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A casa estava em silêncio, mas era o tipo de silêncio que gritava perigo. A equipe de João fazia a ronda do lado de fora, enquanto dentro, nós esperávamos. Minha mente estava a mil, mas eu mantinha o rosto firme. Não ia demonstrar fraqueza, não agora.

— Acha que eles realmente vão tentar? — Ashtray perguntou, com o tom impaciente, andando de um lado para o outro.

Eu olhei para ele, tentando acalmar meu próprio nervosismo. Por mais que eu estivesse treinada para esse tipo de situação, era diferente quando minha irmã estava na casa.

— Eles não são burros, Ash. Sabem que se vierem, a gente está preparada. — Disse, tentando manter a confiança. — João está lá fora com quinze caras. Ninguém passa sem ele deixar.

— É, mas e se não for só uma ameaça vazia? — Ashtray insistiu, sem conseguir ficar parado. — Eles já estão perto demais, Lili. A gente devia sair daqui, levar a Bella pra um lugar seguro.

Eu respirei fundo, segurando a raiva. Não era medo, mas sim a insistência dele que começava a me irritar.

— Eu não corro, Ash. — Respondi, firme. — Se for pra invadir, que invadam. Não vou mostrar fraqueza agora.

— Isso não é mostrar fraqueza! — Ele retrucou, dando um passo em minha direção, a voz baixa, mas intensa. — É ser inteligente. Eles já ameaçaram, Lili. Não quero te ver pagando o preço por algo que dá pra evitar.

Antes que eu pudesse responder, a porta se abriu com um estrondo. João entrou com o rosto sério, e logo atrás, Fezco, mais quieto do que de costume, mas igualmente atento.

— Eles tão chegando. — João anunciou, sem rodeios. — Pegamos movimento na entrada do bairro. Não sabemos quantos são, mas tá todo mundo em alerta.

— Quantos? — Perguntei, me levantando, o coração disparando, mas mantendo o rosto neutro.

— Não dá pra saber exatamente. — João respondeu, a voz firme. — Mas o suficiente pra termos problemas. A casa tá cercada, Lili.

Ashtray deu um chute no sofá, a frustração estampada no rosto.

— A gente devia ter saído antes, porra!

Eu o ignorei e me virei para João e Fezco.

— E agora? — Perguntei, cruzando os braços. Não ia me abalar, não agora.

— Vamos segurar a casa. Eu tenho os homens posicionados. Se eles tentarem, não vão sair daqui. — João respondeu, confiante.

Fezco, que até então estava quieto, finalmente se manifestou.

— Cê tá com as costas quentes, Lili. Mas esses caras podem querer fazer barulho só pra desestabilizar. Só que... se eles forem loucos o bastante pra tentar, a gente tá pronto. Eu trouxe uns brinquedos no carro. — Ele disse, com aquele sorriso de canto, como se o perigo fosse só mais uma parte do dia dele.

Ashtray olhou pra mim, ainda com aquela mistura de raiva e preocupação.

— Eu fico aqui com você. Se eles entrarem, a gente vai acabar com eles.

Antes que eu pudesse responder, um som alto e abafado veio de fora, algo como um tiro. Meu coração acelerou, mas me forcei a manter a calma.

— Eita porra! — Fezco riu de leve, mas seus olhos estavam mais atentos do que nunca. — Parece que a festa começou.

— João, avisa os caras pra não deixarem ninguém entrar. — Eu ordenei, já andando em direção à janela, olhando as luzes no lado de fora.

Ashtray estava ao meu lado em um segundo.

— Eles querem brincar, amor? Vamos dar o que eles querem. — Ele disse, com um sorriso que não chegava aos olhos. O jeito que ele falava "amor" me dava um tipo de segurança, mas eu sabia que ele estava tão tenso quanto eu.

Outro som. Agora mais próximo.

— Eles já tão na área. — João murmurou, puxando o rádio para dar as ordens.

De repente, a casa ficou ainda mais silenciosa, como se todos prendessem a respiração ao mesmo tempo. Meu coração batia forte, mas meu corpo já estava pronto. O treinamento, os anos lidando com situações assim... era isso que me mantinha firme.

— Vou até o quarto da Bella. — Disse, me afastando de Ashtray. — Não vou deixar ela sozinha.

Ashtray assentiu, mas quando comecei a subir as escadas, ouvi a porta dos fundos se abrir com um estrondo.

— Eles tão aqui! — Alguém gritou do lado de fora.

O som dos tiros começou, ecoando pela casa. Eu corri até o quarto de Bella, que acordou assustada.

— Lili! O que tá acontecendo? — Ela perguntou, com os olhos arregalados.

— Tá tudo bem, pequena. - Eu disse, tentando manter a voz calma enquanto a pegava no colo. — Só precisa ficar quietinha agora, tá?

Ashtray surgiu na porta do quarto, o olhar feroz.

— Eles tão invadindo, Lili. Não é mais ameaça.
Eu olhei para Bella, o coração disparado. Isso era real. E agora, eu precisava fazer uma escolha.

— Vamos segurar isso. — Disse, determinada. —Ninguém vai passar daqui.

João já estava no rádio, dando ordens, enquanto Fezco preparava as defesas.

Ashtray se aproximou, pegando Bella dos meus braços.

— Vou levar ela pro porão. É mais seguro lá.
Eu sabia que era a decisão certa, mas meu corpo queria lutar.

— Cuida dela. — Eu disse, olhando nos olhos dele. — Eu cuido daqui de cima.

Ashtray assentiu, o rosto tenso. Ele sabia que não ia conseguir me convencer a sair.

Ele desapareceu com Bella, e eu me virei para pegar minha arma. Se esses filhos da mãe queriam guerra, era guerra que iam ter.

Os sons de tiros continuavam do lado de fora, mas agora, também estavam dentro. Eles já tinham passado a linha da cerca.

Fezco apareceu ao meu lado, calmamente recarregando sua arma.

— Vamo acabar com essa palhaçada, Lill. — Ele disse, com aquele sorriso de canto, e por um momento, eu quase acreditei que ele tava se divertindo.

— Isso aqui vai ser o fim deles. — Eu respondi, com um sorriso igualmente sombrio. — Eles mexeram com a família errada.

Meu refúgio improvável- AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora