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Tava de boa andando com a Lili pelo shopping. Ela tava com aquele jeitão. A cada loja que a gente passava, ela dava um olhar curioso, e eu só acompanhava, meio calado, mas sempre de olho em quem tava ao redor. Era difícil pra mim desligar completamente.

— Cê quer entrar em alguma loja, amor? — perguntei, ajeitando a camiseta e notando o jeito que ela olhava pra uma vitrine cheia de jaquetas.

— Tô pensando... mas também, vai que eu te quebro no cartão, né? — Ela deu um sorrisinho de canto, provocando.

— Para com isso, sabe que eu pago tudo que você quiser. — Falei, já tirando a carteira do bolso e piscando pra ela.

Ela me olhou de lado, rindo.

— Tá ficando generoso demais, hein. Tô começando a achar que quer me agradar de mais. — Ela me provocou, mas eu sabia que ela tava curtindo.

Antes que a gente entrasse na loja, uma mina, do nada, atravessa o corredor e para na minha frente, toda empinada. Eu nem sabia de onde ela tinha surgido, só vi que ela tava olhando pra mim com uma expressão descarada. A Lili, do meu lado, já tava com a sobrancelha arqueada.

— Ei, você tem Instagram? — a garota perguntou, toda confiante, como se a Lili nem existisse do meu lado. Eu não respondi na hora, só dei uma olhada pra Lili, esperando o que ia vir.

Lili deu dois passos pra frente, cruzando os braços, sem nem piscar.

— Oi, gata, tá cega? — A voz dela saiu baixa, mas com aquela firmeza que só ela tinha. — Não tá vendo que eu tô aqui não? Ou só tá fingindo que não enxerga?

A garota gaguejou, tentando se explicar.

— Ah, desculpa, eu... — ela começou a se enrolar, mas Lili só continuou encarando, implacável.

— Ah, tá desculpada. Agora se manda antes que eu perca a paciência, pode ser? — Lili sorriu, mas era aquele sorriso afiado que só eu sabia o que significava. A mina não perdeu tempo e deu meia-volta, saindo de fininho.

Eu não consegui segurar o riso, e olhei pra Lili com um sorriso.

— Minha marrenta. Sempre botando ordem nas coisas, né? — falei, puxando ela pela cintura.

— Marrenta nada, amor. Só faço o que tem que ser feito. Tem gente que precisa aprender a se situar, só isso. — Ela piscou, agora rindo junto.

— Mas vou te falar, eu curto esse teu lado. — Ajeitei o cabelo dela de leve. — A gente podia era tirar o resto do dia só pra dar uma relaxada, aproveitar o shopping.

— Relaxar nada, Ash, tu ainda vai me levar pra jantar. — Ela sorriu daquele jeito que eu sabia que ela não ia aceitar um "não". — E pode ser num lugar que a gente ainda não foi.

A gente continuou andando, e eu percebi que ela ainda tava meio com a adrenalina da situação. Lili nunca deixava barato, mas ela também não se rebaixava a qualquer nível. Eu gostava disso nela, dessa confiança, da forma como ela sempre mantinha o controle. E, claro, quando eu vi o jeito que ela me olhava, sabia que tava no papo.

O sorriso no rosto dela tava ali, mas eu sabia que aquela mina tinha mexido com algo dentro dela.

— Você sabe que não tem motivo pra ciúmes, né? — Falei, meio sério, enquanto a puxava mais perto de mim, agora com o braço envolto nos ombros dela.

— Ciúmes, eu? — Ela deu uma risada. — Eu só fico irritada com gente desavisada. Mas relaxa, amor, tô de boa. — Ela virou o rosto pra mim, dando um selinho, rápida e certeira. — Agora vamo ver se a gente acha uma loja decente pra eu te quebrar no cartão, do jeito que você prometeu.

Soltei um riso baixo, sabendo que eu mesmo tinha cavado aquele buraco.

— Só tenta não falir a gente de uma vez. — Falei brincando, mas já sacando o cartão.

A gente seguiu em frente, e o clima ficou mais leve de novo.

Meu refúgio improvável- AshtrayOnde histórias criam vida. Descubra agora