Capitulo 7 - O Julgamento

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Tito

Completou onze dias que eu estou nesse buraco.

A fuga não deu certo, não tive reação na hora, mas quando eu passei pelas portas desse presídio novamente eu senti raiva. Senti tanta raiva por ter escolhido a Marina e a Fernanda no dia que me deixei ser pego, senti raiva de não ter seguido em frente e metido bala naqueles cuzão do caralho.

Mal entrei aqui no presídio e fui levado até a salinha, foram longas quarenta e oito horas de tortura. A raiva que eu sentia me fez soltar um monte de merda pra cima do diretor. Tava de saco cheio desse caralho. Apanhar, apanhar, apanhar como se não tivesse fim.

Não soube que dia era quando fui largado na minha cela. Esfrego o rosto sentindo o sangue pintar a minha palma, o chuveiro é ligado e trato de me arrastar até o fluxo de água e me sentar no chão, deixando que a água fria levasse todo o sangue pelo ralo. Eu estava no fundo do poço cara. Ir pra a federal seria meu fim, não tinha condições de manter as paradas aqui fora lá de dentro. Bagulho é vinte vezes mais rígido que aqui, acredito que rechear a mão de um dos PM não será missão fácil, precisaria conhecer os caras antes de planejar qualquer coisa.

– Sr. José Antônio Boffim. Pode-se dizer que Guilherme Torres, hoje sentando no banco dos réus, é responsável pela obtenção da carga de entorpecentes que foi apreendida no dia seis de março de 2024? – Perco os meus pensamentos ao ouvir a menção do meu nome, observo o delegado que me investiga há um bom tempo fitar o juíz com afirmação. — Sim. As minhas investigações compravam que Guilherme Torres é o chefe de uma facção chamada terceiro comando puro, portanto, é o mandante do crime de trafico de entorpecentes. — Fixo meus olhos no cuzão do delegado, que até meses atrás me procurava para criamos um acordo de colaboração com as autoridades.

– Obrigado, senhor delegado. A testemunha está dispensada. – Declara. – Convoco o réu Guilherme Torres para responder a promotoria. – Solto a respiração e me levanto, caminho pelo curto espaço até a cadeira vazia em frente o juiz. – Guilherme Torres, preso em oito de março de dois mil e vinte quatro. Hoje está aqui sendo julgado por tráfico de entorpecentes, uso e aquisição de armas de fogos e munições de uso ilegal, lavagem de dinheiro, sequestro e cárcere de privado de Fernanda Campos Araújo. – Me sento na cadeira levantando o olhar para encarar o juiz ao ouvir a menção do nome da Fernanda. – O réu assume esses crimes? Olho para o banco dos testemunhas, em busca dela. Helena havia me avisado de última hora que ela foi convocada a participar do julgamento, no entanto, não vi seu rosto em lugar algum dentro do júri. Retorno o olhar até o juíz em silêncio, vejo pela maneira que franze a testa que se cansou da minha espera a retorna a falar. — Perante ao seu depoimento a sua advogada, o senhor diz ter se associado ao tráfico de drogas entre 2006 e 2008, o senhor confirma isso? — Sim. — Declaro apreensivo ao ouvir a porta do júri ser aberta. Não preciso olhar para trás pra saber que é ela, as batidas frenéticas do meu coração me dá a certeza disso. — O réu afirma ser o responsável pelo contrabando de entorpecentes avaliados em 3 mil toneladas?

Não respondo.

— No dia sete de março o senhor foi pego em flagrante com um automóvel que carregava setecentos quilos de entorpecentes, o réu tem alguma alegação sobre o fato? — Não. — Omito a verdade, desvio meu olhar por um instante e encontro os olhos apreensivos da minha morena.

Ela estava sentada no banco das testemunhas, junto aos outros investigadores que iriam tentar de alguma forma, me incriminar. Ela não me olha, permanece quieta olhando para o advogado.

— Sendo assim, o réu mantém a declaração de inocência para todos os crimes cometidos? — Até que prove o contrário, sim.

— O réu está dispensado. — Faz pouco caso, me levanto e sou levado de volta para o banco. Não tiro os olhos da Fernanda que ao me ver levantar, não consegue não olhar em meus olhos, as íris escuras estavam tomadas pelas lágrimas, meu peito se aperta com a necessidade de ir até ela.

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