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"Todos nós precisamos de alguém que nos ouça."

-R

Nos dias que se seguiram à notícia da viagem para a Tailândia, uma onda de expectativa tomou conta de mim. O pensamento de estar ao lado de Jennie durante o festival das lanternas flutuantes preenchia meu coração de uma alegria intensa. A imagem das lanternas iluminando o céu noturno, refletindo na água e criando uma atmosfera mágica, me fazia sonhar acordada. Porém, à medida que a ansiedade se misturava à empolgação, uma fraqueza incomum começou a me dominar. As dores, inicialmente sutis, se tornaram parte da minha rotina, como um lembrete cruel da batalha que eu ainda estava enfrentando.

As dores não eram constantes, mas apareciam de forma intermitente, como ondas que vão e vêm. Havia momentos em que eu me sentia absolutamente normal, absorvida pelo trabalho e pelas pequenas alegrias do dia a dia. Mas então, em outros momentos, a fraqueza me pegava desprevenida, como uma sombra que se arrastava atrás de mim. Não era apenas um desconforto físico; era uma luta interna. Eu sabia que, por trás da minha fachada de força, o câncer do colo do útero ainda estava presente, fazendo seu trabalho silencioso.

Rami, sempre atenta ao meu bem-estar, percebeu que algo não estava certo. Uma tarde, enquanto estávamos no escritório, ela me lançou um olhar preocupado, seu rosto refletindo a apreensão que eu tentava esconder.

- Rosé, você está bem? - sua voz era suave, mas a intensidade da pergunta a fez soar como um alerta.

Forcei um sorriso, tentando parecer despreocupada.

- Estou ótima! Apenas um pouco cansada do trabalho, você sabe como é. - a mentira escorregou pelos meus lábios, mas a hesitação na minha voz não passou despercebida.

Rami me observou com atenção, mas, por sorte, decidiu não insistir. Eu estava determinada a não ser uma fonte de preocupação para ninguém, especialmente para Jennie. Ela estava tão animada com a viagem e tinha tanto em mente. Não queria que as minhas dores ofuscassem a felicidade dela.

Naquele dia, o trabalho parecia mais pesado do que o normal. Enquanto tentava me concentrar nas tarefas, as dores se tornavam cada vez mais insistentes, surgindo como pontadas agudas que me deixavam distraída. A cada movimento, sentia um cansaço profundo que parecia drenar toda a minha energia. Olhei pela janela, observando as folhas dançando suavemente ao vento, e, por um instante, me perdi na ideia de como seria estar na Tailândia. A luz do sol filtrava-se através das árvores, e a imagem do céu estrelado me envolvia como um abraço.

Quando finalmente cheguei em casa, Jennie já estava na cozinha. O aroma de algo delicioso invadia o ar, e a visão dela, concentrada e sorridente, me fez esquecer as dores por um momento. Ela estava mexendo em uma panela, os cabelos levemente bagunçados, e esse pequeno detalhe me fez sorrir.

- Você está linda - disse, tentando capturar a essência daquele momento especial. Jennie levantou os olhos, e um sorriso iluminou seu rosto.

- Obrigada! Preparei algo especial para nós - respondeu, sua animação contagiante.

Sentamos à mesa, e enquanto jantávamos, a conversa fluiu naturalmente, repleta de risadas e lembranças. Falamos sobre o trabalho, nossos planos para o futuro e, em um momento de leveza, Jennie começou a descrever suas ideias para a viagem.

- Imagine só, as lanternas subindo ao céu! Vamos fazer desejos e tudo mais! - ela disse, seus olhos brilhando com a ideia.

Sorri ao ouvir suas palavras, mesmo sabendo que as dores estavam à espreita, esperando o momento certo para me lembrar da realidade. Mas naquela noite, com Jennie ao meu lado, eu decidi que deixaria as preocupações de lado, mesmo que apenas por algumas horas. Afinal, havia um futuro brilhante me esperando, e eu estava determinada a aproveitá-lo ao máximo, saboreando cada instante ao lado de Jennie.

Operação 10 Desejos - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora