Meu Eterno Camisa 27 | Richard Ríos

49 - Noite Conturbada

~Pov Richard~

Um dia que tinha começado bem, acabou virando um inferno.

Nada parecia dar certo durante o treino. Cada toque na bola parecia fora de ritmo, cada passe era um esforço inválido e, para piorar, o Abel não poupou críticas.

Toda vez que ele levantava a voz, sentia a frustração e a raiva se acumulando. O resto da equipe estava naqueles dias que conseguiam executar tudo com perfeição, o que só aumentou minha irritação.

Eu sabia que era normal ter um treino ruim, mas hoje parecia especialmente catastrófico. A pressão estava nas alturas, e eu não conseguia tirar da cabeça a conversa sobre morar juntos. Eu sei que prometemos ir com calma, mas tudo isso me fez pensar se a Livia realmente confia em mim, se ela se sente bem comigo e se ela quer um futuro ao meu lado.

Quando finalmente terminou o treino, estava tão preso nos meus pensamentos que o silêncio no carro parecia a única coisa que eu poderia oferecer. Não queria descontar meu mau humor na Livia, mas sabia que estava perto de explodir.

Chegamos no meu apartamento, e a morena pareceu perceber que algo estava errado. Ela sempre tinha esse jeito de me ler, mesmo quando eu tentava esconder.

- Rich, tá tudo bem? - ela perguntou, assim que entramos.

A preocupação na voz dela, que normalmente me acalmava, dessa vez só aumentou minha irritação. Estava cansado de me sentir assim, pressionado por tudo e todos. Sem pensar, soltei um suspiro pesado e respondi mais seco do que o necessário.

- Só estou cansado, Livia. Não precisa ficar perguntando isso toda hora. - disse, jogando minha mochila no sofá com força.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Livia ficou parada, surpresa com o tom da minha voz. Vi que eu a tinha magoado, mas naquele momento, não consegui segurar a frustração que me consumia.

- Eu só... queria saber se você estava bem... - ela disse, com a voz mais baixa.

O olhar dela, antes tão cheio de vida, agora parecia abalado, o que só fazia a culpa crescer dentro de mim, mas, ao mesmo tempo, eu não conseguia me conter. Era como se todo o peso do dia tivesse se acumulado e precisasse sair de alguma forma.

- Às vezes parece que você não quer deixar que eu me aproxime, sabe? - as palavras saíram antes que eu pudesse pará-las, e eu vi a surpresa no rosto dela - Só falamos sobre morar juntos uma vez, mas eu sinto que você já ficou desconfortável com a ideia.

Ela olhou para mim, tentando entender de onde aquilo estava vindo.

- Rich, a gente só falou disso uma vez porque... - ela parou, escolhendo as palavras com cuidado - Porque eu achei que a gente tinha concordado em não apressar as coisas. Eu pensei que estávamos na mesma página.

- Eu sei. Só que parece que você não quer nem considerar a possibilidade, só quer achar um "meio termo" e depois fingir que está tudo ok.

Ela deu um passo para trás, cruzando os braços, como se tentasse se proteger das minhas palavras.

- Não é que eu não queira, mas eu preciso de tempo. Essa é uma decisão grande pra mim, Richard. E eu pensei que você entendia isso.

- Talvez eu só não entenda o por quê de você precisar de tanto tempo assim. - resmunguei, ciente de que estava sendo irracional, mas incapaz de parar.

Ela me olhou, e dessa vez, não havia surpresa, mas uma decepção e uma dor profunda.

- Talvez porque eu queria ter certeza de que, quando a gente desse esse passo, seria no momento certo para nós dois. E agora, com você agindo assim, eu... - ela respirou fundo, parecendo lutar contra as lágrimas - Eu não sei mais.