20- Divisor de águas

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Na manhã seguinte eu estava estranhamente leve, é um dia calmo, afinal amanhã temos jogo. Nossas quartas de final contra a República Dominicana. Treinamos e depois eu acabei saindo com meu tio para passear e aproveitar e ver as quartas de final do vôlei masculino.

— Teu pai já chegou, ele tá reclamando aqui — Jordane diz olhando para o celular quando estamos procurando o mais velho. Eu tenho passe para a área de amigos e familiares, justamente por trabalhar para seleção, mas meu pai e tio não, logo eu vou sentar com eles.

Finalmente nos sentamos com meu pai, e ele está próximo da área de amigos e familiares. Consigo avistar muitos rostos conhecidos, inclusive Júlia, aceno para a ruiva e ela sorri.

Júlia me manda mensagem e pede para eu ir lá ver ela, eu explico e ela reclama.

— Tá rindo para o telefone porque? — Meu tio pergunta e eu olho feio para o mais velho tentando enxergar meu visor.

— Ih qual foi? Tá me estranhando? — Falei e ele riu.

— Tá saindo com alguém da seleção?

— Que? Não! — Menti — Eu tava conversando com a Júlia, besta! — Expliquei.

— Ai, achei que você ia confessar que estava ficando com GG10 — Ele sussurra e eu reviro os olhos. Meu tio deve ter suas desconfianças, mas da minha boca nunca ouviu a verdade.

— Tão falando de que? — Meu pai questiona e senta-se do meu lado esquerdo, me fazendo ficar entre ele e meu tio.

— Sua futura nora! — Jordane diz e eu sinto meu coração parar, minhas entranhas gelarem, meus olhos saltarem e minhas mãos se fecharam apertando a palma com as unhas. Nunca tinha falado algo assim perto de meu pai, não desde que me aproximei dele novamente.

— Quem é? É alguém conhecida? — Ele diz normal e eu fico mais pasma, olho para ele confusa, nem tento esconder.

— Não tem ninguém pai! Só o Jordane criando fanfic.

— Mentira, tem alguém, eu só não sei quem é! — Jordane insiste e meu pai sorri negando. Eu me mantenho quieta, ainda meio pasma como foi natural meu pai perguntando de uma possível pretendente — Na verdade, eu acho que sei, mas a dona Mariê, não está colaborando! — Ele complementa  e eu finjo não ouvi-lo.

Me perdi nessa ideia de que meu pai vai finalmente se dar bem com uma namorada minha, e me passou brevemente o dia que meu pai conheceu Gabriela, na frente daquele café. Percebi meu sorrisinho de canto e fiquei séria imediatamente. Não posso me deixar alimentar esses cenários malucos da minha cabeça, preciso manter o pé no chão.

Ainda iria demorar para começar o jogo, os meninos estavam se aquecendo e então recebo muitas mensagens de Julia.

"Léo, a Roberta mandou falar abre aspas: diz pra tonta da Leone que ela pode entrar aqui com duas pessoas, mesmo que elas não tenham passe" — Ouço o áudio e respondo perguntando se ela tem certeza. Roberta grava outro áudio — "Oi moço, é, deixa eu te perguntar aqui, se alguém tem o passe de que trabalha com a seleção, ela pode entrar com dois acompanhantes, certo?" — Ouço-a conversando em inglês com um homem. O moço responde que sim e ela agradece e o áudio acaba com um "viu, tonta!"

Meu tio ouve junto comigo e sorri, meu pai fica meio inseguro mas vai comigo. Impressionantemente dá certo e eu vou sentar com as meninas, apresento meu pai e meu tio para as meninas que não os conheciam. Sentamos perto da Rosa e Bertinha. Não estavam todas ali, as que eu consegui enxergar estavam lá, Júlia, Ana Cristina, Tainara e Macris – Não sei se as outras estavam, essas foram as que estavam ali próximas então consegui ver.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora