Capítulo 20

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𝓐𝓷𝓪 𝓕𝓵á𝓿𝓲𝓪

  - Quando você tem 17 anos e é uma garota, você vai ter o mundo todo te falando o que deve fazer com seu próprio corpo. A sua mãe te fala "troca esse vestido", "você está muito magra", "você está muito gorda", "esse vestido é muito curto". A escola te fala "cobre seus ombros" ou "cobre suas pernas", só porque eles não conseguem falar para os garotos se controlarem? E os garotos são a pior parte, eles te falam que você apenas vai ser amada, se parecer impossível... - Despejou Alana com um olhar distante.

  - Mulher, eu só perguntei se tinha trabalho de sociologia... - Lembrei com o olhar assustado, ela é doida.

  Fomos interrompidas por Gaby se sentando ao meu lado, com um sorriso maior que o do coringa. Eu sempre me pergunto se ela não faz propaganda pra colgate.

  - Oi linda. - Cumprimentou Alana, com um sorriso.

  - Eu mandei o machista do Julian a merda. - Contou Gabi animada e eu arregalei os olhos.

  - Ei, não se paga ódio com ódio. - Relembrei ela, com um olhar severo, mas no fundo eu estava orgulhosa.

  - Tem razão, desculpa. - Respondeu desanimada.

  - Se paga ódio com chinelada. - Falei e ela logo me olhou aliviada.

  - Por que estamos sentadas aqui? - Perguntou Gabi e eu a olhei confusa.

  - Porque a gente senta sempre aqui... - Lembrou Alana com um sorriso confuso.

  - É a nossa mesa. - Acrescentei.

  - Não mais. - Levantou Gabi decidida. Ela pegou minha mão e da Alana - A gente vai sentar com o meu namorado. - Avisou animada.

  Eu fiquei animada por um momento também, mas aí eu lembrei que o namoradinho da Gabi é um dos melhores amigos do Gustavo. O idiota que eu tô evitando faz quase duas semanas. 

  O ruim do orgulho é que você nunca sabe se tá te impedindo de ser feliz ou de ser trouxa.

  Eu parei no caminho e Gabi quase deu com a cara no chão, se não fosse Alana segurar ela, ela tinha caído. Gabi se virou e me encarou com os olhos arregalados.

  - Oxi, por que você parou? - Perguntou confusa.

  - Eu acabei de me lembrar que eu tenho uma aula de Matemática. - Menti soltando a mão, cheia de anéis, da Gabi.

  - Mas a gente não tem mais aula hoje... - Lembrou Alana.

  - Na verdade, eu tenho que estudar Matemática na biblioteca, sabem como é né?! Preciso de nota nas provas. - Sorri amarelo e elas me olharam desconfiadas, mas mesmo assim me deixaram ir. 

[...]

  - Tudo que eu queria era cair na porrada com o arrombadinho que inventou de juntar letra com número na Matemática.. - Sussurrei riscando o resultado da minnha folha, pela décima vez.

  - O resultado tava certo. - Ouvi uma voz atrás de mim.

  Eu me virei para encarar o anjo que me avisou e assim que vi quem era, o meu sorriso se desfez.

  Gustavo.

  - Quer dizes, o resultado tava certo, mas o resto da conta parece a segunda Guerra Mundial. - Explicou com um sorriso e eu amassei a folha com ódio.

  Me levantei da cadeira e tentei sair, mas o Gustavo me puxou pela cintura.

  - Eu não falo com pobres. - Usei o sarcasmo e ele riu.

  - Nossa, eu ia te dar meu único um real.. - Fez graça e eu revirei os olhos com raiva.

  - Quando você tiver dois reais, aí a gente se fala. - Tentei me soltar das mãos dele, mas foi inútil.

  Gustavo se aproximou de mim, grudando os nossos corpos e me fazendo sentir o seu perfume amadeirado mais uma vez. As suas mãos apertaram a minha cintura e deram uma leve puxada na minha camisa branca, fazendo minha barriga se revirar em voltas frias.

  O seu queixo tocou a ponta do meu nariz e, em seguida, Gustavo me encarou de cima, eu com um olhar ainda mais bravo, tentando ignorar as voltas na minha barriga e ele me olhando com os olhos penetrantes. 

  Só então eu percebi que ele se aproximou tanto para deixar uma estudante, que era estranhamente familiar, passar por nós. Enquanto ele ainda segurava minha cintura, com suas mãos apertadas, eu toquei o seu peito e ele se aproximou da minha orelha. 

  - Me desculpe, eu fui um completo babaca da última vez. Eu tinha acabado de ter uma briga feia com a minha mãe e descontei tudo em você, eu odiei o jeito que a gente ficou naquele dia e o jeito que eu te fiz falar sobre uma coisa que você, obviamente, não se sente bem sobre. - Se desculpou falando baixinho na ponta do meu ouvido.

    Eu desci minha mão, que estava em seu peito, ainda processando o pedido de desculpas dele e só notei o quanto eu havia descido a mão quando a mesma tocou o início de sua calça.

  Retirei a minha mão rapidamente e encarei o Gustavo que esperava uma resposta minha.

  - Tá... eu te perdoo. - Falei simples mas depois abri um sorriso. - Agora fala que não vive sem mim, todos sabemos já! - Joguei o cabelo, convencida.

  Gustavo deu risada enquanto soltava minha cintura e se afasta.

  - Me desculpa. - Pedi também

  - Não foi nada.. - Sorriu e, em seguida, olhou em volta. - Eu acho que estamos sozinhos. - Comentou baixinho. 

   Continua......

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