Dreams

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Eduarda Hippler

Parecia que a sombra daquela garota me perseguia. Seus cabelos vermelhos deixavam rastros por cada canto que passava. Todo lugar em que eu estava, ela aparecia, me olhava, dava um sorriso singelo e fingia que nada tinha acontecido. Queria entender o que se passava na cabeça dela. Queria ser minha amiga? Me queria tanto quanto eu queria ela? Era complicado compreender o que sua aura tão misteriosa tinha que me deixava completamente perdida e desnorteada.

Seus olhos brilhavam, sua testa franzia e sua bochecha corava enquanto ria fortemente na companhia de seus amigos. Mais uma vez, nossas turmas compartilhavam o laboratório de informática do nosso colégio. Até um lugar tão grande como aquele parecia apertado para a presença dela.

Em algum momento, eu decorei quase todas suas aulas, principalmente aquelas que tínhamos juntas. Difícil explicar a logística daquele ambiente, mas existiam dois laboratórios na mesma sala, um de notebooks e um de computadores. No primeiro dia de aula, tivemos que escolher nosso lugar para se sentar nele até o fim do ano. Não tinha ideia de que optar pela última fileira do primeiro laboratório, me daria o privilégio de sentir o resquício de seu perfume. Virou parte de mim esperar os piores dias da semana — quarta e sexta-feira, que já não eram mais tão ruins — porque podia observá-la de perto.

Na maioria das vezes, a sala dela chegava mais cedo do que minha turma e ela sempre se sentava no meu campo de visão. Parecia combinado ou friamente calculado.

Meus amigos riam de algo que não entendia e nem ligava, a única coisa que conseguia prestar atenção era nos próximos passos que Sofia daria. Acho que nem eles repararam que mesmo estando ali, divagava no som da risada que ouvia. Poderia ser considerado psicótico?

Ela se levantou e foi ao professor. Acho que iria ao banheiro. Pensei em seguir. Queria fazer isso. Parecia estranho, mas tinha uma sensação de que precisava ir atrás dela. Mesmo tendo medo de parecer estranha.

Segui o meu instinto falho. Perguntei ao professor de Matemática se poderia sair e ele permitiu. Caminhei em passos largos até o banheiro feminino. Só existia uma cabine sendo usada. Era ela. Com certeza era ela. Se não fosse, passaria muita vergonha.

Desde que meus amigos haviam decidido brincar, falando para Sofia que eu queria ficar com ela, nos seguíamos no Instagram. E olhe que foi ela que me seguiu primeiro.

Depois daquele dia, quis me enfiar em um buraco. Juro, fiquei alguns dias fugindo, porque parecia que ela estava em todo canto que eu ia.

Até que começar a ver suas coisas e ficar completamente obcecada. Trocavámos curtidas diárias em stories, — eu era low profile, mas depois que ela me seguiu, sentia a necessidade de postar várias coisas — estava em seus amigos próximos e tudo que tinha direito. Até sua conta privada secreta eu seguia. Querer ficar com ela não era mais uma brincadeira.

Sabia bastante sobre Sofia, que poderia render bons assuntos. De repente, The Weeknd não era mais tão ruim e vencer o sedentarismo para frequentar sua academia também não parecia uma má ideia.

Surgiram várias boas oportunidades de responder aos seus stories, mas deixei todas passar. Não tinha coragem. E ela também não, aparentemente.

Até aquele momento.

Uma estranha e súbita coragem vinda do além invadiu minhas células. Precisava agir de alguma maneira. Era uma desconhecida dose de adrenalina que estava me fazendo ter pensamentos e atitudes inconsequentes. Só se vive uma vez, né? Nem quando bebia me sentia assim.

Entrei em uma das cabines. Na minha cabeça, parecia uma boa estratégia esperar até que ela saísse.

Fiquei em alerta quando ouvi o barulho da descarga. Era o momento. Havia chegado a hora. Abri a minha porta antes de ouvir o trinco da dela. Será que seria estranho se eu esperasse na frente da sua cabine?

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