26.

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Lindsay Barret

Traguei devagar, soltando a fumaça enquanto me encostava na parede da sacada. A cidade lá embaixo parecia distante, com todas as luzes brilhando, mas nada que segurasse o peso do que passava pela minha cabeça. Era sempre assim, à noite, quando o silêncio me cercava.

A porta da sacada deslizou, e Ashtray apareceu, acendendo um cigarro enquanto se aproximava de mim. Não precisei olhar pra saber que era ele; ele sempre surgia quando eu mais precisava — mesmo que eu não dissesse nada.

— Tá fumando de novo, princesa? — ele provocou, soltando a fumaça de um jeito despreocupado.

— Você também, então cala a boca — respondi com um sorriso de canto, tragando mais uma vez.

Ele riu, aquele riso curto e rouco que sempre vinha quando ele queria me provocar. Ashtray se encostou na mureta ao meu lado, mantendo o silêncio por um tempo. Mas o jeito que ele me olhava, me estudando de canto de olho, dizia que ele não estava ali só pra fumar.

— O que foi agora? — perguntei, cansada de segurar o peso das palavras não ditas. — Tá com essa cara faz dias.

— Nada — ele respondeu, sem me olhar. — Só... pensando.

— Pensando? — dei uma risada cínica. — Desde quando você pensa?

Ele deu de ombros, soltando a fumaça pelo nariz.

— Desde que você começou a agir como se fosse feita de pedra.

Revirei os olhos, mas a verdade era que o comentário dele mexia comigo.

— E daí?

— Daí que é mentira — ele disse, firme. — Você não é feita de pedra, Lindsay. Não pra mim.

Eu fiquei em silêncio por um momento. Ele sempre tinha essa capacidade de ver o que eu tentava esconder.

— Por que você se importa? — perguntei, soltando a fumaça lentamente.

Ele jogou a bituca fora e virou pra mim, sério.

— Porque eu tô sempre aqui. Você sabe disso.

Suspirei, desviando o olhar pra cidade à nossa frente.

— E se eu não quiser mais ser forte? Se eu cansar? Quem vai ser forte por mim?

Ele me puxou pela cintura, me fazendo virar de frente pra ele. Seu olhar estava mais intenso, mais profundo, como se estivesse falando direto pra minha alma.

— Eu. Eu vou ser. Você não precisa carregar o mundo nas costas sozinha, princesa. Nunca precisou — ele falou baixinho, seu tom sério.

Senti o peso daquelas palavras, o jeito que ele me encarava, a segurança que ele me passava. Ashtray sempre tinha aquele jeito duro e fechado, mas por mim... ele estava ali. Sempre esteve.

Sorri de canto, jogando o cigarro fora e me aproximando mais dele.

— E quem vai cuidar de você, hein?

— Você, claro. — Ele riu, me puxando mais pra perto. — Mas eu não sou o que importa agora.

Eu ergui uma sobrancelha, desafiadora.

— Não? Acho que você importa tanto quanto eu.

Ele soltou uma risada curta e, antes que eu pudesse falar mais alguma coisa, me puxou pra um beijo. Não tinha hesitação, não tinha medo, só a certeza de que ele estava ali comigo. O beijo era intenso, familiar, e eu me derreti no calor do momento.

Meu refúgio improvável- AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora