23- Depois do tormento geralmente vem o sol.

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Voltei as meninas já tinham descido para a quadra, fui correndo para trabalhar, estava muito mais tranquila.

O jogo começou e eu estava mais em paz comigo mesma, então pude focar toda minha energia no (pior) jogo que iríamos enfrentar.

Os Estados Unidos começaram com tudo, abrindo 5 a 0 e demonstrando mais segurança em quadra, como se não sentissem a pressão da semifinal olímpica. No entanto, nossas meninas se recuperaram com um bloqueio eficiente e conseguiram virar o placar, chegando a 19 a 16. As norte-americanas, porém, retomaram o controle do jogo, enfrentaram mais uma tentativa de reação brasileira, mas fecharam o set em 25 a 23.

A partir do momento que as meninas entraram para o segundo set eu fiquei mais agoniada, levei a mão no pescoço e percebi meu colar em mim. Nunca fui supersticiosa, mas fiquei agoniada com isso, tentei afastar o pensamento da minha cabeça. O que foi fácil, porque nós voltamos com tudo para o segundo set, cortando qualquer tentativa de reação da estadunidenses, e fechando o set com 25 a 18.

Mas foi no terceiro set que eu me desesperei! Se alguém me dissesse que era a seleção brasileira jogando no terceiro set, talvez fosse difícil de acreditar. Após uma vitória convincente no segundo set, o time de Zé Roberto praticamente não voltou para a quadra. O bloqueio, que havia garantido 10 pontos nas parciais anteriores, desapareceu completamente. As viradas de bola foram escassas, e a recepção falhou repetidamente. Aproveitando a situação, os Estados Unidos dominaram o set com facilidade, vencendo por 25 a 15. Para o Brasil se manter vivo na partida, seria necessário uma grande força mental. 

Foi nesse momento que eu segurei a mão de Francisco o mais forte que pude, tentei manter minha pose de segurança, de alguém que está ali trabalhando, mas por dentro eu estava em pânico com o que tinha sido aquele set.

Não conseguia respirar direito após o terceiro set, e durante o quarto set inteiro eu sentia uma ansiedade enorme. Tudo tão intenso, ambas seleções correndo para liderar o placar, a gente tentava liderar mas elas estavam tão focadas, tão fortes que era estressante de ver, sabíamos que seria difícil, mas não assim, mas no fim da partida conseguimos abrir a vantagem que nos levaria ao quinto, e último set.

E então fomos para o tão temido quinto set, extremamente competitivo. Duas equipes conscientes que estavam a 15 pontos da tão sonhada final olímpica. Começamos o tie-break bem, mas nos perdemos no meio, voltamos com dificuldade de virar as bolas, uma série de fatores que fez com que as norte-americanas fechassem o placar com 15 a 11. Elas estavam oficialmente na final olímpica.

E em um lapso de segundo tudo parou, o sonho do ouro olímpico havia escorrido por nossas mãos. Eu aperto a mão do Francisco da maneira mais forte possível, sabíamos que tinha tido muito esforço, mas infelizmente não deu no último set, as estadunidenses estavam sabendo aproveitar muito mais nossas falhas.

Quando as meninas terminaram de cumprimentar, claro que estavam todas abaladas, eu queria muito abraçar todas, queria poder voltar no tempo e interromper todas as bolas que as norte-americanas conseguiram pontuar. Algumas meninas começaram a chorar em quadra, um pouco antes de ir para o vestiário com o pessoal da fisioterapia, eu vi Júlia chorando e puxei-a para um abraço, tava todo mundo tentando dar suporte para alguém.

Júlia me abraçou forte e eu retribuí, não sabia o que falar, e eu acho que não tinha o que falar, nada teria capacidade de diminuir a tristeza dela, ou de qualquer uma das meninas. A ruiva se afastou secando suas lágrimas e então eu percebi que eu estava lacrimejando. Roberta se aproximou e me abraçou e eu então chorei. Nunca imaginei que ver elas perderem me doeria tanto, era uma mistura de sentimentos que eu precisava tirar de mim, e quando Roberta me abraçou já chateada, as duas choraram, não consegui me segurar, trocamos palavras de apoio, conseguimos nos recompor e nos separamos. Rafaela me chamou e todos fomos para o vestiário.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora