Meu refúgio improvável- Ashtray

10.

Lindsay Barret

Depois de um longo dia de encomendas, me dirigi para a conveniência, como de costume. A sensação de estar na loja sempre me fazia sentir um pouco melhor. Quando entrei, só encontrei Fezco. Ele estava atrás do balcão, mexendo no celular com a mesma calma de sempre.

— FezFez! — exclamei, me jogando no balcão com um sorriso. — Como vai?

Fezco levantou o olhar devagar e sorriu. Era aquele sorriso relaxado que ele sempre usava, como se estivesse em paz com o mundo.

— Olha quem chegou. O que houve, LiLi?

— Ah, só a correria de sempre. Acabei de terminar as encomendas. E o Ashtray? — perguntei, me inclinando sobre o balcão.

— Tá fora, fazendo umas entregas — respondeu Fezco, dando uma tragada no cigarro que não acendeu. — Mas deve voltar logo. E você? Como está o dia?

— Corrido, mas vai — falei, tentando esconder o quanto estava animada por finalmente encontrar alguém que pudesse me dar informações úteis.

Fezco me observou com uma expressão que parecia uma mistura de interesse e desinteresse.

— Ah, sim... por falar nisso, depois de amanhã é o aniversário do Ashtray, sabia? — ele soltou, quase como uma informação casual.

Aniversário?Meu coração deu um salto. Como assim ele nunca me contou? Eu estava ali, me esforçando pra encontrar algo que o surpreendesse, e ele não tinha me dado nenhum aviso.

— O quê? Sério? E ele não me contou nada? — soltei, incrédula.

Fezco deu uma risada tranquila, como se soubesse exatamente o que eu estava pensando.

— Ele nunca ligou pra essas coisas. Nem quando éramos mais novos. Aniversário pra ele é só um dia a mais no calendário.

Eu fiquei ali, sem saber o que dizer. Como assim?Todo mundo tem alguma relação com o próprio aniversário, mesmo que seja só um pouco.

— Isso não é possível. Todo mundo gosta de um pouco de comemoração, nem que seja pra ganhar um bolo — falei, meio que pensando alto.

— Não o Ashtray. Ele nunca se importou com isso. E você sabe como ele é — comentou Fezco, com um sorriso maroto.

Não pude deixar de sentir uma pontinha de frustração. Como é possível que eu nunca tenha ouvido isso antes? Ele devia ter dito algo. Olhei para Fezco com uma expressão de determinação.

— Bem, tudo bem então. Vou dar um jeito de lidar com isso — falei, mais para mim mesma do que para ele.

Fezco riu baixo, sem perceber o que estava realmente se passando na minha cabeça. O Ashtray finalmente entrou na conveniência, e eu o observei de relance. Ele parecia tão desinteressado, como sempre, com aquela aura de "não me importo com nada".

— E aí, princesa — ele disse, com um olhar de canto. — Como foi o dia?

Eu levantei uma sobrancelha, dando um sorriso travesso.

— E aí, Ashtray. Fezco estava me dizendo que depois de amanhã é o seu aniversário. Por que você não me contou?

Ele franziu a testa e deu de ombros, como se a pergunta fosse irrelevante.

— Porque eu não ligo pra essas coisas. Nunca liguei. E não faz diferença pra mim.

Claro, típico dele. Sempre tentando parecer desinteressado, mas eu sabia que havia mais ali do que ele queria mostrar.

— Hm, tudo bem então — falei, tentando esconder o quanto estava pensando. — Mas sabe, mesmo que você não ligue, ainda é uma data importante.

A conversa seguiu com os mesmos de sempre: provocações e ironias, com um toque de cumplicidade que só nós dois entendíamos. Mas na minha cabeça, eu já estava formulando um plano.

Quando saí da conveniência, minha mente estava acelerada. Eu sabia exatamente o que ia fazer. Peguei meu celular e liguei para uma empresa de aluguel de festas.

— Oi, eu gostaria de saber se vocês alugam pula-pula. Sim, é pra um aniversário. Não, não é pra uma criança — eu disse, com uma determinação que só uma pessoa apaixonada poderia ter. — Eu preciso de algo para a depois de amanhã. Você pode me ajudar?

Fezco já tinha me dado a deixa. Ashtray pode não ligar para aniversários, mas eu estava decidida a fazer esse um dia especial. Ele havia me dito um tempo atrás que nunca tinha ido a um pula-pula, e aquilo me marcou. Eu ia fazer isso por ele.

Desliguei o telefone e comecei a planejar. Se ele nunca teve uma infância divertida, eu ia garantir que ele tivesse pelo menos um pouco disso agora.

Mais tarde, ao chegar em casa, me sentei para organizar os detalhes. Eu sabia que ele ia ficar irritado quando descobrisse, mas era exatamente isso que eu queria. Era uma forma de mostrar que, mesmo que ele não se importasse, eu me importava com ele.

A noite caiu, e o plano estava quase completo. Eu estava animada.  Ashtray ia ter uma surpresa que ele nunca iria esquecer. E mesmo que ele tentasse agir desinteressado, eu sabia que, no fundo, ele ia adorar.

Apenas esperando o dia chegar, eu já estava pensando em como ver a reação dele quando ele visse o pula-pula pela primeira vez. Era minha forma de mostrar a ele que, mesmo que ele não se importasse com aniversários, eu me importava com ele.

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O próximo cap promete hein...

Beijão 💋