22- Ressaca de Consequências

349 45 24
                                    

No dia seguinte, eu realmente pensei que as coisas não poderiam piorar. Mas, como uma ironia cruel do universo, pioraram. A sensação era a de estar presa em uma ressaca, não daquelas comuns, mas sim uma ressaca psicológica que me consumia por inteiro. Minha cabeça latejava, a dor era intensa, como se eu tivesse passado a noite inteira em claro, bebendo uma garrafa inteira de tequila sozinha. Só que, na verdade, eu não havia tocado em uma gota de álcool. O que me deixou assim foi a enxurrada de lágrimas e os pensamentos repetitivos que me assombraram durante toda a noite. Eu revivi cada momento, cada palavra, cada sensação de traição e decepção, como se estivesse presa em um ciclo que não me deixava descansar. Era uma exaustão emocional que parecia pesar mais do que qualquer ressaca física que eu já tivesse experimentado. Não era o corpo que estava esgotado, mas a alma. A cada respiração, eu sentia o peso do que vivi no dia anterior, e a ideia de enfrentar mais um dia parecia insuportável. Eu só queria desaparecer, me esconder de tudo e de todos, esperando que, de alguma forma, essa dor insuportável se sumisse.

Rafa e Chico estavam preocupados comigo, isso era visível, então garanti que não tinha porque se preocupar, que eu iria ficar bem – mesmo que nem eu acreditasse nisso.

Fomos para o treino e estava tudo tão estranho. Eu estou fria, tentando me concentrar para fazer meu melhor no trabalho, afinal preciso focar, pelo menos agora, mesmo que seja difícil me concentrar com vozes dentro da minha cabeça repetindo uma espécie de "Melhores momentos do dia mais traumatizante de 2024 da Mariê Leone Santana D'este"

— Ei, tá tudo bem? — Júlia pergunta quando eu chego perto dela para ajudar no exercício.

— Aham — Falei tentando transparecer estar bem.

— Quer conversar mais tarde? — Ela pergunta, eu sorrio e afirmo. Voltamos a ficar em silêncio.

Depois do treino eu me sentei para almoçar ao lado de Roberta e Rosamaria. Elas estão quietas e se olhando, consigo vê-las ponderando se deveriam falar algo. Eu as encaro e largo os talheres.

— Falem — Disse e Rosamaria afirmou e deixou Roberta falar.

— O que aconteceu, você tá tão borocoxô — Bertinha diz e eu sorrio pouco.

— Eu sei que vocês podem estar preocupadas, mas podemos conversar sobre mais tarde, eu ainda estou muito confusa, mas eu vou ficar bem! — Falei e elas arquearam as sobrancelhas.

— Tá bom, mais tarde vamos conversar mesmo hein! — Rosa diz e segura minha mão e eu afirmo.

Depois de almoçar voltei para atender mais algumas meninas que iam fazer fisioterapia mais específica. Passei o tempo todo afastando os pensamentos que voltavam à minha cabeça. Quando finalmente me livrei de tudo me arrumei e fui encontrar meu tio e madrinha.

Quando encontrei-os em uma praça abracei Jordane e chorei. Chorei como na noite anterior, chorei como uma criancinha, sem dizer nada, ele apenas me amparou. Lucie ficou acariciando minha cabeça enquanto eu me acalmava.

— Fiorella está noiva da Letizia — Contei entre soluços enquanto secava minhas lágrimas.

— O QUE? — Ambos dizem espantados.

— É... — Falei e expliquei o que havia acontecido, contei tudo. 

Tentei expor todos os sentimentos que eu identificava durante tudo que aconteceu, tudo que aconteceu quando cheguei na Vila, no meu quarto, até os pensamentos mais sombrios que vieram enquanto eu tentava dormir.

Meu tio e minha madrinha eram as segundas pessoas que eu mais me sentia segura para compartilhar, sei que eles me entendem melhor que eu mesma, muitas vezes. Bom, a primeira era a Fiorella. Pensar nisso me dói mas me ampara na mesma intensidade, saber que não estou sozinha para passar por isso é significativo demais. Mas também lembrar que em outras épocas quando algo mexia desse nível comigo era para Fiorella que eu corria me machuca, me corrói lembrar que eu estou assim por causa dela.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora