19 - Encarando o Espelho

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~Pov Richard~

Acordei com o sol suave iluminando o quarto, a presença silenciosa de Livia ao meu lado. 

Ela estava encolhida sob o cobertor, a respiração leve, quase imperceptível, mas eu sabia que não estava dormindo. Sua mão repousava sobre a minha, os dedos entrelaçados num gesto automático que parecia carregar mais sentimentos do que qualquer palavra que pudéssemos dizer.

- Como está se sentindo? - perguntei, sem me mover muito, tentando não perturbar a tranquilidade que ainda pairava entre nós.

Ela demorou um instante para responder, como se estivesse decidindo se iria se abrir ou se esconder de novo.

- Cansada... - murmurou, a voz rouca, mas não de sono. Era exaustão emocional.

Fiquei a olhando, sem saber ao certo como aliviar aquele peso que ela carregava. Por mais que eu quisesse dizer algo que magicamente apagasse toda a dor, sabia que não havia palavras para isso.

Eu acariciei o dorso da mão dela com o polegar, observando como Campos parecia mais calma naquele momento, mesmo que fosse apenas uma paz temporária.

- Acho que nunca imaginei que seria você quem estaria aqui... - ela disse com um tom que misturava surpresa e gratidão.

- Por quê? - perguntei, tentando não deixar transparecer que aquela afirmação mexia comigo mais do que deveria.

- Porque eu... eu afastei você. Te tratei como lixo e...  - ela fez uma pausa, mordendo o lábio levemente antes de continuar - Achei que talvez você não quisesse estar aqui.

- Livia, eu nunca quis me afastar. - minha voz saiu suave, mas firme - Você precisou de espaço, eu respeitei, mas eu nunca parei de me importar com você.

Ela piscou lentamente, como se estivesse absorvendo o que eu disse, e eu senti uma pequena mudança na expressão dela. Havia uma fragilidade ali, mas também algo a mais. Uma vulnerabilidade que ela raramente deixava transparecer.

- Obrigada... por me ajudar. - ela sussurrou, a voz tão suave que mal pude ouvir.

Eu apenas sorri para ela, sentindo o calor daquele momento tomar conta de mim. Puxei-a para mais perto, onde ela se encaixou sem resistência.

Por um instante, tudo ficou quieto de novo, como se o mundo lá fora pudesse esperar só mais um pouco enquanto nós ficávamos ali, apenas existindo juntos, sem precisar de mais nada além disso.

O momento de tranquilidade não durou muito. Eu olhei para o relógio, e a realidade começou a pesar sobre mim.

Dia de jogo. 

Suspirei, tentando não parecer apressado, mas sabendo que o tempo estava correndo.

- Livia, a gente precisa se arrumar. Hoje tem jogo.. - falei baixinho.

- Ah, merda... - ela murmurou, sentando com rapidez na cama - Minha câmera.

Foi só então que eu lembrei da cena da noite anterior, a câmera dela estraçalhada no chão do apartamento. 

A garota pegou o celular rapidamente e começou a digitar uma mensagem para Fellipe. Eu observei em silêncio, tentando não deixar transparecer o desconforto crescente que sentia.

Assim que enviou o pequeno texto, Livia levantou da cama, e eu observei, com o olhar atento. 

Ela andou devagar até o espelho no canto do guarda roupa, como se não tivesse muita pressa em enfrentar a imagem que veria refletida.

Meu Eterno Camisa 27 | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora