Capítulo 9: SN

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Estava prestes a colocar o lixo pra fora, quando abro a porta concentrada no meu celular e ouço uma voz familiar me chamar. Paro de repente e a porta acerta minhas costas ao se fechar.

Jin? Como ele me encontrou?

Ele me observa com a cabeça inclinada.

— Precisamos conversar. — ele diz e tenho uma leve sensação do que se trata.

— Ele é... eu sou o pai dele? — fico em silêncio. — Responde Sn, sou ou não?

— Não, você não é. Satisfeito?

— Mas como?! Aquele cara e você...

Ele insiste em contradizer tudo o que eu falo, me sinto nervosa, minhas mãos suam e eu só quero sumir daqui. Olho ao redor pra ver se não tem ninguém por perto e quando me dou conta ele dá um passo em minha direção e se aproxima cada vez mais.

— ...Quer parar de chegar tão perto.

— Por que, tem medo que eu te beije? — sua voz suave me faz arrepiar.

— Não.

— "Não", do tipo sem medo, ou "não", do tipo não quero que você me beije?

As duas alternativas, pode ser?

— Apenas, "não". — a quem eu quero enganar...se ele chegar mais perto eu sou capaz de perder a cabeça.

Tenho a sensação de que ele realmente faria, tento não deixar meu desejo transparecer e o afasto.

— Olha, ele não é seu filho, agora para de me seguir, tá legal? — digo e ele me encara por um momento.

Penso que ele vai fazer mais e mais perguntas ou me pressionar novamente.

— OK.

Ok? Só isso?

Ele deveria estar aliviado. Engravidar tão cedo não estava em meus planos, principalmente com tudo que estava acontecendo a minha volta. Eu realmente não estava preparada, mas também não me arrependo e se precisasse reviver tudo, eu o faria novamente.

— O que está fazendo?

— Esperando você me convidar pra entrar.

— Vai ficar esperando a noite toda.

— Então você também não entra. — ele fala barrando minha entrada.

— Haja paciência. Dá licença, o Jun está me esperando lá em cima.

— Ótimo, vou junto pra conhecer o meu filho.

— Sai da minha frente, por favor.

— Não vai contestar o que eu falei?

— E adianta?

— Vamos, pegue suas coisas. — ele diz abrindo a porta e me puxando pra dentro.

— O quê? Pegar minhas coisas pra quê?

— Vocês vão morar comigo.

— Nem pensar.

— Vocês vão.

— Não, não vamos.

— Ok, vamos deixar o Jun decidir. — ele sorri e continua andando.

Eu estou perdida.

— Tio Jin! — Jun corre ao seu encontro e ele parecem felizes ao se encontrar.

— Oi baixinho, sentiu minha falta?

— Sim, minha mãe também sentiu. — ele diz e eu fico em choque.

— Ela sentiu? — Jin me olha com um sorriso satisfeito no rosto.

— Ele é uma criança, só fala o que vem na mente, não leva a sério!

— Na verdade, ela só não parava de falar que o moço bonito a deixa estressada e que não parava de pensar em você, tio Jin!

— Da próxima vez, diz pra ela que eu também senti saudades. — ele diz e sinto minhas bochechas corando de vergonha.

Dou uma tossida e os dois me encaram.
Maldita genética.

— Yejun, o que acha de você... — ele começa e eu corro a tempo e tapo sua boca.

— O que ele quer dizer, filho, é o que você acha de pegar o seu caderno de desenho pra mostrar pra ele. — sorrio e ele pula feliz, indo buscar no quarto.

— Sn

— Jin...

— Por que fez isso? 

— Acha justo? Eu criei ele, não pode chegar assim e querer levar ele pra sua casa. Não sabe como isso pode o afetar? Tá, eu menti. Ele é seu filho, quero dizer, nosso. Mas isso não significa que pode chegar e virar nossa vida de cabeça pra baixo.

— Por que não me contou? Por que me deixou de fora da vida dele?

— Acha que eu não tentei? Sabe como foi vergonhoso para mim, pensar em argumentos para chegar a uma pessoa que só conheci uma vez, e contar que estava grávida depois de uma única noite que dormimos juntos?

— Não justifica, não foi justo comigo, com você e nem com ele. Eu tinha o direito de saber, de cuidar de você... eu não te deixaria passar por tudo sozinha, nós dois fizemos, a responsabilidade não é só sua.

Yejun aparece com o caderno, enquanto nos entreolhamos. Noto o seu olho marejar, e não consigo evitar me sentir culpada. Sei que nada do que fiz foi justo, mas eu só pensei na nossa segurança. Ele se abaixa acariciando o rosto do Jun, enquanto presta atenção atentamente aos desenhos que Jun mostra com entusiasmo.

— Eu perdi muita coisa, não é? — pergunta, e eu não consigo evitar algumas lágrimas escorrerem.

— Sinto muito. — digo mesmo sabendo que será em vão.

— Você manda muito bem nos desenhos, Jun!

— Olha só! — ele aponta para outro rabisco — Esse é você.

— Uau, até nos rabiscos eu sou um gato! — a voz dele tá chorosa, mas a autoestima não dá trégua. — E quem é esse trio aqui?

— Sou eu, você e a mamãe!

— Ah, amei! Posso ficar com isso? — ele acena que sim e eu vejo ele passar a folha, como se estivesse entregando um tesouro.

— Eu preciso levar ele para a escola, então...

— Eu vou junto.

— Você não precisa...

— Já disse, eu vou junto.

— Jin, eu sinto muito.

— Só vamos pensar em uma forma de contar para ele. Ele também merece saber.

— Eu sei, mas não é fácil.

— Ninguém disse que seria.


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