A Resiliência da Alquimia | Gabi Guimarães

13- Bem me quer, mal me quer...

ossos primeiros dias foram tranquilos, tínhamos começado a treinar bem, tínhamos um pouco menos de 10 dias para treinar, estudar e ir lá e dar nosso melhor. Eu e Gabriela estamos quebrando tantas barreiras, afinal não tínhamos espaços fora, eu odiava isso, odiava a ansiedade que me trazia estar tendo que beijar ela pelos cantos, mas o pior era que eu queria estar ali, eu queria beijar ela, eu queria ficar uns minutinhos rindo e compartilhando estresses diários com Gabriela. Me sentia ouvida, e gostava de ouvir ela falar também. Não posso mentir que mesmo que estivéssemos quebrando regras ainda assim estava sendo divertidíssimo ouvir as histórias dela de times e tudo mais, ouvir e ver como ela via as coisas e o mundo, conhecer mais da pessoas Gabi. No mais foi isso que aconteceu nos últimos dias, eu pelo menos não enlouqueci, na verdade estou no meu melhor estado dos últimos meses, isso é inexplicavelmente bom!

Minha relação com o pessoal da equipe tem sido bom, acho que é só estranho ainda cruzar com pessoas que eu conheço de internet pelos corredores da vila. Esses dias passou a Marta por mim enquanto eu andava por aqui, isso é loucura! Agora minhas amizades aqui tem rendido muito, eu estou muito mais próxima da Roberta e Rosamaria, Rosa chegou até a dizer que depois de Paris eu tenho que conhecer e sair com ela e Cristal, no caso sua namorada. Roberta é quase uma irmã, ela me irrita as vezes mas no geral sempre rimos juntas. E ainda tem a Júlia, que todos já me associam a mãe dela. Esses dias até fiz a unha dela especial Olímpiadas. Eu seria muito feliz se essas amizades ultrapassassem as olímpiadas e viessem para a minha vida.

Ah, as meninas não sabem direito o que rola entre eu e Gabi (nem a gente sabe também, mas enfim). Sei que elas desconfiam que isso não ficou só lá no Rio, mas nunca chegaram a questionar ou indagar sobre algo, acho que elas entenderam meus limites.

Bom, mas como nem apenas de lazer vive o trabalhador, temos que nos preparar para o nosso primeiro jogo, que será dia 29 contra o Quênia, estamos tranquilos, e bem otimistas. Ganhamos o sábado e o domingo anterior ao jogo de folgas. Na sexta vai ter a abertura oficial, que eu pelo menos eu finalmente vou poder ver meu pai, minha madrinha e meu tio. Bom, minha madrinha eu já vi, mas ainda assim é muito feliz vê-los todos juntos.

Acho que a coisa que mais está me matando é dar perdido na Rosa e na Roberta. Aquele dia no quarto de Gabriela depois de conversarmos com Carol, combinamos de apenas ela saber, e Rosa e Roberta iriam ficar sabendo só se perguntassem ou vissem enfim, isso tem me matado porque eu gosto muito das duas, e elas tem sido ótimas amigas, isso me deixou meio ansiosa. Mas Gabi tem me acalmado afirmando que elas com certeza tem noção que algo rola, só estão ignorando para não por pressão, gosto de acreditar nisso.

— Alô, Jordane, onde vocês tão? — Perguntei enquanto andava para o lado de fora da vila.

"Olha para a direita" — Ele diz e eu me viro para o lado contrário.

Enxergo meu pai, o ruivo, mais alto que todos ali, com o cabelo baixo, com sua barba por fazer, na sua skin  "férias", com uma camiseta da seleção italiana branca com marmorizado azul, e uma bermuda azul royal, e um adidas branco nos pés. Minha madrinha estava no seus trajes de passeio, mas com uma pitada de torcedora, usa um short alfaiataria de cor crua com uma camiseta azul escuro da França, nos pés um adidas samba bege com detalhes azuis escuro. Meu tio é o mais tranquilo, usa uma bermuda preta e uma camiseta do brasil vintage, que se eu não me engano era do meu avô.

Corri para meu pai, faziam mais de 5 meses que não o via, o abracei simplesmente ignorando as outras duas pessoas ali.

— Que saudade pai! — Falei ainda abraçando ele, me segurei para não chorar em seus braços.

— Que saudade, bambina! — Ele diz nos afastando e fita meu rosto — Você está diferente! — Ele diz com o sotaque super forte e eu rio.

— Eu tô feliz, pai — Confessei e ele sorriu e beijou minha testa.