22. Mommy

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P.O.V. MAYA DELUCA-BISHOP

Eu estava sentada na cama estreita do meu quarto na estação 19, observando Liam enquanto ele se mexia nos meus braços. O relógio na parede marcava pouco depois da meia-noite, e eu sabia que ele já deveria estar dormindo há horas. Mas meu pequeno guerreiro estava lutando contra o sono com toda a sua força, seus olhos piscavam lentamente, quase como se resistisse a cada piscada mais longa.

— Você precisa dormir, probie — murmurei suavemente, embalando-o com cuidado, tentando acalmá-lo.

Ele soltou um pequeno gemido, se mexendo de novo no meu colo, sua pequena mão agarrando meu uniforme com força. Senti meu coração apertar ao perceber o motivo. 

Ele estava sentindo falta de Carina. Era compreensível – normalmente ele adormecia nos braços dela, sempre cercado pelo calor e o conforto que só Carina parecia proporcionar.

E essa noite, Carina estava no quarto de Ruiz. Com nove meses de gravidez, ela precisava de espaço, e o único lugar que oferecia uma cama de casal decente na estação era o quarto dele. 

Todos nós na equipe havíamos concordado que era melhor minha esposa ficar na estação comigo nos plantões, já que a bebê poderia nascer a qualquer momento. Queríamos estar preparadas para qualquer eventualidade. Mas isso significava que Liam, pela primeira vez em muito tempo, estava sem o toque constante dela.

— Eu sei que você sente falta da mamma — continuei, passando a mão gentilmente por sua careca que agora continham os primeiros fios de cabelo — Mas estou aqui, prometo que estou aqui.

Ele olhou para mim, os olhos grandes e cansados fixos nos meus. E então, de repente, ele disse algo que fez meu coração parar por um segundo.

— Mommy!

Fiquei completamente imóvel, o mundo ao meu redor silenciando por um momento enquanto aquelas palavras, tão pequenas e inocentes, ecoavam na minha mente. Até então, ele sempre havia chamado Carina de "mama". 

Eu sabia que, na pequena cabecinha dele, eu provavelmente era uma figura de proteção e conforto, mas nunca imaginei ouvir essa palavra saindo de sua boca. Pelo menos não tão cedo.

— O que você disse, Lilo? — perguntei, minha voz saindo num sussurro suave, quase sem acreditar no que acabara de ouvir.

Ele olhou para mim de novo, seus olhos já meio fechados, e repetiu, desta vez com ainda mais certeza.

— Mommy!

Uma onda de emoção percorreu meu corpo. Não era só uma palavra. Era uma afirmação, um reconhecimento. 

Eu era sua "mommy". Eu era parte da vida dele de uma forma que, até aquele momento, eu nem sabia que ele compreendia. E ouvir isso, naquela pequena palavra simples, me encheu de um amor tão profundo que senti lágrimas brotarem nos meus olhos.

— Oh, meu Deus, Liam... — eu sussurrei, abraçando-o mais apertado, sentindo o calor do seu corpinho contra o meu — Você não tem ideia de como isso me faz feliz!

Ele sorriu, aquele pequeno sorriso sonolento que só ele sabia dar, e afundou a cabeça contra meu peito. Finalmente, o cansaço o venceu, e ele fechou os olhos, respirando de forma lenta e ritmada.

Por um momento, fiquei ali apenas segurando-o, sentindo sua respiração suave contra meu corpo e o peso dele se acomodando em meus braços. Um turbilhão de emoções se agitava dentro de mim. Eu sempre soube que ser mãe significava muito mais do que biologia. 

Carina e eu havíamos decidido juntas construir essa família, e eu sabia que nossa conexão era especial. Mas ouvir Liam me chamar de "mommy" pela primeira vez... Não havia nada que pudesse me preparar para isso.

Eu me levantei com cuidado, ainda segurando ele nos braços, e caminhei até o berço improvisado que havíamos montado no meu quarto da estação. Coloquei-o com delicadeza lá dentro, cobrindo-o com o cobertor macio que minha esposa havia escolhido para ele. 

Ele nem se mexeu, completamente rendido ao sono. Por um instante, fiquei apenas observando-o. 

O pequeno corpo se movendo suavemente enquanto ele respirava, o peito subindo e descendo em um ritmo constante. Eu me inclinei e beijei sua testa.

— Boa noite, carinha.

Fui até a janela do quarto, olhando para o céu noturno. As luzes de Seattle refletiam na escuridão, e um sentimento de paz tomou conta de mim. 

No meio do caos do nosso trabalho, das emergências que nunca paravam, havia esse pequeno espaço de quietude, de amor. E naquele momento, percebi o quanto nossa família estava crescendo – não só em número, mas em profundidade, em amor.

Eu me encostei na parede, cruzando os braços, ainda pensando. Queria correr até o quarto de Theo e contar a Carina, mas ela estava descansando, e eu não queria perturbá-la. 

O cansaço da gravidez a estava deixando exausta, e a última coisa que ela precisava era ser acordada no meio da noite. Então, decidi esperar até a manhã seguinte. Mas, por dentro, eu já sabia que não conseguiria dormir.

Abracei aquela sensação, aquele momento de alegria pura, sabendo que tudo estava exatamente como deveria estar. A vida, com todas as suas surpresas e desafios, continuava a nos proporcionar pequenos momentos de felicidade.

Eu olhei mais uma vez para Liam, que dormia serenamente, e sorri para mim mesma.

Ele me chamou de "mommy".

E isso mudava tudo.


One Shots Marina (PT-BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora