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Ashtray

Eu já devia saber que com a Lindsay, não tinha isso de planejar coisa tranquila. A gente tava viajando e, mesmo longe de casa, ela sempre dava um jeito de achar os lugares mais... esquisitos. Dessa vez não foi diferente. Acordei e ela já tava mexendo no celular, procurando algum canto perdido da cidade. Nem era 10 da manhã e ela já tava aprontando.

— Tá vendo isso aqui? — Ela virou o celular na minha direção, mostrando um ponto no Maps. — Tem um beco aqui perto, dizem que é meio sinistro. Vamos lá?

— Tu nem conhece a cidade, Lili... já tá querendo se enfiar em beco? — Eu perguntei, meio desconfiado.

Ela revirou os olhos e jogou o celular na cama.

— Ah, para, amor. A gente sobreviveu a coisa bem pior. Tu não vai me deixar de fora dessa, né? Vai, bora se mexer, antes que eu desista e te deixe aqui. — Ela levantou, jogando um olhar rápido pra mim antes de sair do quarto pra se arrumar.

— Só não reclama se der merda, hein? — murmurei, me arrastando da cama também. Mas no fundo, eu sabia que ia. Não porque o lugar me interessava, mas porque eu ia pra qualquer canto se fosse com ela.

Lindsay Barret

Uma meia hora depois, a gente tava na rua. Achei o lugar rapidinho no Maps e, sinceramente, parecia o tipo de local que ninguém com bom senso entraria. Claro que isso só me deixou mais animada.

— Tá ansioso, filhote? — Dei uma cutucada no braço do Ash, rindo. — Ou vai correr pra recepção e pedir arrego?

— Menos, Lili. — Ele deu um suspiro, me encarando com aquele olhar sério dele, mas eu sabia que era só fachada. — Se alguém tem que correr, vai ser você.

Eu gargalhei.

— Tá bom, tá bom, tu é o fodão. Vamos ver até onde vai a tua coragem.

Quando a gente chegou no tal beco, olhei em volta, satisfeita. Tinha uma vibe pesada, com pichações nas paredes, aquele cheiro de cigarro misturado com lixo... mas era o tipo de lugar que eu curtia. Um ambiente que ninguém esperaria que duas pessoas como a gente fosse parar.

— Viu só? Não é tão ruim assim. — Comentei, empurrando a porta de metal enferrujada de um bar minúsculo que eu achei ali. O som abafado de música antiga ecoava de dentro, e um monte de gente jogada em sofás rasgados completava o cenário.

Ashtray

Eu entrei atrás dela, me perguntando onde ela arranjava essas ideias. O lugar parecia saído de um filme noir, com aquele ar de decadência que ela parecia adorar.

— Achei que a gente tava numa viagem de descanso. — Comentei, vendo ela se acomodar numa mesa de canto.

— Descansar é pra quem tem tempo, meu amor. — Ela respondeu, acendendo um cigarro e jogando as pernas em cima da cadeira ao lado, completamente à vontade. — A vida tá aí pra gente meter o louco.

— Certo. Então tu quer meter o louco em um lugar onde ninguém fala nossa língua e a gente não conhece nem o caminho de volta? — Me sentei ao lado dela, observando o movimento ao redor.

Ela riu de novo, jogando a cabeça pra trás.

— Fala sério, amor, que graça teria a vida se a gente fosse normalzinho? — Ela se inclinou pra perto, me olhando com aquele sorriso de canto que me deixava sempre meio desarmado. — Tu sabe que eu sou assim.

Eu me aproximei também, com um sorriso malicioso.

— Sei. E é por isso que tu me dá trabalho o tempo todo.

Ela riu e me puxou pela gola da camiseta, me dando um beijo. Foi daquele jeito que ela sabia fazer, rápido e intenso, mas que me deixava sempre querendo mais.

Lindsay Barret

Beijei ele com vontade, e quando separei nossas bocas, vi que ele tava com aquele sorriso preguiçoso de quem curtiu. Era isso que eu gostava no Ash. Ele resistia, reclamava, mas no final, me acompanhava em todas as merdas.

— Vem cá, tu tá pensando em quê? — Perguntei, cruzando os braços e me encostando na cadeira, o cigarro na ponta dos dedos.

Ele me olhou, com aquele olhar de canto, como se estivesse pensando em mil coisas.

— Tô pensando que, se eu não ficasse te seguindo, tu ia arrumar confusão sozinha. Aí, quem ia te tirar do buraco?

Eu ri, dando de ombros.

— Relaxa, mano. Eu sou autossuficiente. Se eu entrar em encrenca, eu saio. E se não sair, tu me resgata. Equipe dos sonhos, né?

— Você é doida, Lili. — Ele balançou a cabeça, mas eu sabia que ele não tava realmente puto. Ele tava se divertindo com a nossa loucura.

Eu estiquei a mão, puxando ele pela camisa de novo.

— E tu ama essa doida. — Sussurrei, antes de dar mais um beijo nele, sentindo o jeito que ele me puxava mais pra perto.

Ashtray

Ela era impossível, mas era a minha impossível. Tinha um jeito de me fazer esquecer qualquer coisa ao redor quando me beijava assim. Era intensa, debochada, e isso fazia tudo valer a pena. Eu sabia que tava ferrado desde o começo, mas, porra, eu também sabia que não queria outra coisa.

— Tá, tá, para de me usar pra mostrar que tu manda aqui. — Brinquei, me afastando um pouco só pra provocar.

Ela riu, largando a minha camisa e dando mais uma tragada no cigarro.

— Ah, cala a boca. Tu sabe que manda tanto quanto eu, mas gosta de me deixar liderar o show.

Eu não podia negar, então só dei uma risada baixa e voltei a me encostar na cadeira.

O lugar começou a ficar mais cheio conforme o tempo passava. O som das risadas e das conversas abafadas enchia o espaço, mas nada conseguia me tirar do momento com ela. Mesmo naquele canto bagunçado e estranho, tudo fazia sentido.

— O que a gente faz agora? — Perguntei, esperando que ela tivesse mais alguma ideia maluca na manga.

Ela deu de ombros, soprando a fumaça do cigarro.

— A gente curte, Ash. Deixa a vida rolar.

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Beijão 💋

Meu refúgio improvável- AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora