Rodrick:
Tudo começou com uma detenção idiota, daquelas que eu nunca devia ter pegado. E tudo por causa dela, S/n. Sempre irritante, sempre achando que é a dona da razão. A gente nunca se deu bem. Na verdade, eu mal conseguia ficar no mesmo lugar que ela sem querer rolar os olhos ou soltar algum comentário ácido. E, pelo jeito, o sentimento era totalmente mútuo.Aquela tarde foi diferente. A sala de detenção estava quase vazia. Eu sentei no fundo, como sempre, e S/n sentou o mais longe possível de mim, mas isso não significava muito, já que a sala era pequena. Cada movimento que ela fazia, eu notava. O jeito como ela batia o pé no chão, impaciente. Ou o jeito como ela olhava pela janela, como se tivesse coisas mais importantes para fazer do que estar ali.
— Parabéns, Rodrick. Por sua causa, eu tô aqui — ela disse, a voz cheia de sarcasmo.
Eu me virei na cadeira, encarando-a com uma sobrancelha levantada.
— Meu problema? Você é que começou com aquilo no corredor. Se tivesse ficado na sua, ninguém estaria aqui.
Ela bufou, cruzando os braços.
— Claro, a culpa é minha, porque eu pedi pra você derrubar minhas coisas no chão e fazer piada na frente de todo mundo, né?
— Talvez se você não fosse tão estressada o tempo todo, ninguém riria.
Ela me olhou como se quisesse me matar, e, por um segundo, achei que ela fosse levantar e me socar. A verdade é que S/n sempre soube como me tirar do sério. E, de algum jeito, eu sempre sabia exatamente o que dizer para irritá-la.
O silêncio tomou conta da sala por um tempo, até que o professor saiu para resolver alguma coisa. Era a chance de escapar daquele clima tenso, mas claro que ela não ia deixar barato.
— Você sempre foi assim, sabia? — ela soltou de repente. — Sempre achando que tudo é uma piada.
Eu revirei os olhos.
— E você sempre foi a perfeitinha. Tem que ter um equilíbrio.
Ela me olhou de soslaio, e eu notei algo diferente. Não era raiva. Talvez fosse frustração. Por que isso importava? Não devia importar. S/n era apenas... S/n. Mas algo naquela detenção forçada, naquele silêncio desconfortável, fez a gente falar coisas que nunca diríamos em qualquer outra situação.
— Sabe o que eu acho? — ela disse, olhando diretamente para mim. — Acho que você age assim porque tem medo de que as pessoas não te levem a sério. Então você faz essa pose de "eu não ligo pra nada" porque é mais fácil do que tentar de verdade.
Eu me endireitei na cadeira, cruzando os braços.
— E você? — perguntei, me inclinando pra frente. — Você age toda mandona porque tem medo de que as pessoas vejam que você não tem todas as respostas.
Ela me olhou surpresa, como se eu tivesse acertado um ponto sensível, mas não disse nada. Ficamos apenas nos encarando, como se tivéssemos acabado de descobrir algo sobre o outro que nenhum de nós queria admitir.
O tempo passou devagar, e o silêncio entre nós não era mais tão tenso. De repente, não parecia mais uma briga, mas uma espécie de entendimento silencioso. Era como se, pela primeira vez, eu visse S/n de verdade, sem aquele escudo de sarcasmo que ela usava o tempo todo.
— Não sou tão perfeita assim — ela disse baixinho, quebrando o silêncio.
Eu olhei para ela, surpreso com a vulnerabilidade em sua voz. Nunca tinha visto S/n tão... aberta. E, de algum jeito, aquilo me fez baixar a guarda também.
— E eu nem sempre acho que tudo é uma piada — confessei, quase num sussurro.
Ela me olhou de novo, e dessa vez não havia irritação. Só cansaço. Cansaço de brigar, talvez. Cansaço de fingir que odiava alguém que, no fundo, ela nem conhecia tão bem quanto achava.
Quando a detenção acabou, nós saímos da sala sem dizer nada. Mas, ao invés de ir cada um para o seu lado como de costume, acabamos andando juntos, lado a lado, sem trocar uma palavra. O silêncio entre nós agora era confortável, quase natural.
Antes de nos separarmos, ela parou e me olhou.
— Talvez você não seja tão insuportável assim, Rodrick.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Você também não é tão horrível quanto eu pensava.
Ela sorriu, e foi naquele momento que eu percebi que talvez, só talvez, aquela briga constante que tínhamos... fosse algo mais. Algo que nem eu, nem ela, estávamos prontos para admitir.
Ainda.