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"Às vezes, me pergunto se o cansaço que sinto é mais da alma do que do corpo."

-M

O ar em Seul estava frio e carregado de uma melancolia que parecia combinar com o estado de espírito de Rosé. Ela estava deitada em sua cama, o rosto virado para a janela, onde uma chuva fina caía ininterrupta. As gotas se acumulavam no vidro, formando pequenos rios que escorriam lentamente, refletindo o ritmo arrastado de seus pensamentos. A cidade, que antes parecia vibrante e cheia de vida, agora era apenas um pano de fundo indistinto para as notícias que ela havia recebido.

Seu corpo estava mais frágil do que nunca. A viagem à Tailândia havia sido um sopro de vida, uma fuga da realidade. Lá, ao lado de Jennie, sob o céu repleto de lanternas, Rosé havia sentido um vislumbre do que poderia ser a felicidade. Por um breve momento, o câncer parecia distante, uma sombra quase esquecida. Mas agora, de volta a Seul, a verdade era inescapável. O câncer havia avançado.

Ela se lembrava claramente da conversa com o médico. As paredes brancas e estéreis do consultório, o som abafado do ar-condicionado, e o peso das palavras que caíam como um martelo em sua mente. As expressões graves no rosto do oncologista, as mãos de Jennie segurando as suas com força, como se aquele toque pudesse impedir que tudo desmoronasse.

"Os exames mostram que o câncer se espalhou mais rápido do que esperávamos."

Essas palavras ecoavam em sua cabeça sem parar. Rosé havia lutado tanto, se agarrando à esperança de que poderia superar essa doença. Mas o tumor, silencioso e implacável, estava vencendo.

- O próximo ciclo de quimioterapia será mais intenso - o médico havia explicado. - Precisaremos ser mais agressivos no tratamento.

Ela havia assentido mecanicamente, ouvindo tudo, mas processando pouco. Ao seu lado, Jennie havia feito todas as perguntas difíceis: os efeitos colaterais, as chances de sucesso, as alternativas. Jennie sempre tão prática, tão forte, enquanto por dentro, Rosé sabia que ela estava se despedaçando.

Agora, deitada no escuro, Rosé sentia a dor constante no corpo, como uma presença sempre à espreita, mas o que doía mais era a incerteza. Ela queria tanto acreditar que tudo ficaria bem, mas, no fundo, sabia que o futuro era uma incógnita.

O som da porta do quarto se abrindo suavemente trouxe Rosé de volta ao presente. Jennie entrou, silenciosa, mas mesmo no silêncio, Rosé sentia o peso da exaustão e da preocupação na namorada. Jennie havia passado o dia na empresa, resolvendo pendências que não podiam esperar, mas sua mente estava claramente longe de qualquer reunião. Sem dizer nada, Jennie caminhou até a cama, sentando-se ao lado de Rosé. Seus olhos, que antes brilhavam com tanta vida, agora estavam apagados pela preocupação.

- Como você está se sentindo? - A voz de Jennie era baixa, quase um sussurro, mas cheia de carinho.

Rosé suspirou, virando-se um pouco para encarar Jennie.

- Cansada. Mais cansada do que o normal.

Jennie se inclinou, beijando sua testa com delicadeza, seus lábios quentes contra a pele fria de Rosé. Havia algo naquele gesto - uma ternura, uma promessa silenciosa de que, de alguma forma, elas passariam por isso juntas.

Jennie não disse nada de imediato, apenas apertou a mão de Rosé, segurando-a como se a qualquer momento pudesse perdê-la. O silêncio entre elas era pesado, cheio de palavras não ditas, de sentimentos que pareciam grandes demais para serem colocados em palavras.

Finalmente, Jennie quebrou o silêncio, sua voz firme, mas carregada de emoção.

- Vamos vencer isso, Rosé. Juntas. Não importa o que aconteça.

Operação 10 Desejos - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora