Sorte A Nossa | Buijrol

Capítulo 28: Tempestade Emocional

Enquanto Fernanda se afastava, Anne permaneceu imóvel, como se o mundo ao seu redor tivesse parado. O desejo que antes pulsava em seu corpo se dissipava rapidamente, dando lugar a uma mistura feroz de incerteza e raiva. A palavra "namorada" ecoava em sua mente como um golpe traiçoeiro, cada repetição fazendo seu peito arder de frustração.

Ela olhou ao redor do pub, mas o ambiente antes acolhedor e excitante agora parecia distante, sufocante. O que começou como uma noite de promessas intensas e momentos arrebatadores agora se tornava confuso e envenenado por uma sombra que não existia antes. O gosto amargo da traição começava a se formar em sua boca, uma sensação que a irritava profundamente.

"Como ela pôde?" O pensamento relampejou em sua mente, enquanto suas mãos se fechavam involuntariamente em punhos, os nós dos dedos esbranquiçados pela tensão. Anne sentia o calor subir por seu rosto, não o calor de desejo que há pouco havia aquecido seu corpo, mas um calor de raiva reprimida, queimando por dentro. Ela tentou engolir, mas era como se o ar estivesse preso em sua garganta, sufocando-a lentamente.

O sorriso de Carol, o toque, o beijo... tudo parecia tão genuíno. Como Carol poderia dividir-se assim, entre ela e outra pessoa, e ainda agir com tanta tranquilidade ao fazer com que ela acreditasse que estavam em sintonia.

A holandesa respirou fundo, tentando conter o turbilhão dentro de si, mas era impossível. Seu corpo tremia, desta vez não por causa do desejo, mas pela fúria que agora dominava seus sentidos. Cada batida de seu coração parecia uma batida de tambor, marcando o ritmo de uma frustração crescente.

"Namorada..." Ela murmurou para si mesma, sentindo o veneno daquela palavra escorrer lentamente por sua mente. Como a brasileira podia brincar com ela assim? Cada segundo que passava tornava mais difícil conter a vontade de confrontá-la.

Anne cruzou os braços com força, tentando manter o controle. Mas a raiva estava lá, latejando sob sua pele, misturada ao choque e à decepção, uma tempestade emocional prestes a explodir.

Carol estava aliviada por ter conseguido encerrar rapidamente a ligação com sua mãe, a ansiedade e o desejo pelo beijo com Anne estampados em seu rosto. Cada passo em direção a ponteira era uma promessa de continuidade, um desejo ardente que havia consumido seus pensamentos nos últimos dias. Finalmente estava dando ao seu corpo o que ele tanto havia desejado ao longo de todos esses dias. A expectativa era palpável, como um calor que prometia ser finalmente saciado. O sorriso em seu rosto a impedia de disfarçar a felicidade que estava sentindo. Mas ao chegar perto, encontrou Anne em uma postura rígida e distante, a raiva evidente em seus olhos. O calor da noite e o desejo antes compartilhado foram substituídos por um gelo implacável, que parecia ter congelado o ambiente ao redor delas. Algo havia mudado drasticamente, e a tensão no ar era densa, como uma sombra que pairava sobre o que antes parecia promissor.

— Ei... O que aconteceu? — Perguntou Carol, sua voz tentando soar casual, mas traindo a preocupação e o desconforto. A expressão da ponteira, gélida e inabalável, a deixou desorientada. Ela não conseguia compreender a transformação abrupta no comportamento da companheira.

Anne não respondeu de imediato. Sua postura estava fechada, os braços cruzados sobre o peito como se tentasse se proteger de uma dor invisível. Ela ainda estava sem acreditar em como podia ter se envolvido com alguém assim. O seu olhar que normalmente era acolhedor e carinhoso agora estava endurecido, e a raiva parecia pulsar a cada batida de seu coração.

Carolana sentiu um nó se formar na garganta ao ver a transformação de Anne. A atmosfera estava carregada de tensão e desilusão.

— Por que você não me disse que tinha uma namorada? — Anne perguntou direta, a voz cheia de um tom cortante e acusatório, como uma lâmina afiada que fez o coração da central disparar.