Capítulo 17

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Ana Flávia

  - Como você não se lembra disso, meu amor? - Perguntou Gustavo frustrado.

  Não se enganem pelo "Meu amor", ele tá me xingando faz uns 30 minutos por eu não entender esse árabe dele.

  Eu tenho certeza que ouvi ele falar italiano enquanto me xingava.

  - Você estudou isso nos anos anteriores. - Me lembrou.

  - Nos anos anteriores, eu dormia o dia todo. - Expliquei. - Eu não tô entendendo nada.. - Choraminguei.

  - Amato padre, sto avendo un attaco di cuore per questa donna. Merda. Cazzo. - Sussurrou Gustavo, surtando.

  - Eu não aguento mais! - Reclamei enfiando o rosto no caderno cheio de letras e números e o Gustavo riu.

  Com a cabeça ainda grudada no meu caderno, eu senti a mão do Gustavo deslizar pelas minhas costas.

  Ele traçou um caminho com os dedos, gentilmente, do meu ombro até a minha cintura, fazendo aquelas voltas frias se animarem no meu estômago. A sua mão quente tocou a minha, que estava na mesa, e eu levantei o meu rosto para encará-lo.

  - Vem.. - Chamou se levantando.

  Eu me ajeitei, confusa, na cadeira e encarei Gustavo que fechava todos os livros e cadernos. Ele arrumou tudo que estava na mesa e depois estendeu a sua mão para mim. Hesitante, eu peguei a sua mão e ele começou a me guiar.

  - Para onde você está me levando? - Perguntei quando senti ele apertar a minha mão.

  - Vamos fazer algumas coisas do tipo "a gente não devia fazer isso". - Respondeu sorrindo para mim de lado e eu devolvi o sorriso, animada.

  O Gustavo continuou me levando pela biblioteca e, só então, eu notei que éramos as últimas pessoas dentro dela. Quando ele parou, eu notei onde estávamos.

  A janela.

  O Gustavo abriu a janela e me deu espaço pra pular e quando pulei, ele me ajudou para que eu não morresse de uma trágica queda, em seguida ele pulou também e fechou a janela.

  Subimos aquela escada e logo estávamos no topo do terraço. Me virei para encarar Gustavo com um sorriso e ele se aproximou.

  - Tem um pouco da tempestade nos seus olhos de anjo, sabia? - Falou me olhando curioso.

  - Ah, por favor, até o diabo teria medo de ver o que eu vi. - Soltei começando a andar pelo terraço.

  Eu caminhei até uma ponta e me sentei ali, observando Gustavo se sentar também.

  - Eu gostou mais do meundo quando ele tá invertido. - Falou Gustavo com um sorriso e eu ri confusa.

  - Você cheirou alguma coisa? - Questionei ainda rindo, Gustavo riu ladino.

  - Deita aqui. - Respondeu dando batidinhas no chão ao seu lado. 

  Deitando na pedra fria eu, inevitavelmente, tive que encarar o céu escuro, cheio de estrelas e com a Lua subindo. Gustavo se deitou ao meu lado e ficamos algum tempo em silêncio encarando o céu.

  - Se você pudesse pintar qualquer coisa no mundo, o que você pintaria? - Perguntei com um sorriso.

  - A minha mãe, eu acho. - Respondeu rindo. - E você? 

  - O céu. - Respondi baixinho.

  - Por que o céu? - Questionou curioso.

  - Não tem arte mais bonita nesse mundo que o céu. Além do mais, eu acredito que o céu foi pintado pelos mais talentosos e desconhecidos artistas, eu admiro a obra deles todos os dias. - Expliquei sentindo o olhar do Gustavo sobre mim.

  Eu encarei ele de volta, ficamos assim, um olhando para o outro. No silêncio da noite, tudo que dava para escutar eram os meus batimentos cardíacos se alinhando com os dele. As nossas mãos e corpos se tocando e aquecendo levemente.

  O olhar dele penetrava o meu enquanto respirávamos em uma leve sincronia. A arte do contato visual. Gustavo subiu a sua mão até o meu rosto e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha. Ele tocou minha bochecha com carinho e eu senti como se as estrelas do céu estivessem dançando sobre a minha pele. 

  Coloquei a minha mão por cima da sua e, por um segundo, fechei os olhos aproveitando aquele momento. Quando abri, me obriguei a sentar e o Gustavo fez o mesmo, me encarando confuso.

  - Vamos? - Sugeri e ele assentiu um pouco decepcionado.

  Logo estávamos nos corredores e fomos obrigados a passar mais uma vez por aquela sala de música. Gustavo, ao notar meu olhar, falou.

  - Eu posso conseguir a chave. 

  - Chave? - Perguntei confusa.

  - Da sala de música. - Respondeu. - Eu consigo notar o jeito que você olha para aquela porta sempre que passamos aqui. Não seria difícil conseguir a chave pra você. - Explicou e eu sorri sem mostrar os dentes, tentando esconder a minha animação.

  Nós nos despedimos assim que ele me deixou na porta do meu dormitório. Eu entrei com um sorriso no rosto e, de repente, fui puxada.   

  Continuaa.....

  Voltei gentee, desculpa ter sumido, estava em semana de provas, mas agora vai voltar tudo ao normal. 

 Tradução da frase que o Gustavo disse em Italiano:

  - Pai amado, eu tô tendo um ataque do coração por causa dessa mulher. Merda. Porra.

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