P.O.V. CARINA DELUCA-BISHOP
Finalmente, a casa estava quieta. Depois de uma noite exaustiva, cheia de choros, fraldas e embalos, eu conseguia deitar e sentir o silêncio me envolver como um cobertor suave.
Nina, finalmente vencida pelo cansaço, estava dormindo profundamente no berço adaptado ao lado da nossa cama. Eu podia ouvir sua respiração suave, um som reconfortante depois de horas de inquietação.
Liam também havia dado trabalho hoje. Ele, normalmente tranquilo, parecia sentir toda a tensão do ambiente, como se soubesse que algo não estava bem. Ele não parava de chamar por Maya, querendo sua presença, seu conforto, e meu coração apertava ao tentar acalmá-lo enquanto sentia a ausência dela.
Depois de muitos sussurros, histórias e músicas, ele finalmente cedeu e adormeceu em seu pequeno quarto. E agora, o silêncio, a calmaria tão desejada, tinha caído sobre a casa.
Nina tinha apenas duas semanas, e até então, era uma bebê calma, dormindo bem à noite, algo que me surpreendeu desde o início. Mas não hoje.
Hoje, ela parecia teimar contra o sono como se soubesse que algo estava fora do lugar, algo que perturbava o equilíbrio ao qual começávamos a nos acostumar. A maternidade era, sem dúvida, um desafio constante, mesmo para alguém como eu, que dedicou a vida a estudar e cuidar de crianças e nascimentos.
Mas quando é o seu próprio bebê, tudo é diferente. O peso é outro, e o amor que se sente torna cada pequena dificuldade ainda mais significativa.
Eu suspirei, deixando meus músculos relaxarem contra o travesseiro. O quarto estava escuro, apenas a luz suave do abajur próximo iluminava o berço de Nina e uma parte do quarto. Ela ficaria ali, ao nosso lado, por mais um mês, até que minha esposa terminasse de arrumar o quarto dela.
Maya estava se dedicando tanto a isso, com tanto carinho e atenção aos detalhes. O quarto dela seria perfeito, mas essa perfeição estava levando tempo, algo que sabíamos que ela não tinha muito por causa dos plantões.
Minha mente começou a vagar, já meio adormecida, mas então ouvi o som familiar da porta da frente se abrindo. Maya estava de volta.
Mas algo no som dos passos dela pelo corredor me deixou em alerta. Eram lentos, pesados.
Algo estava errado. E, mesmo antes de vê-la, eu já sabia quem era o fantasma que a acompanhava.
Lane Bishop.
Quando a porta do quarto se abriu lentamente, e eu vi o rosto dela, meu coração apertou. Ela parecia exausta, mas não da forma que o trabalho físico a deixava.
Não era só o cansaço de quem passou horas no plantão. Era aquele outro tipo de cansaço, o emocional, o que vai além da fadiga física e se instala na alma, pesando em seus ombros de uma maneira que apenas eu, talvez, fosse capaz de perceber.
Ela não disse nada. Apenas parou na porta por um momento, como se precisasse de um tempo para respirar antes de entrar completamente no nosso espaço, o único lugar onde ela deveria se sentir segura. Eu sabia que ela estava tentando manter a compostura, mas seu olhar denunciava o turbilhão de emoções.
— Ciao, amore — sussurrei suavemente, tentando não acordar Nina, enquanto me levantava um pouco na cama — Você está bem?
Ela não respondeu de imediato. Seus olhos, normalmente tão cheios de determinação, estavam distantes, como se estivesse lutando para manter o controle.
Finalmente, ela caminhou até a cama, sentando-se na beirada com um suspiro pesado, passando as mãos pelo rosto em um gesto automático de cansaço e frustração.
— Foi um dia longo — ela murmurou, sem olhar para mim.
Sua voz estava baixa, quase fria, mas eu sabia que era uma barreira que ela estava levantando, tentando esconder a dor. Aquela resposta tão vaga e sem emoção me confirmou o que eu já sabia.
Ele tinha voltado a atormentá-la de alguma forma. Sempre era assim.
Sempre que Maya ficava dessa maneira, tão distante, tão presa em si mesma, eu sabia que seu pai estava envolvido. Mesmo à distância, mesmo com os anos de separação, ele ainda conseguia atingir a ela de uma forma que ninguém mais conseguia.
— Lane? — perguntei suavemente, sabendo que ela entenderia que eu não estava perguntando se ele havia aparecido fisicamente, mas se ele estava na cabeça dela, nos pensamentos dela, envenenando tudo ao redor.
Ela suspirou profundamente, balançando a cabeça lentamente, sem me olhar.
— Eu o vi no trabalho hoje — as palavras saíram com um peso enorme, como se cada sílaba fosse uma pedra que ela precisasse empurrar montanha acima.
Minha respiração ficou suspensa por um momento. Eu sabia o quanto isso a afetava, o quanto cada encontro com o pai a deixava abalada. O homem era uma ferida aberta em Maya, uma que parecia nunca cicatrizar, por mais que ela tentasse.
Eu me aproximei dela, colocando uma mão delicada sobre seu ombro, querendo oferecer conforto, mas sabendo que, com ela, às vezes as palavras não eram suficientes.
— Ele te disse algo? — perguntei, mantendo minha voz baixa, tentando não pressioná-la, mas sabendo que ela precisava falar sobre isso.
Maya finalmente se virou para mim, e a tristeza em seus olhos me atingiu como um soco no estômago. Não era só raiva que ela estava sentindo, era a decepção profunda, aquele tipo de dor que vem de alguém que você amou um dia, mas que constantemente te machuca.
— Ele só... Ele só me olhou como se eu ainda fosse aquela garotinha que nunca seria boa o suficiente para ele — sua voz quebrou um pouco, e eu pude ver o quanto aquilo a magoava, mesmo que ela tentasse disfarçar.
Meu coração doeu por ela. Eu queria poder arrancar essa dor, queria protegê-la disso, mas sabia que era algo que só ela podia enfrentar.
— Bambina... — comecei, mas ela me interrompeu com um sorriso triste, balançando a cabeça.
— Eu sei, Carina. Sei que ele não merece um espaço na minha vida agora. Mas... É tão difícil desligar isso!
Ela olhou para Nina no berço, e seus olhos suavizaram um pouco. Eu sabia que ela estava lutando para se reconectar com o presente, com a nossa vida, com a nossa família.
— Olhe para ela, bella — sussurrei, envolvendo meu braço ao redor dela suavemente — Olhe para a vida que construímos. Ele não tem lugar aqui. Isso é nosso. Você é uma mãe maravilhosa, e isso é tudo que importa.
Ela assentiu, ainda silenciosa, mas eu sabia que minhas palavras estavam começando a penetrar aquela muralha que ela tinha erguido ao redor de si.
E ali ficamos, em silêncio, enquanto eu a abraçava com força, segurando-a, prometendo com meu toque que eu estaria ali, para ela e para nossa família, sempre.
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One Shots Marina (PT-BR)
FanfictionColetânea de diversos capítulos únicos. É hora de imaginar como está a vida do nosso casal favorito após a sétima temporada de 'Station 19'.