S/n:
Eu e Rodrick estávamos juntos há algum tempo, e como sempre, ele tinha aquela postura meio relaxada, meio desleixada, mas era justamente isso que me atraía. Não importava o quão bagunçado ele parecesse, ou o quão despreocupado ele fosse com as coisas, tinha algo nele que me fazia sentir segura... na maior parte do tempo.
Até aquele show.
Rodrick tinha insistido para irmos a uma das bandas de rock underground que ele amava. Ele estava animado, e eu também, até certo ponto. Claro, eu gostava de passar tempo com ele, mas shows sempre traziam à tona um lado dele que eu tentava ignorar. Ele se empolgava, esquecia de tudo à sua volta, e bem... de mim.
Eu deveria estar acostumada, mas naquele dia, foi diferente.
Logo que chegamos ao local, ele estava como sempre: usando sua camiseta rasgada da banda, cabelo desgrenhado, e aquele sorriso despretensioso que parecia dizer: “eu não dou a mínima”. Eu me apoiei nele, tentando entrar na vibe do show, mas quando a música começou a tocar, foi como se eu nem estivesse ali. Ele logo se empolgou com a multidão, balançando a cabeça no ritmo da música, e não demorou muito para que outras pessoas também começassem a notar.
Uma garota, em particular.
Ela não era nada demais, eu sabia disso. Apenas uma fã da banda, provavelmente atraída pelo jeito largado e confiante do Rodrick. Mas, por alguma razão, vê-la se aproximando dele mexeu comigo de um jeito que eu não esperava. Ela sorria, ria das piadas sem graça que ele fazia sobre o show, e Rodrick, claro, nem percebeu o que estava acontecendo. Ele ria com ela, como se eu não estivesse ali, apenas um pouco afastada, observando.
Eu não queria ser aquela pessoa, sabe? Aquela namorada ciumenta que fica irritada só porque alguém está prestando atenção no cara dela. Mas a cada segundo que passava, era como se uma nuvem de raiva começasse a crescer dentro de mim. A garota continuava perto, e Rodrick nem parecia notar. Ele nunca foi do tipo de cara que fazia isso de propósito, mas isso só tornava tudo mais frustrante.
Quando ela colocou a mão no ombro dele, eu vi vermelho.
— Rodrick! — chamei, tentando manter a calma, mas minha voz saiu mais afiada do que eu pretendia. Ele finalmente olhou para mim, aquele sorriso bobo ainda no rosto, sem ter a menor ideia do que estava acontecendo.
— O quê? — Ele gritou de volta por causa do barulho, e foi então que a garota olhou para mim, como se eu fosse a intrusa.
— Você esqueceu que veio comigo ou o quê? — Eu disse, tentando soar brincalhona, mas o ciúme transpareceu.
Rodrick piscou, claramente sem entender.
— O quê? Eu só estava conversando...
— Ah, sei — interrompi, cruzando os braços. — Conversando. Claro.
Ele olhou para a garota e depois de volta para mim, e foi então que caiu a ficha. Rodrick riu, como se a situação fosse uma grande piada, e passou o braço em volta dos meus ombros.
— Relaxa, você sabe que eu tô com você, certo?
Mas eu não estava relaxando.
— Então, talvez pare de agir como se eu fosse invisível, né?
Ele deu de ombros, sem parecer realmente preocupado, o que só me irritou mais. Rodrick nunca levava nada a sério. Ele era o tipo de cara que achava que um sorriso e uma piada resolveriam tudo.
A garota, percebendo a tensão, se afastou, e Rodrick finalmente se virou completamente para mim.
— S/n, sério, você sabe que eu sou todo seu, não precisa ficar assim.
— Eu sei — respondi, tentando parecer tranquila. — Mas às vezes seria bom se você também lembrasse.
Ele me olhou por um segundo, como se estivesse tentando entender, e então, para a minha surpresa, ele sorriu de um jeito mais suave, sem aquela provocação habitual.
— Tá bom, tá bom. Eu posso ser meio distraído, mas você é a única aqui que importa pra mim, e que eu sou seu homem.
Rodrick me puxou para mais perto, e por um segundo, o show, a música, as pessoas ao redor... tudo desapareceu. Só restou nós dois, e a forma como ele olhava para mim, como se finalmente tivesse me visto de verdade.
E naquele momento, percebi que, apesar de tudo, eu não trocaria aquele idiota distraído por nada.
