Capitulo 17 - Surpresa!

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Fernanda

Abro meus olhos quando ouço um barulho que parece vir do quarto ao lado, penso estar ouvindo coisa mas em seguida escuto um gemido e me sento abruptamente na cama preocupada.

– Fernanda... – Ouço a voz arrastada de Marina acompanhada de um grunhido alto.

– Ai meu Deus. – Me levanto rápido, olho as horas no celular e percebo que ainda está de madrugada, corro para o quarto ao lado e encontro ela sugando o ar com força, assim que ela nota minha presença tenta dar um sorriso.

– Acho que chegou a hora Fê... – Murmura nervosa.

– Tudo bem. – Sigo até o seu closet, procuro por um vestido leve e um par de chinelos. – Toma. – Coloco o calçado em sua frente e em seguida a ajudo com a roupa.

Coloco as bolsas maternidade uma em cada braço e peço que ela espere no corredor. Desço as escadas correndo e quando os vigias me veem, arregalam os olhos.

– Liga o carro que a Mari tá em trabalho de parto. – Grito colocando as bolsas no porta malas. – Ah, e alguém ajuda ela a descer a escada, por favor.

Enquanto eles fazem o que eu pedi, subo rapidamente para trocar de roupa e jogar uma água no rosto. Aproveito para escovar os dentes brevemente.

Desço as escadas novamente telefonando para Emily.

– Oi Emily, aqui é a Fernanda. A Mari está em trabalho de parto, estamos indo para o hospital.

– Olá Fernanda, que notícia boa... Estou a caminho. – Ela encerra a ligação.

Xingo mentalmente quando a ligação que tento realizar para Binho cai na caixa postal. Insisto e ligo novamente.

– Ele não atende né. – Ela pergunta ofegante.

– Ele vai atender, Mari.

– Me dá aqui. – Pede e eu não penso duas vezes em entregar o celular a ela.

Em alguns segundos posso ouvir alguém do outro lado.

– Alô? – Franzo o cenho ao ouvir uma voz feminina.

Ela não se surpreende, afasta o telefone do ouvido para ter certeza de que eu havia ligado para o número certo, mas logo retorna ao ouvido.

– Alô, posso falar com o Binho?

– Olha, a gente tá meio ocupado agora... ele tá no banho. Quer deixar recado?

– Quero sim. Avisa a ele que a filha dele tá nascendo. Mas que ele não precisa ter pressa. Boa noite. – Encerra a ligação.

Não penso em dizer nada sobre isso, apenas pego o telefone e trato de avisar o máximo de pessoas possível de que a nossa pequena Luiza estava prestes a vir ao mundo.

[...]

Não demora muito para chegarmos na maternidade, logo que chegamos tivemos que assinar alguns papéis e aguardar na recepção até o enfermeiro descer para levar nós três até o quarto. 

— Tá tudo bem? Quer uma água? — Dentinho oferece, ela nega acariciando a barriga. 

— Senhorita Torres? — Viro a minha cabeça ao ouvir a voz do enfermeiro. — Pode me acompanhar? — Ela concorda, entrego a bolsa da Luiza e a mala de rodinhas da Mari para o Dentinho e ofereço a mão a para ajuda–la a caminhar até o elevador.

Às dores não estavam insuportáveis ainda, mas eu podia ver pela sua expressão que ela estava incomodada, nervosa e bem impaciente. Seguimos em silencio até o elevador, logo estamos entrando no quarto onde ela ficaria até ir para a sala onde o parto aconteceria.  O enfermeiro explica que iríamos ficar aqui e logo uma enfermeira iria vir para a avaliação clínica. 

— Você não quer se sentar? — Observo ela arrumando as suas coisas na pequena cômoda do quarto, ela nega.  Troco olhares com o Dentinho, ele da de ombros mas se mantém perto dela para caso alguma contração ocorra. 

— Não é muito cedo? — Ela pergunta de repente. — Eu só tô com trinta e cinco semanas, não é cedo? Ela pode ter alguma problema de saúde e..

— Mari. — Me aproximo, para a acalmar. — A Lu está bem, vai ocorrer tudo bem. Ela já está aí dentro pronta para sair, o que são duas semanas? — Sorrio a confortando.

— Se eu não conseguir cuidar dela Fernanda, ela é prematura e eu não tenho qualquer experiência e.. — O choro vem, respiro fundo e a trago para um abraço de lado garantindo que iria ficar tudo bem com ela e com o bebê. 

Alguns minutos mais tarde a sua médica chega junto da enfermeira, a sua obstetra faz o exame do toque e checa a dilatação após o exame clínico. 

— Você está com dois centímetros de dilatação. — Explica. — Pode demorar em torno de seis a oito horas para chegar em quatro ou cinco centímetros, nesse tempo você pode descansar para se preparar para o trabalho de parto, que vai por mim... será sofrido. – Brinca.

– Obrigada doutora. Estou me sentindo melhor. – Mari ri em meio ao desespero.

[...]

Algumas horas mais tarde, Mari finalizava seus cachos enquanto cantarolava algum pagode baixo em frente ao espelho.

Deixo o quarto para falar com Dentinho que me esperava do lado de fora.

– O que aconteceu? Por que não entrou?

– Tive que chegar lá na favela. A mina não avisou o Binho. – Como eu imaginava. – Me entrega um café. – Ele já tá chegando.

– Tudo bem, e o Tito?

– No caminho. Fagner está seguindo eles pelo GPS e disse que estão passando por Mato Grosso.

– Me mantém atualizada. – Peço abrindo a porta e ele vem atrás de mim.

– Trouxe suco pra você. – Gabi o olha pelo reflexo do espelho e agradece dando um longo gole no suco. – Tudo isso pra que em? – Ele pergunta enquanto se joga bem a vontade no sofá.

A porta do quarto é aberta logo em seguida. Binho entra no quarto e uma nuvem negra parece se formar em cima de nós. Me afasto lentamente, bato na perna do Dentinho para que ele se afaste e me sento ao lado dele.

– Eai, como tu tá? – Fala sem jeito com ela.

– Tô bem... ela ainda está aqui. – Fala acariciando a barriga.

Ele concorda, olha ao redor e coloca as mãos no bolso.

– Posso ficar aqui. Se tu quiser...

– Por mim. – Da de ombros fazendo pouco caso e logo torna a beber o suco novamente.

Ele fica.

Ele finalmente ficou por ela.

E por vontade própria.

[...]

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