29- Oh-oh...

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Almocei e caímos na estrada para ir para Itália. Essa decisão foi tomada sem muito planejamento, mas precisava conversar com meu pai, sem muitas interferências. Estava decidida em me mudar de apartamento, aquele lugar me traz muitas memórias, eu estava com essa ideia desde que fui para o Brasil, mas só agora eu decidi, principalmente depois de tudo que rolou com a Fiorella.

— Pai, lembra aquela vez que comentei sobre querer ir morar mais próxima da faculdade? — Perguntei e ele afirmou do meu lado — Então, eu achei que enquanto a gente estivesse no Brasil a gente podia ir vendo um apartamento para mim, e aí quando eu voltar para Itália a gente começa a mudança, e se precisar eu pensei em ficar um tempo em sua casa — Falei meio apreensiva. Não moro mais com meu pai desde que fui para a faculdade, depois de tudo que aconteceu, é meio inevitável não ficar com medo.

— Claro! Posso ver com a Caterina se ela consegue selecionar apartamentos para irmos olhando! — Ela diz e eu afirmo sorrindo — Mas porque você quer se mudar? Você sempre disse que aquele lugar era seu sonho — Ele pergunta e eu engulo seco. Meu pai não sabe de absolutamente nada que aconteceu em Paris, Jordane está dormindo, não tem como me dar suporte para contar a história. Fico pensativa se sou transparente com meu pai ou se omito o que realmente me fez tomar a decisão de deixar o apartamento que planejei com todos os detalhes, assim do nada. Nada que eu inventar vai ser convincente o suficiente para fazê-lo acreditar que o lugar, que sempre disse ser a personificação dos meus sonhos, só não me apetece mais.

Enquanto explicava para meu pai tudo que aconteceu, minhas mãos não paravam de se mexer sobre meu colo, meu pai não reagia verbalmente, e eu nem conseguia olhá-lo, isso tudo só despertou mais ainda minha ansiedade.

No fim da história meu pai tateou meu colo e puxou minha mão, e a segurou firme.

— Eu sinto muito, filha! — Ela diz e dá um beijo na minha mão — Nunca tinha entendido porque no ano passado você tinha se afastado de mim, eu fiquei com medo de ter ido longe demais, agora eu entendo que foi essa tal Letizia, eu sinto muito não estar ao seu lado — Ele diz e eu sorrio.

Depois de tudo que passei, estabelecer esse recomeço com meu pai é crucial, ele é definitivamente a pessoa mais importante da minha vida. Acho que se minha mãe estivesse aqui nada disso teria acontecido, ou teria, e talvez eu tivesse brigado até com ela.

Minha mente tem retumbado cada vez mais, o que Fiorella disse de eu ser uma pessoa "difícil" de amar, sobre aquela história que nunca ter tido amizades de longa duração, e ter isso jogado na minha cara, logo após, ter descoberto que a única amizade que ficou foi porque gostava de mim romanticamente, é demais para mim.

Saber que sua melhor amiga só se reaproximou de você, apenas por querer que você se apaixonasse por ela. Ter tudo isso revirado para mim é perturbante, é agoniante.

Tudo tão alto na minha cabeça, sei que tenho meus defeitos, eu tenho plena consciência dos meus problemas, não tenho problema nenhum em admitir que eu sou uma pessoa difícil de lidar. Sempre fui fechada, quando minha mãe faleceu eu me fechei mais ainda, com tudo o que aconteceu quando me mudei para Itália, tudo mudou tão rápido que eu me fechei demais. Sei de tudo que fiz, já fui uma péssima amiga por isso, já machuquei pessoas que gostavam de mim, mas sempre tentei melhorar quando isso era exposto para mim. Agora colocar o que fiz no passado, como a culpa da onde me meti nos últimos dois anos é tão injusto, mas é inevitável não deixar isso entrar na minha cabeça.

Chegamos na Itália já era final da tarde, estar na casa em que cresci é algo estranho, mas é confortável, é um sentimento de pertencimento gostoso.

Subo para meu quarto, e já desfaço minhas malas, tomo um banho e vou organizar minhas coisas. Meu pai saiu para comprar alguma coisa com Jordane, e eu fiquei para me organizar, e quando eles voltassem Caterina viria para conversarmos.

A Resiliência da Alquimia | Gabi GuimarãesOnde histórias criam vida. Descubra agora