Capítulo 10: A culpa, aquela velha conhecida

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Carol entrou no restaurante, a respiração acelerada pelo esforço de ter chegado o mais rápido possível. A frustração e o cansaço a acompanhavam como uma sombra. Assim que avistou Juliana, a expressão severa da namorada já indicava que a noite não seria fácil.

Juliana estava sentada à mesa, o olhar fixo no menu, mas claramente esperando por Carol com a paciência de alguém prestes a explodir. Quando Carol se aproximou, Juliana nem sequer levantou os olhos.

— Você está atrasada, de novo — disse Juliana, a voz cortante como uma lâmina.

Carol respirou fundo, tentando manter a calma que ela mesma sabia estar se esvaindo.

— Eu sei, Ju. O treino se estendeu mais do que eu esperava... — começou, mas Juliana não a deixou terminar.

— Sempre tem uma desculpa, né, Carol? Sempre o treino, sempre o vôlei, sempre alguém mais importante. E eu? Onde eu fico nessa história? — Juliana finalmente levantou o olhar, e Carol viu a mistura de raiva e decepção nos olhos da namorada.

Carol sentiu a pressão no peito aumentar. A culpa se misturava à frustração, e ela precisava de toda a força para não responder na mesma moeda.

— Não é assim, Ju. Eu realmente tive um imprevisto. Uma colega estava com dificuldade, eu só fiquei para ajudar... — tentou explicar, mantendo o tom calmo, embora por dentro ela quisesse gritar.

— Ah, claro, sempre ajudando os outros. Parece que todo mundo merece a sua atenção, menos eu! — Juliana disparou, cruzando os braços e jogando o corpo para trás na cadeira, em clara demonstração de impaciência.

Carol mordeu o lábio, lutando contra a vontade de retrucar com a mesma intensidade. Ela sabia que Juliana estava magoada mas também estava sendo injusta. Ela também não conseguia ignorar o quanto estava frustrada. Frustrada por não conseguir equilibrar tudo, frustrada por ter que deixar Anne e as meninas para vir enfrentar essa cena. E mais do que isso, frustrada por ter sentindo vontade de não estar ali naquele jantar, quando não deveria sentir algo assim.

— Sabe, Juliana, eu também sinto falta de ter alguém ao meu lado, de verdade. Alguém que entenda o que eu passo, que esteja disposta a me apoiar... eu já te disse outras vezes que sinto falta de que você seja mais minha companheira, minha parceira. De que se interesse ao menos um pouco por minhas coisas, como eu busquei fazer pelas suas coisas, como por exemplo eu busquei entender minimamente de fotografia, enquanto você não sabe nem sequer o que é um saque flutuante. Que ao menos uma vez vá em algum jogo me ver e torcer por mim. De que não reclame de tudo em mim, como o fato de que sou vegana, ou sei lá, de que dou risada alto. Sei que você trata bem meus amigos, mas você nunca fez realmente questão de estar junto ou mesmo de criar vínculos com eles... — Carol começou, deixando escapar um pouco do que sentia. Sua voz saiu baixa, mas carregada de sentimento.

Juliana estreitou os olhos, como se as palavras de Carol fossem uma afronta, nem sequer refletiu.

— Ah, então agora eu sou a culpada por tudo? Eu que não estou ao seu lado? É isso? — Juliana rebateu, o tom carregado de ironia e mágoa. — Eu sou a vilã, e você a pobre vítima que só quer ser compreendida!

— Não é isso que eu quis dizer, Ju... Eu só... Só estou cansada, estressada. Eu sei que estou sendo grosseira, desculpa — Carol tentou se retratar, a voz mais baixa, sentindo a necessidade de acalmar as coisas antes que perdesse totalmente o controle. Ela sabia que tudo o que havia dito era de fato real, mas as palavras da fotógrafa fizeram com que ela se sentisse culpada até mesmo de estar dizendo como se sentia.

— Claro, você está cansada. Sempre cansada. E eu? Eu que fico aqui esperando, sendo deixada de lado? Mas tudo bem, né? — Juliana continuou, a voz embargada de drama, o que só aumentava a tensão na mesa.

Sorte A Nossa | BuijrolOnde histórias criam vida. Descubra agora