14- Êxtase

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Sábado de manhã sai para tomar café com meu pai, e apenas com ele, queria ter um tempo a sós com ele, nossos últimos meses foram tão perturbados, mas sinto que aos poucos esses machucados estão se curando.

Fomos tomar café em um local próximo à vila. Um momento pai e filha tranquilo. Paris está tão bonita, ensolarada nessa manhã, com uma temperatura gostosa. Coloquei uma saia mid verde estampada e uma blusa branca lisa regata, o colar da minha mãe, cabelo solto e óculos de sol, uma bolsa ecobag e um adidas samba das cores da saia nos pés.

— Bom dia! — Falei abraçando meu pai ao chegar na cafeteria.

— Bom dia pequena! — Ele diz e nós nos sentamos.

— Meu tio ficou muito bicudo por não deixar ele vir? — Eu conheço o Sr. Jordane, sei que ele fez um dramalhão.

— Não, que isso, ele só disse que a gente ia largar ele num país que ele nem se quer conhece a língua — Meu pai responde e nós rimos. 

Conversamos, rimos, nos divertimos como em meses não fazíamos. Na verdade nem se quer lembro a última vez que isso aconteceu. Meu pai chegou até perguntar da minha vida amorosa, mas não sei se eu estou pronta para falar disso com ele, então desconversei e emendei em outro assunto.

— Esse colar é o que sua mãe usava, né?! — Ele diz e eu sorrio afirmando — Seus avós finalmente te deram!

— É, foi antes de eu ir para o Rio, dona Jorsina disse que iria me proteger — Falei sorridente e ele afirmou. Ficamos em silêncio, isso sempre acontecia quando tocávamos no nome da minha mãe — Pai — O chamo, ele parecia estar longe, ele murmura focando em mim — Você acha que minha mãe teria orgulho de mim? — Pergunto e ele franze as sobrancelhas.

— Claro que teria, bambina — Ele diz e eu sorrio.

— É que outro dia eu percebi que daqui um mês vai fazer 12 anos da morte dela, e eu peguei uma das fotos que levei da Itália — Disse e ele me olhou feliz — Nela dizia que ela estaria comigo para tudo, e que a única coisa que ela queria de mim era que eu seguisse meus sonhos e o que eu queria fazer, viver minha vida para mim — Confessei e ele me olhava atento.

— Você acha que não viveu para você? — Ele pergunta e eu dou de ombros.

— Pai, meu último ano foi horrível, eu vivi para alguém que me odiava, eu me afastei de você, e de todos, eu me perdi, mas ultimamente eu tenho achado que nunca fui eu mesma sabe?! — Soltei e bebi meu café.

— Tá falando da sua sexualidade?

— Não. Quer dizer, talvez... Na verdade eu não sei! — Disse confusa e ele juntou as sobrancelhas confuso como eu — É que, eu me apaixonei pela Fisioterapia, isso é verdade, mas lá atrás eu não queria isso, eu queria fazer música, aí a gente teve aquele combinado, e eu fiquei satisfeita. No fim da faculdade eu acabei criando afeto pela profissão, mas continuei querendo fazer faculdade de música. Mas foi aí que eu meio que perdi, porque aconteceu tudo aquilo, e então eu fiquei perdida, me matei para começar a pagar minha faculdade, cai naquela relação, e foi ai que eu me perdi mesmo — Falei tudo meio rápido, porque nem eu sei onde quero chegar — Eu não sei o que quero, eu amo meu canal, eu amo canta, amo produzir meus covers e meus vídeos. Eu amo a fisioterapia também, mas essa rotina que eu tenho na seleção é maluquice, eu tenho adorado essa experiência, mas não sei se é isso que quero na minha vida — Expliquei e ele sorriu.

— Meu amor, sua mãe sempre disse que estaria do seu lado, e eu também, me arrependo de fazer o que fiz lá atrás, eu nunca deveria ter saído do seu lado, mesmo que estivesse confuso — Pela primeira vez eu ouço ele falar disso e não consigo conter as lágrimas preencherem meus olhos.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora