24- Admissão

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Na manhã de sexta-feira, o clima estava visivelmente mais calmo, mas também muito mais concentrado. A tensão do dia anterior havia se transformado em uma determinação quase palpável. Cada um da equipe parecia estar completamente imerso no treino, com uma frieza e foco que dominavam o ambiente. As meninas estavam extremamente dedicadas, cada movimento executado com precisão e intenção. Dava para sentir a energia no ar, como se todas estivéssemos operando no limite, a mil por hora, motivadas pela vontade inabalável de conquistar o bronze. Ninguém parecia disposta a aceitar outra realidade que não fosse levar essa medalha para casa. Sair de Paris de mãos vazias simplesmente não era uma opção para nós.

Depois de um dia intenso de trabalho fui passear com meu pai que estava, milagrosamente, livre, então ele me chamou para jantar com ele. Eu fiquei feliz, mas com a ideia de não contar o que aconteceu nos últimos dias.

Encontrei meu pai e, ao jantarmos juntos, percebi que a atmosfera era bem diferente daquele dia do café da manhã. Era mais tranquilo, mais íntimo, como se o mundo ao nosso redor tivesse se dissipado, deixando apenas nós dois ali. Aquele momento me fez lembrar das nossas noites de quinta-feira, quando saíamos para jantar em um restaurante favorito ou quando explorávamos juntos algum evento cultural. Aqueles eram os nossos dias, dedicados exclusivamente a nós, pai e filha, e eu senti uma saudade profunda disso nos últimos anos.

Enquanto conversávamos, um sentimento de nostalgia e felicidade invadiu meu coração. Cada risada, cada história compartilhada parecia reforçar a conexão que, apesar de tudo, ainda existia entre nós. Eu estava mais do que certa ao sentir que Paris tinha coisas boas reservadas para mim. Esse jantar não era apenas uma refeição; era um pequeno passo em direção à reconexão, um sinal de que ainda havia espaço para criar novas memórias juntos.

Fomos andando pelas ruas de Paris, estávamos perto da torre então nos sentamos para admirar e só desfrutar da nossa companhia. Estava deitada em seu ombro enquanto ele me passava todo o resumo dos últimos jogos da Itália e eu sorria.

— Filha, você termina a faculdade de música no próximo ano, né?! — Ele pergunta e eu afirmo — O que você vai fazer depois? — Ettore pergunta e eu me sento ficando com a postura tensa. Me senti como uma adolescente quando os pais perguntam sobre qual faculdade ele fará, como vai passar no vestibular, enfim, sensação de medo de ser rejeitada. Não sou mais uma adolescente, mas esse sentimento está muito vivo em mim.

— Honestamente, não sei — Disse meio apreensiva e ele sorriu — Eu não quero mais trabalhar como fisioterapeuta, adorei trabalhar com isso por todo esse tempo, mas não quero viver disso — Elaborei e ele afirmou atento — Mas trabalhar com música também não me parece meu grande sonho, tipo ser cantora e tudo mais, mas acho que trabalhar com outras áreas da música me parece mais ok — Expliquei.

— E a faculdade de música, você vai parar na graduação ou vai se especializar? — Ele pergunta e eu sou de ombros. Nunca pensei nisso.

— Não sei, pode ser uma possibilidade — Expliquei e ele afirmou compreensivo — Agora eu gosto de trabalhar com a internet, ser comunicadora e trabalhar produzindo meus vídeos, fazer live, eu acho legal, mas eu queria algo a mais — Falei e ele sorriu me olhando.

— Parece sua mãe falando assim — Ele diz e eu sorrio — Não sei se você lembra, mas ela tava planejando algumas coisas quando veio a falecer — Ele diz e eu arqueio as sobrancelhas — Ela nunca me contou direito o que era, mas ela tinha muita vontade de ajudar os outros, ela dizia que as vezes queria que todos tivessem as oportunidades que você teve — Ele diz e eu sorrio. Me lembro da minha mãe me ensinar desde cedo meus privilégios, me ensinou a ajudar os outros, ela tinha um coração lindo, agora não sabia que ela tinha planos para de fato tentar ajudar pessoas em maior quantidade.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora