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Sabe aquele tipo de confiança que te faz pensar que nada pode dar errado? Então, era isso que eu sentia agora. Mas ao mesmo tempo, algo ali me dizia que o clima tava estranho demais. Ashtray, do meu lado, andava na rua com a cara fechada de sempre, mas eu percebia as olhadas rápidas que ele dava ao redor. Tava atento a tudo, como sempre. E o Fez, claro, caminhando com a tranquilidade de quem já tinha visto de tudo na vida.

— Cê tá com essa cara por quê, Ash? — perguntei, cutucando ele. — Tá pensando que eu vou te derrubar no truco de novo, é?

Ele soltou um riso curto, mas não desgrudou o olhar das pessoas ao nosso redor. A gente tava voltando pro galpão, onde sempre rolava o movimento dos negócios, depois de passar pelo bairro fazendo umas entregas. Mas a vibe daquele lugar sempre me dava um arrepio na espinha.

— Não é nada, amor. Só tô de olho nas coisas — ele respondeu, me olhando rápido. — Só não tô curtindo o movimento hoje.

Olhei ao redor e percebi que, diferente dos dias normais, a rua tava esquisita. Gente demais circulando, mas tinha um clima de tensão que me deixava alerta.

— Cês tão sentindo essa parada também, né? — Fezco comentou, sem parar de andar.

Eu e Ashtray nos entreolhamos. Quando até o Fez tava falando isso, sabia que algo tava prestes a rolar. Ele era sempre o mais calmo, então se até ele notava...

— Pode ser nada, mas vamo ficar de olho — eu disse, tentando manter o tom tranquilo, mas minha cabeça já tava a mil. A gente já passou por cada situação bizarra, mas cê nunca se acostuma de verdade. Sempre tem um nervosismo.

Caminhamos até o galpão, e lá dentro tava rolando o de sempre. Pedro tava conversando com uns caras, enquanto Matt cuidava de organizar as encomendas. Tudo parecia normal, mas eu vi quando Diego, encostado na porta, deu um toque sutil pra mim e pro Ash.

— Tem gente demais nos arredores — ele disse baixinho, quando a gente passou por ele. — Parece que tavam esperando a gente voltar.

Ashtray franziu o cenho, olhando pra mim. Ele odiava quando as coisas saíam do controle, e eu sabia que isso o deixava ainda mais tenso.

— Cês armaram algo? — ele perguntou, cruzando os braços, agora completamente focado.

— Nada que eu saiba — respondi, e vi que o Fez já tava andando pelo galpão, conferindo tudo ao redor. — Mas se alguém tiver armando pra cima da gente, vai se arrepender.

Matt apareceu, acenando pra mim.

— Li, cê tem que ver isso aqui — ele disse, a cara fechada como se tivesse visto um fantasma.

Olhei pro Ashtray e pro Fez, antes de seguir até o fundo do galpão com Matt. Ele me mostrou uma mensagem que tinha recebido no celular. Era um alerta de que a gente tava sendo observado. Ninguém sabia de onde vinha a informação, mas era o tipo de coisa que não dava pra ignorar.

— Acha que alguém vazou? — perguntei, a mente já girando nas possibilidades. Alguém podia ter entregado a gente, mas por quê? Quem?

Ashtray e Fez chegaram logo atrás de mim, e eu mostrei a mensagem pra eles. O rosto do Ash endureceu ainda mais.

— Vai dar merda isso aí. Eu sabia que tava estranho demais hoje — ele disse, já colocando a mão no bolso da jaqueta, pronto pra qualquer coisa.

— A gente tem que sair daqui antes que feche o cerco — Fezco falou, a voz firme.

Eu sabia que ele tava certo. O tempo tava correndo contra a gente, e se a polícia ou algum grupo rival tivesse nos cercado, não ia ser bonito.

— Matt, Diego, Pedro, juntem o que puderem e deem o fora daqui. Cês sabem pra onde ir se as coisas apertarem — eu falei rápido, já andando na direção da saída. Ashtray veio junto, me puxando pela mão.

— Não vai ser fácil sair daqui, Li — ele murmurou no meu ouvido, mas eu só olhei pra ele com aquele sorriso que sabia que o irritava e ao mesmo tempo o fazia rir.

— Desde quando as coisas são fáceis pra gente, Ash?

A gente saiu do galpão com o Fez na frente, já mapeando a situação. A rua ainda tava estranhamente cheia, mas agora eu sentia que tinha olhos em cima da gente.

— E se tiver gente esperando a gente virar a esquina? — Ashtray perguntou, sempre um passo à frente nos planos.

— A gente tá preparado, amor. Pode confiar — falei, apertando a mão dele de leve, tentando passar alguma segurança.

Assim que a gente chegou na esquina, a confirmação veio. Dois carros pretos estacionados, e um grupo de homens parados ao lado. Não precisou nem de palavra. Ashtray puxou a arma, Fezco logo atrás dele, e eu fiquei pronta pro que viesse.

Os caras perceberam que a gente não ia recuar e se mexeram. O clima pesou de vez.

— O que cês querem? — Fezco perguntou, a voz firme, sem tremer.

Um dos caras sorriu, mas não tinha nada de engraçado naquilo.

— Só queremos uma conversinha — ele respondeu, mas ninguém ali acreditava nisso.

Uma "conversinha" no nosso mundo nunca era só isso.

A tensão aumentou, e eu sabia que o primeiro movimento ia ser decisivo.

Ashtray olhou pra mim de canto de olho, e eu sabia exatamente o que ele tava pensando. Eu sorri de volta, do jeito mais sarcástico possível, antes de soltar:

— Então vamo ver quem tem mais coragem pra essa "conversinha".

Meu refúgio improvável- AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora