Rodrick:
Vou te contar uma coisa: se tem uma pessoa nesse mundo que consegue me tirar do sério, essa pessoa é S/n. Desde o primeiro dia que a gente se conheceu, foi implicância total. Ela era aquela garota certinha, sempre com respostas afiadas, cheia de atitude, e eu? Bem, você me conhece. Sempre pronto pra zoar, pra quebrar as regras. Era questão de tempo até a gente entrar em rota de colisão.O problema é que, de alguma forma, a gente estava sempre perto um do outro. Era como se o universo quisesse testar nossos limites. Se eu tava ensaiando com minha banda no intervalo, S/n aparecia por perto com o grupo de debate. Se eu matava aula pra tocar bateria, lá estava ela, estudando em algum canto, e sempre com aquele olhar de julgamento.
A gente discutia por qualquer coisa. Eu provocava, ela respondia, e aquilo virava uma bola de neve. Uma vez, a briga foi tão feia que quase nos suspenderam. Eu saí da sala bufando, e ela? Fingiu que nem se importava, como sempre.
Mas, aí, veio aquela noite.
Era uma dessas festas da escola, e claro que eu fui mais pra causar do que pra dançar ou qualquer coisa do tipo. Achei que ia ser uma noite como qualquer outra, bebendo escondido com os caras e talvez tocando um pouco de música. Mas o destino tinha outros planos.
Eu estava no jardim da escola, longe do barulho da festa, quando vi S/n sentada sozinha num dos bancos. Aquilo era estranho. Ela não era do tipo que ficava sozinha por aí. Me aproximei, não por preocupação, mas porque, sei lá, alguma coisa naquela cena me deixou curioso.
— O que foi? Perdeu o debate pra alguém? — provoquei, como sempre.
Ela me olhou com aquele olhar irritado, mas dessa vez parecia diferente. Ela suspirou, deixando os ombros caírem.
— Se veio pra encher, pode dar o fora, Rodrick. Não tô no clima hoje — respondeu, sem aquela faísca usual.
Aquilo me pegou de surpresa. Ela sempre tinha uma resposta pronta pra me derrubar, mas dessa vez… estava abatida. Sentei ao lado dela, mesmo sem convite. E, pela primeira vez, não pra provocar.
— Tá tudo bem? — perguntei, meio desajeitado. Eu não sou exatamente bom com essa coisa de ser legal, ainda mais com ela.
Ela me encarou, provavelmente surpresa por eu perguntar, e deu um suspiro.
— Não, não tá. Mas duvido que você vá querer ouvir.
— Tenta a sorte. Vai que eu tô de bom humor — falei, cruzando os braços e me recostando no banco, tentando parecer mais relaxado do que realmente estava.
Ela hesitou por uns segundos, mas acabou falando. Me contou sobre umas tretas que estavam rolando com os amigos dela, sobre como se sentia pressionada o tempo todo pra ser perfeita. Aquilo me pegou de surpresa. Nunca tinha imaginado que a “S/n perfeitinha” passava por essas coisas. Ela sempre parecia tão... inabalável.
A gente conversou ali por mais um tempo, e de repente, aquela barreira entre a gente parecia menor. Eu falei sobre as expectativas que meus pais têm sobre mim, e como eu me escondo atrás dessa imagem de "bad boy" pra fugir da pressão.
No meio da conversa, o clima mudou. Não sei como aconteceu, mas quando percebi, a gente estava mais perto. Eu olhei pra ela, e pela primeira vez não com aquela irritação de sempre. Acho que ela percebeu também, porque ficou em silêncio por um tempo.
E aí aconteceu. Sem nem pensar direito, me inclinei e a beijei. Foi rápido, mas intenso. Achei que ela ia me empurrar, gritar, alguma coisa assim, mas não… Ela correspondeu. Quando nos afastamos, ela parecia tão surpresa quanto eu.
— Ok… o que foi isso? — ela perguntou, arqueando a sobrancelha, mas com um leve sorriso no rosto.
Eu dei de ombros, tentando parecer despreocupado, embora meu coração estivesse batendo rápido.
— Sei lá. Acho que a gente estava precisando parar de brigar por um segundo, né?
Ela riu, uma risada de verdade, sem sarcasmo ou ironia. Pela primeira vez, a gente se conectou de verdade, sem provocações, sem aquela fachada de inimigos.
Depois daquela noite, as coisas mudaram. A gente continuou discutindo, claro — nenhum de nós mudou completamente. Mas, por baixo das provocações, tinha algo diferente. A gente começou a se aproximar, a conversar mais, a entender um ao outro.
De inimigos, viramos amigos. E, quem diria, talvez até algo a mais.