesma. Ela deveria ter terminado tudo antes de sequer pensar em jantar com Anne. Devia ter sido honesta com Juliana, mas a viagem dela complicou tudo. Agora, estava enredada em algo que começava a parecer uma teia de mentiras, e ela odiava isso. Não era esse o tipo de pessoa que queria ser, mas essa necessidade de estar com a Holandesa era algo novo até mesmo para ela, que nunca antes havia se sentido assim.
Ela suspirou novamente, sentindo o peso da confusão se instalar em seu peito. A única coisa clara em sua mente era que Anne a fazia se sentir viva de um jeito que ela não sentia há tempos. Talvez... talvez isso valesse o risco. Não poderia ser algo errado se dentro dela parecia tão certo.
Já no pequeno apartamento que alugara no Rio de Janeiro, Anne estava sentada em sua cama, ainda com o celular nas mãos. A última mensagem de Carol ainda piscava na tela, e Anne leu e releu as palavras, um pequeno sorriso iluminando seu rosto cada vez que fazia isso. Ela adorava a leveza de como Carolana lidava com as coisas, o jeito casual e espontâneo que transformava um simples "Oi" em algo cheio de charme e implicações.
Encostando-se na cabeceira, Anne deixou o celular de lado e olhou pela janela, a lua iluminando o céu carioca. Tudo parecia tão surreal às vezes. Ela, ali, no Brasil, em uma equipe nova, cercada por uma língua que ainda não dominava completamente. Mas Carol... Carol fazia tudo parecer mais simples. Desde a festa, as coisas entre elas haviam mudado de um jeito que Anne não conseguia explicar. Não falavam abertamente sobre o que sentiam, sobre toda aquela atração, mas a conexão estava lá, nas entrelinhas, nos olhares, nas pequenas provocações.
— Será que estou indo rápido demais? — Anne murmurou para si mesma, enquanto seus dedos traçavam distraidamente os contornos do celular na cama.
Sua mente divagou por um momento, pensando em Hannah. As duas tinham um acordo, um relacionamento aberto onde estariam juntas até quando desse certo e quando já não fizesse mais sentido simplesmente seguiriam na amizade, para ela nunca havia feito sentido e ela já havia deixado isso claro para alemã, e mais uma vez naquela noite havia sido clara sobre isso. Hannah sempre fora prática, objetiva. O relacionamento sem amarras era o que ela queria, e Anne, apesar de não querer um relacionamento assim, havia aceitado. Talvez porque no fundo sempre soube que o gostar que existia entre elas talvez não se tratasse de "amor". Mas agora, no Brasil, as coisas pareciam diferentes. Anne não sabia se era o fato de estar longe ou se era a presença de Carolana em sua vida, mas algo dentro dela havia mudado e ela quis deixar isso claro para Hanna que a única relação entre elas que estava fazendo sentido era a de amizade. Ela se pegava pensando em Carol mais vezes do que gostaria de admitir, e a ideia de compartilhar esses sentimentos com outra pessoa... não parecia tão simples.
E agora, o jantar. O convite de Carol havia soado casual, mas a holandesa sabia que havia mais ali. Ela estava ansiosa, um misto de empolgação e nervosismo percorrendo seu corpo. O que isso significaria para as duas? Estavam flertando, é claro, mas até onde isso poderia ir? Anne não era uma pessoa impulsiva. Sempre fora cuidadosa, metódica, especialmente em assuntos do coração. Mas também era do tipo decidida, que não perdia tempo fingindo que não queria algo quando na realidade queria, ela não se escondida, possuía a típica sinceridade nua e crua herdada da cultura europeia. Já Carol... Carolana era como um vendaval, um sopro de energia que bagunçava tudo ao redor.
Ainda havia Fernanda também. A jogadora brasileira era simpática, carismática, e Anne começava a se sentir mais à vontade com ela a cada conversa. Mas, de algum jeito, Fernanda não causava o mesmo efeito que Carol. Talvez isso a impedisse de enxergar as investidas que Fernanda tentava fazer, vendo na companheira de time uma amiga que a cada dia entrava mais em sua vida. Com Carol era diferente, algo em Carol mexia com Anne em um nível mais profundo, e essa constatação começava a ficar mais clara a cada dia.
Com um suspiro, Anne pegou o celular novamente, vendo que Hannah havia mandado outra mensagem. Ela precisaria responder em breve, mas por enquanto, sua mente estava em outro lugar, em outra pessoa.
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Senta o dedo na estrelinha que no próximo capítulo tem O JANTAR!!!
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Sorte A Nossa | Buijrol
RomanceQuando Anne Buijs, uma estrela do vôlei internacional, chega ao Brasil para integrar o time SESC Flamengo, sua vida vira de cabeça para baixo. Tímida e reservada, ela não esperava encontrar Carolana, uma jogadora intensa e destemida, com quem imedia...