Capítulo 6 - Presídio Federal

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Tito

É segunda-feira e posso ter a certeza de que está de dia quando noto as frestas de luz entrarem pela mini janela no alto da parede. Se completavam nove dias preso dentro de 3 metros quadrados repletos de concreto. Nada além disso.

Já ouvi falar muito sobre Bangu 1 lá fora. Mas estar aqui era diferente. Muitos dos manos que vinham pra cá, se quer tinham acesso ao mundo la fora, Bangu era uma prisão de segurança máxima. Mas isso havia mudado.

Hoje a prisão não passava de um local de trabalho para policiais corruptos que só se importavam com o extra que recebiam dos presos além da mixaria que denominavam de salário.

Durante todos esses dias que estou aqui, não teve um em que eu não acordei no meio da noite, completamente sufocado. É uma sensação inexplicável, sentimento de estar morrendo e logo voltar a vida.

Encosto a testa na divisória de concreto enquanto a água ainda cai sobre minha cabeça. Não demora para o fluxo de água diminuir. Desligo o registro antes que cortem a água e eu fique sem o que beber.

Enrolo na toalha, visto a roupa e calço os chinelos. Estou prestes a sentar no colchonete quando ouço a trinca da porta ser aberta.

Um homem alto se apresenta do lado de fora e pede que eu me vire para que a revista seja feita. Me aproximo dele em seguida, que engole seco e acaba por me entregar o quão nervoso está.

Sou guiado para fora do cubículo, inalo o maximo que consigo do ar aqui fora. É luxo para quem está lá dentro poder respirar direito quando sai, apesar do cheiro de merda.

Quando entro na sala de comunicação a advogada esta ao meu aguardo.

– Bom te ver, doutora. – Cumprimento com um aceno e me sento na cadeira a sua frente, um vidro estava entre nós. – Alguma notícia pra mim?

– Seu julgamento foi antecipado. – Arqueio a sobrancelha, curioso.  – Aparentemente não é muito seguro te manter aqui, e por isso o juíz quer resolver logo o seu caso e arquivá-lo.

– Isso quer dizer que...?

Ela respira fundo antes de dar a resposta.

– Você será transferido pra um presídio federal até o final do mês. – Trinco o maxilar com a revelação. Penso nas complicações que eu teria em um presídio federal, a começar pelo celular, que definitivamente eu não teria acesso.

Inclino meu corpo, apoio meus braços no balcão e observo a mulher de olhos claros mais de perto. Ela é capacitada, uma das melhores advogadas que consegui, trabalha para mim há anos.

– Se aproxima. – Ordeno, trêmula ela se aproxima e eu posso estudar a sua expressão mais de perto, apesar da janela de vidro blindado nos impedir de estar cara a cara. – Quero que avise o Nino da minha situação.

Precisa ter tudo preparado para a minha fuga antes da transferência, não tem como conseguir escapar de um presídio em outro estado.

– Ele já está a par da sua situação, quer preparar tudo para o dia do julgamento. – Escuto ela dizer atentamente em um tom de voz baixo. – Será no dia quinze, daqui dois dias. – Diz olhando ao redor e eu faço o mesmo, todo cuidado é pouco.

– Certo. – Encosto as costas na cadeira. – O que mais tem pra mim?

– A Srta. Marina, ela se recusou a cuidar do dinheiro, não quer colocar a vida do bebê em risco. – Respiro, estou tentando me convencer de que eu já não sabia disso.

– Thamires? – Jogo minha última carta.

– Ela aceitou.

Thamires era de confiança. Já passei por muitas situações com todos, mas minha intuição diz pra ir sempre nela.

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