Meu Eterno Camisa 27 | Richard Ríos

53 - Golpe do Café

~Pov Livia~

Depois do episódio emocional com Gaby, a vida voltou ao seu ritmo habitual, ou pelo menos tentava. 

A dor da perda da câmera e a tensão com Richard não desapareceram, mas com o passar dos dias, comecei a encontrar maneiras de lidar com ambos, mesmo que de forma limitada.

Os dias seguintes foram um misto de rotina e pequenas tentativas de recuperação. No trabalho, as coisas seguiam seu curso, com novos desafios e a adaptação ao uso de câmeras emprestadas.

Richard continuava a tentar entrar em contato comigo, mas eu mantive uma distância respeitosa. Era difícil saber o que dizer. Além disso, havia algo de terapêutico na minha escolha de manter o foco no trabalho e na rotina diária.

Meus dias eram dedicados ao CT, onde eu fazia o meu melhor para capturar cada momento sem deixar que o peso dos eventos passados interferisse na qualidade do meu dever como fotógrafa. 

Mas, quando Gaby me chamou para tomar um café, aceitei sem pensar duas vezes.
Precisava de uma distração, de algo que me tirasse desse ciclo de pensamentos. Ela sugeriu uma cafeteria nova no bairro, e parecia uma boa ideia passar um tempo com minha amiga, esquecer um pouco do caos.

Cheguei à cafeteria, um lugar pequeno e aconchegante, com o aroma de café fresco preenchendo o ar. Olhei ao redor, procurando por Gaby, mas o que encontrei me fez congelar por um momento.

Ver Richard sentado lá, me trouxe uma mistura de emoções que tomou conta de mim. A surpresa veio primeiro, seguida pela raiva contida que eu estava tentando manter à distância. Gaby realmente havia me passado uma rasteira ao me trazer até aqui. Ela sabia que eu estava o evitando, mas ainda assim, aqui estava ele, esperando por mim.

Richard se levantou assim que me viu, o olhar preocupado, mas ao mesmo tempo determinado. 

- Livia, por favor, só me escuta.

Respirei fundo, mantendo-me firme, apesar do turbilhão de sentimentos que rodopiava dentro de mim.

- Eu não quero falar com você, Richard. - falei, tentando manter a voz calma - Não agora, pelo menos.

- Eu sei. E sinto muito por aparecer desse jeito, mas eu precisava te ver. Nós precisamos conversar.. - ele parecia genuíno, o que só dificultava mais a situação. Meu coração dizia uma coisa, mas minha mente gritava outra.

Olhei ao redor, percebendo que algumas pessoas nas mesas próximas podiam estar ouvindo nossa conversa. 

- Senta aí, então. - disse, mais como um comando do que um convite.

Ele obedeceu, voltando a se sentar na cadeira de madeira, enquanto eu me acomodava à sua frente. A sensação de resistência em mim era quase palpável, como se um abismo gigante invisível nos separasse.

- Eu sei que você está chateada, Livia. E você tem todo o direito de estar. - ele começou, seus olhos fixos nos meus, sem desviar - Eu fui um idiota. Descontar minhas frustrações em você foi a pior coisa que eu podia ter feito, e sinto muito por isso.

- Foi mesmo, Richard. - respondi, cruzando os braços - Eu estava tentando lidar da melhor forma possível com tudo o que tinhámos conversado naquela manhã, e você simplesmente... você complicou tudo. - ele assentiu, a expressão séria. 

- Eu sei. E eu queria ter percebido isso antes. Eu estava tão preso na minha cabeça, nas minhas inseguranças, que acabei te magoando. Mas, Livia, eu juro, eu quero fazer as coisas certas. Quero ser alguém em quem você pode confiar, especialmente nos momentos difíceis.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo as palavras dele despertarem algo em mim.  

- É difícil, Richard. Eu... eu tô completamente perdida, e não sei como te deixar entrar nesse caos. - ele se inclinou para frente, com uma intensidade no olhar que eu raramente via.