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"O amor é quando duas almas se encontram no silêncio e, mesmo sem palavras, sabem que jamais estarão sozinhas."

-M

Jennie encarava a tela do computador, mas as palavras e números não faziam mais sentido. À sua frente, gráficos de crescimento, relatórios financeiros e projeções intermináveis a encaravam de volta, como se também soubessem que sua mente estava a milhas dali, na cama de hospital de Rosé. Desde que Rosé começou o tratamento contra o câncer, Jennie vinha tentando equilibrar o trabalho e a preocupação constante com a saúde da namorada. Mas, naquela tarde, o peso das responsabilidades e da preocupação era quase insuportável.

Ela sentia uma dor fina no peito, uma espécie de aperto que não se dissipava. Por mais que tentasse se concentrar em um relatório ou responder a um e-mail, os pensamentos intrusivos surgiam, como sombras que se arrastavam para o centro de sua mente. Pensamentos sobre “e se”... e se o tratamento não desse certo, e se Rosé perdesse ainda mais o brilho no olhar, e se... Ela afastou esses pensamentos com uma força quase desesperada, mas sabia que eles sempre voltariam.

Jennie apoiou a testa na palma da mão, sentindo o peso da exaustão mental e emocional. Sua vontade era de deixar tudo e correr para o hospital, mas ela sabia que Rosé a incentivava a continuar com o trabalho, a não abrir mão do que construíram juntas. Sentir-se impotente a corroía por dentro. Ela queria ser a rocha de Rosé, mas, naquele momento, tudo que conseguia ser era uma pessoa exausta, presa em um escritório, lutando para não afundar nos próprios pensamentos sombrios.

De repente, o toque do celular quebrou o silêncio opressor do escritório. Ela pegou o aparelho, reconhecendo o número da mãe na tela. Imediatamente, uma pontada de preocupação se somou à exaustão.

- Oi, mãe. Aconteceu alguma coisa? - perguntou, tentando controlar o tom de voz.

- Calma, Jennie. Está tudo bem, querida - respondeu a mãe em um tom suave, o que já aliviou um pouco o coração de Jennie. - Eu liguei para compartilhar uma notícia boa. Falei com o médico e com os pais de Rosé, e conseguimos uma semana fora do hospital para ela. Rosé vai poder sair para passear e aproveitar algumas coisas diferentes todos os dias. Queríamos muito que ela tivesse essa chance de se animar um pouco, sabe?

Jennie quase não conseguiu segurar o suspiro de alívio que escapou. Sentiu uma onda de emoção e gratidão se misturar ao cansaço, trazendo uma leveza que há tempos não sentia.

- Sério, mãe? - A voz de Jennie falhou, e ela sorriu, como se um fardo tivesse sido tirado de seus ombros. - Isso é maravilhoso... Eu nem sei o que dizer, obrigada por organizar tudo.

- Eu sabia que isso deixaria você feliz. A saúde dela ainda exige cuidados, mas o médico disse que será bom para ela sair, sentir um pouco de liberdade, mesmo que temporária. Vamos fazer o possível para tornar esses dias especiais.

Jennie enxugou uma lágrima que escapou sem ela perceber e respirou fundo, sentindo uma sensação de esperança tomar conta dela.

- Obrigada, mãe. Eu vou aproveitar essa chance para estar ao lado dela e mostrar o quanto tudo isso importa para nós.

Quando a ligação terminou, Jennie se levantou, com uma energia renovada e um brilho no olhar. Pegou suas coisas, decidida a passar na floricultura antes de ir para o hospital. Ela escolheu um buquê com as flores favoritas de Rosé: hortênsias, que sempre a lembravam do sorriso suave e doce da namorada.

Operação 10 Desejos - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora