Capítulo 21

242 27 7
                                    

𝓐𝓷𝓪 𝓕𝓵𝓪́𝓿𝓲𝓪

  ... - 𝗘𝘂 𝗮𝗰𝗵𝗼 𝗾𝘂𝗲 𝗲𝘀𝘁𝗮𝗺𝗼𝘀 𝘀𝗼𝘇𝗶𝗻𝗵𝗼𝘀.

  Eu assenti olhando em volta e comecei a pensar no que ia acontecer aqui, será que era o que eu tava pensando?! 

  - Dá pra gente ir pro terraço, já que não tem ninguém aqui. 

  A minha quebra de expectativa foi altíssima, mais uma vez minha mente me levando a pensamentos impuros.. Gustavo não me deu o tempo de falar nada, simplesmente pegou minha mão e me puxou pela biblioteca.

  Não demorou muito e já estávamos sentados no terraço.

  - Ok, pode ir falando. - Mandou Gustavo, enquanto se apoiava nos cotovelos meio deitado pra trás.

  - Falar o quê? - Perguntei confusa.

  - Sobre o seu irmão e toda aquela confusão, se quiser, claro. - Lembrou, me olhando com cuidado.

  - Ah.. - Desviei o olhar para a floresta que estava a nossa frente.

  - Talvez a gente possa começar com algo mais leve. - Sugeriu e eu voltei pra ele. - Os seus pais? 

  - Os meus pais não sabem nem da metade das coisas que eu já passei, dos choros abafados, das decepções vividas e as dores guardadas em cada sorriso meu. - Expliquei sentindo o olhar do Gustavo sobre mim.

  - É.. eu entendo isso. - Comentou desviando o olhar.

  - E se a gente começar por você? - Me aproximei. 

  - Por mim? - Sorriu confuso.

  - Qual foi o motivo da briga com a sua mãe? - Perguntei e o Gustavo jogou a cabeça pra trás com um sorriso.

  - Ela apenas falou o habitual, só que dessa vez eu respondi e ela odiou isso. - Respondeu e eu continuei encarando ele, esperando mais informações. - Ela costuma me pressionar bastante, nem sempre foi assim. - Olhou pra longe. 

  Eu abaixei o olhar e o Gustavo voltou a falar. 

  - Quando meu pai morreu... - Deu uma pausa. - A minha mãe ficou arrasada e foi péssimo ver o quão mal ela ficou por aquele homem ter saído de nossas vidas. O pior foi quando eu percebi que, por mais horrível que ele fosse, ela amava ele. Ela superou ele.. ou pelo menos ela deixou de demonstrar qualquer coisa sobre ele. Eu tive a típica infância traumática de alguém que teve um pai alcoólatra. - Levantou o rosto pra me encarar com um sorriso falso.

  - Eu lamento muito.. - Falei.

  - E sabe o pior? - Riu nervosamente. - Eu sou obrigado a lembrar dele todo santo dia, porque essa droga de colégio era dele. - Acrescentou.

  - Por que a sua mãe continuou aqui? - Perguntei confusa, levando em conta as informações que eu tinha acabado de receber.

  - Isso é algo que eu nunca vou saber porque ela não fala comigo sobre nada além de estudos. - Contou baixinho. - A morte do meu pai foi o suficiente para acabar com qualquer relação que eu tinha com a minha mãe. Ela se fechou, talvez porque eu a faça lembrar dele. - Respirou fundo. - Ela sempre me dá trabalhos absurdos pra fazer em um dia, no início eu me convenci de que ela só queria o meu bem, mas aí ela começou a reclamar de tudo que eu fazia. Ela falava que eu não estava me esforçando e que eu deveria fazer mais. 

  - A sua mãe parecia ser um amor.. - Comentei.

  - Ela é um amor. - Me corrigiu  com um sorriso. - Ela simplesmente não consegue ser assim comigo. - Falou. - Não mais..

  Depois de algum tempo em silêncio, percebi que era minha vez de falar.

  - O meu irmão morreu de overdose. - Soltei e o Gustavo me olhou em choque. - Ele se drogou muitas vezes, mais vezes do que eu devia ter deixado. Ele sempre prometia que ia parar e, tudo o que eu tinha que fazer pra ele parar era não contar para os nossos pais, eu não contava com a esperança de que ele realmente ia parar. 

  - E os seus pais nunca perceberam nada? - Perguntou ele me olhando com atenção. 

  - Ele sempre foi o filho perfeito e a pessoa perfeita, se eu não tivesse visto ele se drogando e tendo a overdose, com os meus próprios olhos, eu também não acreditaria que ele mexia com drogas. - Expliquei sentindo meus olhos se enchendo de água. - Foi horrível o processo de tentar ajudar ele,  eu estava sozinha e não passava de uma garota de apenas 15 anos. - Deixei algumas lágrimas escaparem. - Na noite que ele teve a overdose, tivemos uma briga feia... 

  *ꜰʟᴀꜱʜʙᴀᴄᴋ*

  - Você não percebe que tudo que faz é se matar lentamente a cada "tudo bem" falso que você diz? - Quase gritei para atrair a atenção do meu irmão. 

  - A dor é o preço de quem vive, se você não quer sofrer, é só morrer. Eu tenho tentado parar de sofrer e você é a única droga que tem me impedido de alcançar a paz. - Se aproximou de mim com ódio.

  - EU TÔ TÃO CANSADA DE VOCÊ! - bati no peito dele com ódio. - Esses têm sido os piores meses da minha vida por sua causa, você devia ter contado pro papai e pra mamãe, ter ido pra clínica, igual eu falei pra você fazer, mas você não quis. Tudo o que está acontecendo é sua culpa e você age como se não fosse nada. Eu não consigo respirar por sua causa, eu não comsigo viver por sua causa, eu preciso que VOCÊ me deixe. - Soltei tudo, completamente exausta.

  - Você quer ajudar todo mundo, mas do que adianta se você não consegue ajudar? - Zombou e eu encarei ele mais enfurecida.

  - VOCÊ NÃO QUERIA RESOLVER TUDO SOZINHO? PARABÉNS, VOCÊ ESTÁ SOZINHO.

  - EU NUNCA PRECISEI DE VOCÊ, TUDO O QUE VOCÊ FEZ FOI ATRAPALHAR. 

  - Vai se fuder! - Soltei com ódio e sai batendo a porta de seu quarto.

  * ꜰʟᴀꜱʜʙᴀᴄᴋ ᴏꜰꜰ *

  - E naquela noite, eu acordei com ambulâncias na minha casa, levando o corpo do meu irmão. - Limpei as lágrimas do meu rosto. 

  - Eu sinto muito, meu amor... 

  - Nem sempre foi ruim assim, nós tinhamos muitas memórias incríveis e ele me ensinou praticamente tudo que eu sei hoje. Eu amava ele e eu espero que ele tenha dado seu último suspiro sabendo o quanto eu o amava. 

  O Gustavo que, agora estava sentado no chão, escutando o meu passado atentamente, me puxou para um abraço. Dessa vez, eu não neguei, eu deixei ele me abraçar e o abracei de volta, afundei meu rosto em seu peito e os seus braços ficaram em volta da minha cintura apertando. 

  Ambos precisávamos disso.

 Continuaaa........

  Vou postar mais alguns hoje, vou tentar resumir ao máximo pra chegar no capítulo que vocês tanto esperaaaam

 Eles tiveram uma conversa mais profunda nesse capítulo

O Colégio Interno - miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora