Capítulo 12 - Delação Premiada

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Fernanda

Me sinto bem, talvez um pouco mais feliz.

Assim que chego no hotel largo minhas sandálias e a bolsa em cima da cama e caminho até o banheiro. Ao entrar no cômodo pequeno meus olhos paralisam nos quatros testes de gravides estendidos em cima da pia, engulo em seco ao me recordar que os fiz minutos antes de sair, sem expectativas.

O susto não foi grande, de alguma forma eu já sentia isso. Mas ao ver os dois risquinhos bem visíveis nos quatro testes me faz ter certeza absoluta que tem alguém aqui na minha barriga. Puxo a camiseta pra fora do meu corpo, desço a calça e me olho através do espelho. Não há nada aqui se não um pequeno inchaço, está um pouco estufado mas não existe formato.

Me pergunto se o Tito vai notar quando tivermos a nossa visita, ele é bem observador.

É um bebê, um bebê crescendo em meu ventre, cujo o pai estava preso e não sabe da sua existência.

Não fantasio um mundo perfeito onde ele sai da prisão e iremos ser felizes, não é bem assim. Sobreviver é o meu maior objetivo no momento.

Assim como eu sei que se ele sair da prisão não vai largar o tráfico, também sei que se eu resolvesse ficar com ele, a minha vida não seria um conto de fadas.

Respiro fundo, retorno para o quarto, pego meu celular e disco para a única pessoa que eu sei que iria me dar uma solução pra isso.

— Thamires, tô com problema. — Desabo na cama sentindo a cabeça girar com um milhão de pensamentos.

— Qual é?

— Você tá sozinha?

— Tô, tô aqui em casa, vim almoçar. O que manda?

— Thamires, tô grávida. — Passo a mão no rosto. — Tô grávida do Tito, isso fode tudo.

Ela não diz nada por um longo período de tempo, a linha fica muda e se eu não estivesse ouvindo sua respiração teria dito que desligou na minha cara.

— Quanto tempo?

— Aproximadamente de cinco semanas.

— Ele sabe?

— Não quero atrapalhar nada, Thamires. Se eu contar pra ele, seu foco vai mudar.

— Claro porra, ele foi preso e te deixou buchuda!

— Ele não sabia... Eu não sabia! – Friso. — Eu tomava anticoncepcional.

— E você quer ter esse bebê?

— Não sei. — Me sento agoniada. — Tem tanta coisa envolvida, minha vida tá tão perigosa pra ter um bebê agora.

— Olha só, Fernanda. A escolha é unicamente sua, mas pensa bem beleza? Criança é benção, apesar dos pesares, se veio foi porque Deus quis, ta ligado? Quando o Tito souber não vai ter uma reação diferente da que ele teve com a Mari, é perigoso e tu vai ter que abrir mão de muitas coisas... Mas se tu resolver não ter, é um direito dele como pai saber.

Ele não me perdoaria jamais se eu fizesse sem dizer a ele. Converso um pouco com ela, apesar do nosso início ter sido horrível, ela passou a ser uma mulher bem amigável.

Fiquei na ligação com ela até ela dizer que Helena tinha chegado na casa dela e precisava falar um lance sério, me despedi e fiquei deitada na cama por alguns minutos.

Pensando.

Pensando que não teria coragem para interromper essa gravidez, já é um risco eu ter conseguido engravidar na idade que eu tenho. Penso no dinheiro que vou ter que economizar, nas comidas que vou ter que comprar para me alimentar a mim e o bebê, penso que terei que fazer o enxoval, arranjar madrinha e padrinho e céus..

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