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"Alguns de nós são pálidos, outros brilhantes e outros são coloridos. Mas de vez em quando encontramos alguém que é irradiante, e quando encontramos não a nada que se compare."

-R

O ambiente ao meu redor parecia um borrão. As paredes brancas da sala de quimioterapia eram frias, distantes, e cada vez que eu tentava focar em algo, minha visão ficava turva. Eu estava deitada naquela poltrona acolchoada, com o soro pingando lentamente pelo tubo que ia até minha veia. Uma mistura de desespero e exaustão me envolvia, como uma névoa densa que eu não conseguia dissipar.

Minha cabeça estava pesada. Parecia que meu corpo havia se tornado um campo de batalha, e eu era a soldada cansada, já sem forças para levantar a espada. As dores que vinham com a quimioterapia eram uma coisa, mas o que realmente me consumia era o esgotamento mental. Não havia uma forma simples de explicar o que era estar constantemente em guerra consigo mesma.

Cada gota que entrava em mim me lembrava da fragilidade da minha existência. Senti uma queimação no braço, como se o líquido frio estivesse gelando minhas veias, mas, ao mesmo tempo, tudo dentro de mim estava em chamas. Meu estômago se contorcia, como se algo estivesse se retorcendo de raiva lá dentro. A náusea, sempre presente, nunca dava trégua, e, em alguns dias, parecia que eu mal conseguia respirar de tanto que tudo girava.

Fechei os olhos por um momento, tentando me concentrar apenas na respiração. Jennie havia saído para resolver algumas coisas, mas eu sabia que ela voltaria logo. Só que o tempo parecia se arrastar, e a solidão daquela sala vazia me esmagava. Eu sabia que isso era temporário, que havia um "fim" para esse ciclo de tratamento, mas meu corpo gritava de cansaço. E minha mente... bem, ela também estava em frangalhos.

O mais difícil não era o físico. Não eram as dores musculares que pareciam prender cada movimento, como se meu corpo estivesse sendo lentamente esmagado por dentro. Não era o desconforto constante, a sensação de que meu próprio corpo estava se voltando contra mim. Era o medo. Medo de que, no final, nada disso fosse suficiente. Medo de perder a mim mesma nesse processo.

Eu me perguntava se, algum dia, me sentiria inteira novamente. Olhei para meus braços magros, cobertos de hematomas das inúmeras agulhas, e senti uma onda de desgosto. O reflexo do meu rosto no vidro da janela me devolvia uma imagem pálida, distante, alguém que eu mal reconhecia. Meu cabelo, antes minha maior fonte de vaidade, já estava ralo, caindo mais a cada dia. Sabia que em breve teria que deixá-lo ir de vez, e isso me doía mais do que eu poderia admitir.

Suspirei, sentindo uma pontada no peito. A tristeza era algo que se instalava de forma lenta, mas poderosa. Ela não vinha com barulho, não. Ela era silenciosa, como uma sombra que se arrasta quando você não está prestando atenção. E então, de repente, você se pega afundando. Afundando em pensamentos que nunca quis ter.

"Será que Jennie me verá da mesma forma quando tudo isso acabar?", pensei, quase sem querer.

Eu sabia que ela me amava, mas às vezes, não conseguia evitar essas dúvidas. O que restaria de mim depois dessa batalha? Eu era alguém que estava perdendo o controle de si mesma, e por mais que Jennie fosse meu porto seguro, parte de mim se perguntava se era justo colocar todo esse peso sobre ela.

"Eu deveria ser mais forte", repreendi a mim mesma. "Eu deveria conseguir enfrentar isso sem me sentir assim." Mas a verdade é que, por dentro, eu estava em pedaços.

Eu havia visto Jennie sofrer em silêncio. Ela sempre tentava ser forte para mim, nunca mostrava suas fraquezas, mas eu podia ver nos olhos dela o medo e a dor que ela também carregava. Às vezes, me sentia culpada por ser a causa de todo esse sofrimento. Como se eu tivesse arrastado a pessoa que mais amo para o fundo desse poço junto comigo.

Operação 10 Desejos - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora