Capítulo 5 - Ligação

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Fernanda

Larguei às chaves no aparador assim que cruzei o hall do apartamento. Percorro meus olhos pelo cômodo em busca de Vívian, mas não encontro ninguém além da minha mãe preparando o almoço na cozinha.

Está cabisbaixa. 

– Oi. – Digo baixinho, jogo minha bolsa no sofá da sala e então atraio a sua atenção. 

– Fernanda... – Suspira aliviada. – Onde você estava, filha? Sua irmã disse que você saiu cedo correndo.

– Precisava espairecer um pouco. – Me sento no sofá da sala, a sensação é de tirar um peso gigantesco das minhas costas ao sentir o conforto do estofado. 

– Está tudo bem mesmo, Fernanda? – Insiste em saber com um olhar cansado, viro a cabeça na sua direção.

Não mãe, não está nada bem. Uma facção está atrás de mim, Wendell em especial. O que faz com que a minha desconfiança sobre ele só aumente. Tito está sofrendo em um presídio, não tem direito nem mesmo de sair da cela e isso estava me matando por dentro. Eu sinto um aperto sem fim no peito toda vez que penso nele. Por fim ainda tem a polícia, tentando me incriminar, ou de certa forma, me usar.

– Estou bem. – Finalizo a frase com um meio sorriso. – Vou tomar um banho, licença. – Apoio nos joelhos para levantar.

São nove e meia, o dia mal havia começado e eu não estava me aguentando em pé. Procuro refúgio no banho, permito que a água quente deslize pela minha cabeça e molhe meus cabelos.

Há algo no Wendell que me intriga, a sua mudança de personalidade desde que o Tito foi em cana, o comportamento agressivo e o uso excessivo de drogas, até então eu não o colocaria  em um patamar de desconfiança, mas de um tempo pra cá, eu desconfiava até da minha própria sombra.

Após o banho me dirijo ao quarto. Com o computador nas mãos e a cabeça repleta de pensamentos perturbadores, início minha pesquisa. 

Bangú 1.

Na internet não se fala com muitos detalhes sobre o lugar.

Permaneço por alguns minutos na busca, minutos em que meus pensamentos não saiam do Tito. Sinto que eu iria enlouquecer se não ocupasse a minha mente.

Eu realmente estava pronta? Não. Eu não estava.

Mas estou disposta a tentar, tentar me encaixar novamente na minha própria vida. Não posso ter duas vidas, não posso ser a mulher de traficante e a filha perfeita dos pais. Quando estou com ele, não raciocínio direito. Estar com ele me faz tomar decisões compulsivas e por um momento eu esqueço dos meus deveres.  Então sim, estou disposta a me dar um tempo. Disposta a ser novamente a mulher forte e guerreira que eu era antes dessa merda toda e não essa mulher que acorda e passa o dia inteiro na cama chorando e se culpando por não ter feito mais por ele. Precisava de um tempo e ele também

Ambos precisamos tomar o controle de nossas vidas mais do que nunca.

Guardo minha saudade no peito e pego o celular no bolso, decidida a dar um fim nesse sofrimento todo, pelo menos por um tempo.

O telefone chama por alguns segundos.

– O que manda, Fernanda? – Thamires atende.

– Preciso falar com o Tito.

– Fê... – Tenta negar.

– Eu preciso falar com ele, Thamires. Se ele não quer me ver, tudo bem. – Não. Não estava nada bem. – Mas eu preciso fechar esse ciclo antes de iniciar outro. Preciso fechar esse ciclo pra poder recomeçar... – Respiro pesadamente.

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