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Eu acordei cedo demais, mas não tinha escolha. Ashtray nunca ia levantar se eu não fosse pessoalmente arrastá-lo da cama. Olhei pro relógio: 5h45. Droga, ainda escuro lá fora. Joguei o moletom por cima do pijama, prendi o cabelo de qualquer jeito, e desci pra pegar as chaves. Matt estava dormindo no sofá, nem vi sentido em acordá-lo. Peguei o carro e dirigi até a casa do Fezco.

Quando cheguei, a casa estava apagada. Típico, pensei, eles nunca acordam cedo. Bati duas vezes na porta, já sabendo que ia ter que lidar com a cara amassada do Fezco, e foi exatamente isso que aconteceu. Ele apareceu na porta, com o cabelo desgrenhado, os olhos inchados, segurando a porta com uma mão e coçando os olhos com a outra.

— Madrugou, hein? — ele perguntou, a voz rouca, como se tivesse engolido areia.

— Preciso arrancar o Ash da cama — eu respondi, empurrando a porta pra entrar. — E você devia me agradecer, não vai ter que fazer isso por mim.

Ele riu baixo, balançando a cabeça.

— Vai lá. Só não grita muito, o moleque já vai acordar com seu drama.

— Drama? Eu? — olhei pra ele, dando aquele sorriso de canto, e subi as escadas em direção ao quarto do Ashtray.

Ao abrir a porta do quarto, lá estava ele, todo enrolado no cobertor, deitado de lado, quase abraçado ao travesseiro. Parecia um anjo... um anjo com cara de mal-humorado, mas ainda assim. Quem diria que esse moleque que banca o malzão dorme desse jeito? Nem parece o Ashtray que conheço. Respirei fundo, tentando não rir. Cheguei perto, puxei o cobertor de leve, e sussurrei:

— Ash, acorda. Tá na hora. A gente vai se atrasar pro voo.

Ele não se mexeu, claro. Típico. Então, puxei o cobertor de vez e sacudi o ombro dele.

— Levanta, porra!

— Lil... — Ele murmurou, ainda sem abrir os olhos. — Lili, tá me acordando a essa hora? Qual é a merda agora? — Ele virou de lado, com a cara toda amassada e os olhos meio abertos, claramente sem entender nada.

— A gente vai se atrasar pro voo, isso é a merda agora. Anda, levanta! — bati no ombro dele, impaciente.

Ele ficou deitado, olhando pra mim com aquela expressão de quem tá a um segundo de xingar, mas se segurando. Vai reclamar de mim, né? Tenta. Ashtray bufou, se espreguiçou devagar e, enfim, levantou.

— Tá bom, tô levantando, mas que inferno — ele murmurou, arrastando os pés até o banheiro.

Fiquei encostada na porta, esperando ele se ajeitar. Podia ouvir o barulho da água do chuveiro e, por um momento, aproveitei o silêncio. Quando ele saiu do banho, ainda secando o cabelo, veio até mim de toalha, e antes de botar qualquer roupa, ele chegou perto, puxou meu braço, e roubou um beijo.

— Isso aqui vai me acordar melhor do que o café — ele sussurrou, com um sorriso torto.

— Vou lembrar disso da próxima vez — respondi, sorrindo de volta.

Depois de mais uns beijos roubados, ele finalmente se vestiu, e nós descemos as escadas. Fezco ainda estava na cozinha, tomando café. Ele nos olhou com aquela cara de quem já sabe que alguma coisa engraçada vai acontecer.

— Boa sorte com esse aí, Lili — ele disse, me chamando pelo apelido que só ele usava.

— Eu sou a única pessoa que consegue arrastar esse moleque de casa, então, vai ser tranquilo — eu retruquei, Ashtray pegou a mala dele e, sem mais delongas, nos despedimos do Fez.

No carro, a conversa foi mais leve. O Ash reclamou algumas vezes sobre a viagem.

— Não sei como você me arrastou pra essa viagem. Sério, Lili, eu não faço esse tipo de coisa.

— Você precisa sair um pouco desse seu mundo, Ash. Relaxa, vai ser divertido. E além do mais, você vai estar comigo, então não tem o que reclamar.

Ele riu, mas não pareceu discordar. Estacionamos no aeroporto, deixamos as malas no check-in, e antes de qualquer coisa, paramos pra comer. Sentamos numa lanchonete qualquer e eu pedi um café. Ele olhou pra mim, com aquela expressão meio cínica.

— Você não vai parar até me transformar em gente, né?

— Não mesmo — eu disse, rindo. — Vou te civilizar nem que seja à força.

— Boa sorte com isso. Sou um caso perdido.

O café chegou, e enquanto comíamos, o portão de embarque foi anunciado.

— É o nosso — eu disse, já me levantando. — Vamo, Ash!

Ele demorou um segundo a mais do que eu, e então corremos pelo aeroporto. O barulho das nossas malas arrastando ecoava no saguão, e eu já conseguia ver o portão ao longe. Por pouco, não perdemos o voo, mas conseguimos embarcar a tempo.

Dentro do avião, finalmente sentamos. Eu joguei minha cabeça no ombro dele, exausta.

— Você devia correr mais — ele comentou, sem tirar os olhos da janela. — Tá fora de forma, amor.

Revirei os olhos, mas dei um sorriso. Ele pegou minha mão, fez um carinho de leve, e depois foi a vez dele encostar a cabeça em mim e apagar.

Quem diria que o menino rebelde se transforma num bebê quando dorme? Pensei, enquanto olhava pra ele. Não demorou muito e eu também apaguei.

Quando chegamos ao nosso destino, o calor e o cheiro de praia já estavam no ar. Pegamos nossas malas e saímos do aeroporto. A visão de mar à distância trouxe um sentimento diferente, quase como uma pausa na vida que a gente vivia em East Highland. Parecia que por alguns dias, a única coisa que importava seria essa viagem. Ashtray olhou pra mim e sorriu.

— Sabe que até que isso aqui vai ser legal, né? — ele disse, entre sério e brincalhão.

— Eu sabia que ia te convencer.

Ele passou o braço pelos meus ombros, e juntos, seguimos até o hotel.

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Acho que essa viagem vai ser tão incrível!

Estão gostando?

Beijão 💋

Meu refúgio improvável- AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora